Indústria cimenteira de Minas utiliza lixo como fonte alternativa de energia

Bruno Moreno - Hoje em Dia
09/02/2015 às 08:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:57
 (Divulgação)

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Enquanto o país vive o receio de racionamento de água e de energia elétrica, algumas iniciativas, que ainda não têm significativa escala industrial, mostram que é possível aproveitar ao máximo toda a cadeia de produção para movimentar a economia. Em Minas Gerais, seis empresas, em nove plantas industriais, utilizam a queima de resíduos como fonte de calor, empregado no processo produtivo do cimento.   A Lafarge, por exemplo, tem três fábricas de cimento em Minas Gerais que utilizam resíduos como fonte de energia. A empresa adota o coprocessamento, que é o uso de um resíduo que não apenas gera caloria com a queima, mas que contribui como matéria-prima no processo. São empregados papéis, borrachas, resíduos oleosos e pneus usados, em substituição aos combustíveis fósseis.   No Brasil, cerca de 13% da energia consumida em cimenteiras é proveniente da queima de combustíveis alternativos, que substituem os combustíveis fósseis.   Na cidade de Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), mais de 2 milhões de pneus são destruídos anualmente pela Lafarge. Se o combustível fóssil tivesse sido utilizado, 352 mil toneladas de dióxido de carbono (CO²) teriam sido emitidos na atmosfera, informou a empresa.   Os pneus utilizados são triturados por uma empresa parceira, a CBL Reciclagem, em Matozinhos e em Nova Iguaçu (RJ). A cada hora são triturados 2 mil pneus, o que dá 10 toneladas.   O uso de pneus triturados pela Lafarge começou em 2004, em Matozinhos, e depois se estendeu para Arcos (2006) e Montes Claros (2012). Cerca de 20% da energia consumida em todas as fábricas da empresa no Brasil são provenientes de combustíveis alternativos.   Já a Votorantim Cimentos, que produz cimentos em Itaú de Minas, informou que utiliza o coprocessamento desde 1991.   Norma ambiental   Mas a situação poderia ser diferente, e as empresas poderiam utilizar o lixo doméstico para alimentar os fornos. Entretanto, em dezembro do ano passado, a legislação ambiental em Minas Gerais foi modificada, e proibiu a queima de lixo doméstico na produção de energia em indústrias. Permite, apenas, o coprocessamento.   Para o diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza (Abrelpe), Carlos Silva Filho, a mudança foi um retrocesso. “Em São Paulo há três cidades com processos de licenciamento ambiental para utilizar o resíduo sólido das cidades para gerar energia”, afirma, ressaltando que a queima não impede a reciclagem.   Sebo de boi e óleo de cozinha viram biodiesel   Não apenas produtos de origem vegetal ou industrial podem voltar à cadeia produtiva. A Petrobras está desenvolvendo pesquisas e produzindo biodiesel a partir de óleo de peixe, de óleo de cozinha e sebo de boi. O crescimento anual é da produção, segundo a empresa, é de 15% ao ano.   O Programa de Aquisição de Óleos e Gorduras Residuais (OGR) recolhe óleo de fritura usado nas cidades e, no meio rural, o sebo bovino. O programa começou em 2009 e já foram comprados mais de 800 mil litros do produto fornecido por cooperativas e associações de catadores em Montes Claros, Candeias (Bahia) e Quixadá (Ceará).   Na produção do óleo de vísceras de peixe já foram processadas 4,55 toneladas, desde o dia 29 de dezembro do ano passado. A projeção da empresa é que até o fim deste ano sejam compradas 130 toneladas dessa matéria-prima de cooperativas de pescadores da cidade de Jaguaribe, no Ceará.   De acordo com a Petrobras, o sebo bovino apresenta vantagens na produção do biodiesel em relação às soluções vegetais, como a mamona e o pinhão manso. Isso porque essa matéria-prima de origem animal apresenta em sua estrutura maior número de cetano, que é um componente que garante melhor ignição do combustível e tem influência direta na partida e funcionamento do motor.   Na composição do diesel que é vendido nas bombas nos postos de combustível, o percentual de biodiesel que é misturado é de 1%. Segundo a empresa, o percentual utilizado em cada mistura de óleos (blend) segue as especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP).   Para o gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Wagner Soares Costa, a utilização de sebo de boi apresenta altos e baixos na cadeia produtiva no país, apesar de ser um produto que pode ser muito bem utilizado por ter altamente energético. O problema é a falta de disponibilidade no mercado, já que falta oferta com continuidade, e isso pode atrapalhar o desenvolvimento das usinas de processamento.

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