
A entrega do 30º Prêmio Jovens Cientistas, nesta semana, mostrou a força de jovens que estudam em instituições em Minas. Eles e outros pesquisadores reconhecidos pela iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria com a Fundação Roberto Marinho, relembram que os objetos estudados tiveram origem em ideais comunitários de transformação social e de prestação de serviço à coletividade.
Dentre os jovens cientistas premiados está Bernardo Souza Cordeiro, de 19 anos, de instituição pública, que terminou o curso de Eletrônica no Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec-UFMG). Orientado pelo professor Adriano Borges, ele foi o primeiro colocado na categoria “Estudante do Ensino Médio” ao desenvolver um dispositivo para produção de um defensivo agrícola agroecológico.
Surgiu a oportunidade de trabalhar com um projeto agroecológico IoT (sigla em inglês para ‘internet das coisas’) com um componente para possibilitar substituir os agrotóxicos. “A gente queria que fosse uma alternativa barata. Esse defensivo só precisa de água e sal em um processo eletroquímico”, explica.
Ele explica que o ácido hipocloroso, que tem propriedades antimicrobianas, é obtido por um processo eletroquímico que usa energia elétrica. O protótipo desenvolvido fez parte dos ideais do rapaz de querer colaborar com pequenos produtores rurais.
Mais um motivo de comemoração recente é que ele foi aprovado, no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no curso de Engenharia de Controle e Automação na UFMG. Ele também foi o primeiro da família a ingressar em uma universidade federal.
“Meu pais estão muito orgulhosos. Meu pai não conseguiu completar o quinto ano e minha mãe fez curso técnico de enfermagem”. Os pais não entendem de eletrônica, mas compreendem bem a felicidade do rapaz. Os sorrisos multiplicaram-se.
De multiplicação e sorrisos, o doutorando em física Wenderson Rodrigues também conhece. Estudante da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o rapaz de apenas 30 anos criou sensores e equipamentos para saúde pública, segurança alimentar e monitoramento climático em uma pesquisa que foi premiada como primeiro colocado na categoria para mestres e doutores. Ele foi orientado pelo professor Joaquim Mendes.
Rodrigues recordou que se interessou pelo assunto desde o ensino médio. Ele disse que o trabalho consistiu no desenvolvimento de quatro dispositivos. Entre eles, há um dispositivo de detecção que mostra em uma tela se o paciente está ou não com o vírus. “Essa é uma aplicação na área da saúde pública”, contou.
Outro resultado de suas pesquisas foi na área da segurança alimentar com o desenvolvimento de uma câmara de esterilização baseada em ampolas de mercúrio descartadas da eliminação pública. Ele contextualizou que, com a substituição de lâmpadas de mercúrio por de led, as que foram descartadas podem gerar poluição ambiental.
“A gente resolveu reutilizar, com sucesso, essas lâmpadas para esterilizar objetos e alimentos contaminados com bactérias”.
Ainda nesse combo de inovações, o rapaz criou equipamentos, baseados em materiais alternativos e sensores de baixo preço, com potencial de contribuir para fornecer informações precisas de dados meteorológicos locais para pequenos produtores que trabalham com agricultura familiar. “A ideia foi democratizar o acesso à informação meteorológica”.
Haja orgulho do professor Joaquim Mendes, que acompanha o cientista prodígio desde a iniciação científica. “Ele é um estudante muito empenhado e tem um diferencial muito grande porque ele consegue trabalhar em mais de um problema ao mesmo tempo”.
O professor diz que o trabalho do aluno deve ser ainda mais valorizado pelas dificuldades financeiras que a família atravessou. “Ele conseguiu sair de uma condição humilde e chegou longe. A gente vai ouvir muito falar do Wenderson ainda”, afirmou.
Ciência contra negacionismo
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, valorizou a trajetória e as histórias dos pesquisadores premiados. Ele afirmou que é fundamental incentivar esses jovens nos seus trabalhos.
“Nós temos que considerar esses jovens como faróis para os outros se desenvolverem. São faróis para as pessoas acreditarem que podem sim fazer ciência e tecnologia e serem reconhecidos por isso”.
O prêmio contemplou os ganhadores com computadores, bolsas do CNPq e valores em dinheiro, que variam entre R$ 12 mil e R$ 40 mil.
Confira aqui todos os vencedores desta edição
* Com informações da Agência Brasil
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