Líderes candidatos e seletividade nos protestos marcam o Movimento Brasil Livre

Da Redação
primeiroplano@hojeemdia.com.br
Publicado em 24/11/2016 às 07:37.Atualizado em 15/11/2021 às 21:47.

Passados seis meses do impeachment de Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre, grupo que nasceu “apartidário” e que levou milhares às ruas pela saída da ex-presidente, está mais partidário e seletivo em seus protestos contra corrupção. Vários dos líderes do movimento deixaram de lado as mobilizações e se lançaram candidatos nas últimas eleições por partidos tradicionais, muitos deles envolvidos nos escândalos de corrupção. E, apesar do governo de Michel Temer ser integrado por pessoas e partidos investigados na “Lava Jato”, o MBL descarta novas grandes manifestações.

Nas eleições municipais, o MBL lançou 45 candidatos a prefeito e vereadores em todo o Brasil. Conseguiu eleger oito, quase todos filiados a partidos de direita e envolvidos em escândalos. Um dos eleitos foi o coordenador nacional do movimento, Fernando Holiday, de 20 anos, pelo Democratas. Ele teve mais de 48 mil votos e conquistou uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.

Segundo Holiday, a escolha do DEM se deu pela “liberdade” que encontrou na legenda em manter os ideais liberais defendidos pelo movimento. “Minha eleição significa a resposta das pessoas que foram às ruas na luta pelo impeachment”, afirma.

Ao ser questionado sobre qual seria a próxima grande manifestação contra corrupção, principal bandeira defendida pelo movimento, Holiday foi enfático em dizer que, neste momento, o MBL se concentrará em pautas pontuais, que serão movimentadas principalmente pelas redes sociais.

“Será muito difícil termos novas grandes manifestações. Naquele momento, tínhamos um objetivo específico, que era tirar do poder uma presidente que mergulhou o país em uma crise”, diz.

Em imagem de dezembro de 2015, Fernando Holiday, kim kataguiri, e outros coordenadores do MBL posaram para foto ao lado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então presidente da Câmara Federal. O ex-deputado, réu na operação “Lava Jato” e atualmente preso em Curitiba, foi poupado nos protestos do grupo. As grandes manifestações de rua também cessaram após a posse de Michel Temer (PMDB).

O coordenador do MBL na Paraíba, Luis Felipe Nunes (DEM), 22, candidato derrotado à vereador em Campina Grande, justifica que o movimento precisa de fatos políticos para se respaldar e que o Brasil está em um momento de indefinição, que não necessita de grandes eventos contra a corrupção. “Não vamos ficar dando tiro no escuro, precisamos de atos que nos deem respaldo”, afirma.

Predileção
Outro discurso defendido pelos militantes do movimento que escolheram se filiar a partidos políticos é o sentimento anti-esquerda e anti-PT. “Você não vai ver um membro do MBL filiado ao PT ou a partidos de esquerda. A não ser que o PT mude sua ideologia e passe a ser um partido liberal”, diz Nunes.

Para Fernando Holiday, é impossível dialogar com legendas como PT, PSOL e PCdoB. “Por isso, muitos candidatos optaram por se filiar a partidos de oposição a essas legendas”, justifica.

Em Minas, agenda se volta unicamente contra o PT
Em Minas, a agenda dos militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) tem sido focada na presença na Assembleia Legislativa, onde tramita a votação do pedido de abertura de ação contra o governador Fernando Pimentel (PT), investigado no âmbito da Operação Acrônimo.

“Somos contra a ideologia socialista que o PT prega. Você não vai ver um membro do MBL filiado a um partido ligado à esquerda. Somos liberais”, declarou Pedro Cherulli, coordenador do MBL em Minas.

O empresário de 62 anos, que se considera um dos mais velhos do MBL, disse ainda que o movimento acredita que “para mudar a política é necessário fazer parte dela”.

O cientista Malco Camargo vê como natural a filiação de alguns membros do MBL a partidos políticos para candidatura a cargos públicos, como aconteceu na última eleição. 

“Mesmo entre grupos que combatem a política, se querem implementar mudança é compreensível que busquem o caminho para participar da vida pública. Agora, se bradam contra a corrupção, deveriam buscar partidos menos envolvidos em escândalos de corrupção”, afirma.

Segundo o especialista, PMDB, PSDB e PP, além do PT, são as legendas mais citadas na operação “Lava Jato”. Ao todo, 35 partidos compõem a democracia brasileira. Entre os 45 candidatos do MBL a prefeito ou vereador no último pleito, 10 escolheram o PSDB como legenda.

Igual número de postulantes optou pelo DEM, cujo presidente, o senador José Agripino Maia, é alvo de três investigações no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele nega as acusações.

Outros cinco integrantes do movimento filiaram-se ao PP, o partido mais citado na “Lava Jato”, com 31 filiados investigados. O ex-presidente da legenda, Pedro Corrêa, está preso na carceragem da PF, em Curitiba.

Nas eleições em Campina Grande, o coordenador do MBL na Paraíba, Luis Felipe Nunes, foi candidato pelo DEM na disputa para vereador e teve 100% da campanha financiada pela legenda. Ele não esconde que escolheu a sigla pelos ideais considerados congruentes com os seus. “Os partidos políticos nos apoiaram no sentido de levar para a mídia nossas manifestações”, diz.

Reportagem do portal UOL, de maio deste ano, mostra que o apoio foi além. Segundo a matéria, manifestações do MBL foram financiadas por partidos, entre eles DEM, PSDB, SD e PMDB. Na época, o movimento abandonou o rótulo de “apartidário” e passando a se dizer “suprapartidário”.

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