Ah, o mercado! Sem ele não há vida econômica. Mas essa entidade fluida e amorfa também está longe de ser espelho da razão.
O mercado aposta majoritariamente contra a presidente Dilma. Ontem, reagiu mal ao que entendeu como dificuldades surgidas no caminho do impeachment. A bolsa caiu 3,5%, a segunda maior desvalorização do ano. Durante a tarde, chegou a cair quase 4%.
Todos os motivos para a queda são políticos. E Lula é o fator de desestabilização.
segunda-feira foi bastante movimentada, sendo que o acontecimento de maior visibilidade e repercussão foi a entrega da defesa da presidente Dilma à comissão especial que analisa o pedido de impeachment. A defesa oral feita pelo ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, foi clara e veemente. Mas não foi o discurso lógico do defensor de Dilma o responsável por virar o humor do mercado, e sim as movimentações de Lula nos bastidores.
ão sem razão, o mercado teme a força política e a capacidade de arregimentação do ex-presidente, que está a um passo de se tornar ministro. Sua posse deverá acontecer ainda nesta semana caso a oposição não consiga interpor nenhum novo impedimento.
Ontem, o ministro Teori Zavascki, relator da “Lava Jato” no STF, rejeitou as ações movidas pelo PSDB e PSB contra a nomeação de Lula para a Casa Civil. O magistrado não viu consistência nos argumentos de que a nomeação seria inconstitucional porque houve desvio de finalidade. A decisão do ministro não apenas abre caminho para a posse de Lula como transfere para o Supremo o julgamento do ex-presidente, tirando o processo das mãos do juiz Sérgio Moro.
Mas não foi essa a notícia que fez a bolsa balançar ontem. O que de fato provocou o cismo foram as informações da boa evolução das negociações de Lula junto aos deputados do chamado ‘baixo clero’.
Ontem, o mercado já abriu pessimista, informado sobre as andanças do ex-presidente pelo Nordeste no final de semana. Lula se reuniu em Fortaleza com dez deputados do Ceará do Pros, PDT e PTN. Na semana anterior, o ex-presidente já havia se encontrado com parlamentares de Alagoas, Pernambuco e Pará. E ontem varreram o mercado notícias sobre o sucesso do governo na articulação política com oferta de cargos aos partidos pequenos da base aliada e independentes.
Com o impeachment fazendo água, a euforia das últimas semanas está dando lugar a ressaca.
Usiminas
A Usiminas esteve ontem entre as maiores quedas da BM&FBovespa. Fechou com um tombo de 7,8%. O motivo principal foi o corte da classificação de risco da companhia pela agência Moody’s. Mas não só isso. As ações da Usiminas, assim como das demais siderúrgicas de capital aberto, se desvalorizaram tanto nos últimos 12 meses que, hoje, viraram terreno fértil para especulação. Subir ou cair 7% não significa nada dentro da curva histórica das cotações de longo prazo. Mas, no curtíssimo prazo, pode representar ganhos significativos para apostadores. E é o ataque destes que vem provocando a volatilidade. Ontem, como vimos, foi dia de revoada.