Jeitinho pós-recessão: escassez de crédito e clientes faz empreendedor apostar na economia criativa

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
04/09/2018 às 22:19.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:17
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Para se manter no mercado, comerciantes e prestadores de serviço têm abraçado, na marra, o conceito de economia criativa – em que o talento e uma boa dose de “jeitinho” são usados para gerar valor econômico.Dividir o imóvel com um parceiro que ofereça serviço complementar, numa estratégia para ratear despesas e atrair mais clientes, diversificar o mix e até criar produtos são saídas para driblar a crise e garantir lucro em tempos de crédito escasso, desemprego em alta e renda apertada.

“A loja como era antes, sem atrativos além do produto, não existe mais. Quem quer permanecer no mercado precisa oferecer mais do que o cliente pede”, afirma o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva. 

De acordo com ele, o empresário precisa agregar valor ao negócio e ao produto. E aí vale tudo para atrair o consumidor, seja lançando um aplicativo, vendendo por telefone, utilizando as redes sociais ou ampliando o número de produtos comercializados. 

“Se a pessoa tem uma loja de produtos elétricos com um bom espaço, por quê não dividir a área com um eletricista? É necessário encantar o cliente, que está cada vez mais exigente devido à falta de recursos”, explica o representante dos lojistas. 

DIVIDIR PARA CONQUISTAR
A proprietária da loja Inertia, Janaína Cunha, viu na divisão de um espaço no bairro Itapoã a solução para ampliar o faturamento. Há poucos meses, ela, que comercializa roupas e acessórios, convidou a dona de um salão de beleza, Ludmilla Silva, para compartilhar o imóvel. A parceria entre a Inertia e o Espaço Lud foi certeira. 

“Aumentamos o faturamento em 40% porque sempre temos algo de que a pessoa precisa. Se ela vem comprar a roupa, oferecemos uma hidratação, ou unha. Se está fazendo o cabelo, mostramos uma de nossas peças. Criamos uma oportunidade de compra”, afirma Janaína.

Outro ponto crucial para o sucesso do negócio é a redução dos custos. As sócias racham todos os gastos, fazendo com que fique mais fácil arcar com as contas. 
Não à toa, a inovação no segmento já é sentida na economia. Do crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre, o setor de serviços (que também engloba o comércio) registrou alta de 0,6%, conforme o IBGE. E aumentou em 1,4% a geração de empregos formais e informais em relação aos três meses anteriores.</CW> 


Ganhar brincando
Quem também aproveita o espaço para aumentar o lucro e satisfazer o cliente é a proprietária do Ora Bolinhas. Localizado no Santo Antônio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, o estabelecimento é uma mistura de loja de roupas e quintal lúdico, onde são realizados eventos voltados para o mundo infantil. 
De acordo com a proprietária, Martha Lage de Faria, periodicamente ela une no local parceiros da gastronomia e da música. “As crianças brincam, enquanto os pais também se divertem. É um ambiente bastante agradável”, diz. 

Semanalmente, há oficinas de musicalização. Aos fins de semana, ela aluga o local para festas infantis. E, à noite, Martha costuma realizar rodas de conversa. O diferencial? A loja permanece aberta em todos os eventos.

“Mesmo que o evento não seja totalmente voltado à criança, o assunto é o mundo infantil. Isso significa que pais estarão presentes. Sempre realizamos uma venda. Além disso, o aluguel do espaço nos ajuda a pagar o nosso próprio aluguel”, justifica. Como reflexo, em dias de eventos, as vendas são 50% maiores do que nos dias comuns.Maurício Vieira  Taxista Adriano Bicalhofez parcerias com grupos de desapego e busca produtos para consumidores

Taxista ‘faz tudo’ e dona de ‘loja sobre rodas’ ganham clientes

Quem se destacar na crise vai se dar bem melhor no mercado que está se formando, afirma o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Marcio Salvato.

“Durante a crise, as pessoas inovam nos processos e reduzem custos ou desenvolvem estratégias para descolar da concorrência. São elas que deslancham quando o mercado volta ao normal”, diz o especialista.

O taxista Adriano Bicalho é exemplo de quem se desdobra para atrair o cliente. Além das corridas convencionais, ele desenvolveu uma série de ações para sair à frente da concorrência, que é altíssima no segmento em que atua. E deu certo. O faturamento de Bicalho subiu 30%.

Entre as estratégias utilizadas por ele estão as parcerias com grupos de desapego. “As pessoas compram e vendem coisas usadas o tempo todo, mas têm dificuldade de buscar e entregar. E é aí que eu entro. Coloco preço fixo para ficar mais fácil. Se eu puder pegar o produto qualquer hora do dia, é R$ 20. Se tiver horário específico, é R$ 30. Também transporto documentos, tenho cadeirinha para bebês, busco crianças na escola e faço parceria com empresas”, diz. 

Para fechar com chave de ouro, Bicalho dá descontos de até 30% dependendo do trajeto e mima o cliente com água e guloseimas. “É um investimento pequeno, mas com um retorno enorme. Tenho muitos clientes fiéis”, diz. 

Na avaliação do vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo Souza e Silva, Bicalho “encanta” o freguês, que está cada vez mais exigente. Como reflexo, aumenta cada vez mais a base de clientes. 

 Riva Moreira Janaína e Ludmilla, dona de loja de roupas e proprietária de salão de beleza dividem espaço

Quem também faz de tudo para atender bem o público-alvo e fidelizá-lo é Valéria Alves. Ela vende de tudo. E o que não tem, encontra.

“Vendo roupa, bijuteria, perfume, cosméticos e sapatos. E se a cliente quiser algo que não tenho, eu acho e levo para ela em casa também”, garante a comerciante, que transformou o carro em uma loja sobre rodas.

Segundo a comerciante, a ideia é garantir a produção completa aos fregueses. Ao diversificar o mix, ela consegue aumentar, e muito, o faturamento. 
“Com a crise, as clientes pararam de frequentar as lojas, mas eu continuei vendendo bem. Afinal, eu vou ao consumidor”, comemora.


 

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