Mangalarga Marchador abre as portas para o mercado exterior

Maria Helena Dias - Especial para Força do Campo
22/07/2015 às 09:04.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:01

(Sérgio Amzalak/Divulgação)

Numa negociação privada, o Brasil se prepara para enviar aos Estados Unidos o primeiro lote piloto de embriões congelados da raça de cavalos mangalarga marchachor. Vencendo a burocracia, o americano Rick Shatz, que é presidente da Marchador Association of America (USMMA), conseguiu o que faltava: a documentação de liberação para a entrada dos embriões em seu país. O trabalho será feito pelo Centro Reprodutivo Equestre Criohorse, localizado na cidade de São José do Goiabal (MG), a 180 km de Belo Horizonte. Shatz, que deu início ao processo de compra dos embriões há cerca de um ano, está presente na 34ª Exposição Nacional do Mangalarga Marchador, que começou dia 15 e vai até o próximo domingo, no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte.   O Criohorse, que no ano passado foi habilitado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a exportação dos embriões de equinos aos Estados Unidos e União Europeia, aguarda agora a estação de monta, que começa em setembro e vai até março, para início dos trabalhos. “A expectativa é que possamos enviar os 50 primeiros embriões para fora do país entre março e julho do ano que vem, ou até antes disso”, informou o veterinário do Criohorse, Renan Reis de Oliveira.   Primeiro centro de reprodução equestre credenciado pelo Mapa em Minas Gerais, o Criohorse, que ocupa uma área de 520 hectares, já está preparado para dar início à exportação de sêmen e embriões congelados. De acordo com Renan Oliveira, esse é o começo para que possa ser ampliada a presença do mangalarga marchador no exterior, já que são muitas as restrições sanitárias para a exportação de animais vivos.   Ele fez questão de ressaltar que esse lote piloto de embriões congelados só será enviado aos Estados Unidos graças ao próprio comprador, Rick Shatz, que conseguiu essa liberação. “É um documento específico. Não é uma liberação pelo governo norte-americano para todas as transações. Mas não deixa de ser uma conquista”.   Projeto comprador   Renan Oliveira considera poucos os avanços em relação ao tema. Ele conta que a compra desses embriões a serem exportados foi feita no ano passado, logo que o centro reprodutivo conseguiu a homologação junto ao governo, mas que faltava a legislação, o que impediu a conclusão do negócio naquela época. Com intermediação da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), há mais de um ano, Rick Schatz; o criador do Haras Três Corações, Ronaldo Tavares, e o proprietário do Criohorse, Márcio Moraes, assinaram um contrato para a exportação de embriões congelados de cavalos.   Foi por meio do Projeto Comprador do Brazilian Saddle Horse, parceria entre ABCCMM e a Apex-Brasil, que Rick Shatz, acompanhado de outros criadores estrangeiros, visitou o Criohorse, em julho de 2014. O Brazilian Saddle Horse foi criado para promover o ‘Cavalo de Sela Brasileiro no Exterior’, tendo como objetivo consolidar a imagem do Brasil como o país de origem do melhor cavalo de sela do mundo.   O projeto busca estabelecer parcerias nos mercados, articulando a geração de novos negócios, agregando valor aos cavalos brasileiros por meio da tecnologia avançada na produção de material genético, intercâmbio de conhecimento e produtos complementares. Seu foco principal são os mercados Europeu e Americano.   Grande aposta no mercado interno   Depois de conquistar no ano passado um dos título mais cobiçados da Exposição Nacional de Mangalarga Marchador, ‘Campeã das Campeãs de Marcha’, com a égua Audácia, o proprietário do Haras Três Corações (Ponte Nova), Ronaldo Tavares, está nesta edição com seis animais no Parque da Gameleira. Ele reconhece o crescente interesse pela raça fora do país, mas acredita que este não é o momento de se investir na busca de clientes para a comercialização de embriões de cavalos no exterior. “Esse mercado externo ainda está em desenvolvimento. Há muita demanda no mercado interno”.   Ronaldo Tavares, que tem 300 animais distribuídos em 300 hectares e é criador de mangalarga marchador há 27 anos, reclama da burocracia e dificuldades para a exportação, tanto de embriões quanto de animais vivos, devido às barreiras sanitárias e os altos custos. Sobre as barreiras sanitárias, há de se ressaltar os cuidados com o contágio por mormo e carrapato.   “Não tenho a intenção de entrar agora com embriões no exterior. Há muito mais liquidez no mercado interno. No entanto, estamos abertos a negociações, já que é um mercado que promete, mas não estou viajando ou investindo na busca por clientes”, conta.   Ele ressalta a parceria do Haras Três Corações com um casal norte-americano que comprou 50% dos direitos da potra Cachaça. “Eles visitaram o haras, há um ano, e gostaram da potra. Tornaram-se sócios, mas o animal continua no meu haras”. Os embriões da potra serão divididos entre os sócios, podendo a metade deles ser congelada e levada para os Estados Unidos.   No Haras Três Corações são produzidos 60 embriões por ano. Desses, apenas 20% são comercializados. “Nossos negócios estão mais concentrados em leilões, que realizamos uma vez por ano - o último foi no dia 28 de junho - e vendas diretas”, revela.   A falta de cultura em outros países sobre o valor da raça é um dos dificultadores apontados por Ronaldo Tavares para a ampliação de uma tropa de qualidade no exterior. “É uma cultura nova. Nem nos Estados Unidos e na Europa existem concursos de marcha, como os que fazemos aqui. Eles prezam o cavalo pela comodidade, como um bom animal de passeio. Falta valor agregado”, diz. Ronaldo Tavares ressalta a importância do trabalho feito pela ABCCMM no fomento a novos negócios com estrangeiros, mas acredita que é preciso difundir mais a cultura da raça no exterior.   Uma raça genuinamente brasileira   A Lei nº 12.975/2014, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, declarou o mangalarga marchador como a raça nacional de cavalos do Brasil. Com origem em Minas Gerais, os predecessores do mangalarga marchador foram introduzidos no país pelos portugueses nos primeiros anos do século 19. Os garanhões eram dados aos integrantes da corte real e da nobreza. A partir do cruzamento com éguas comuns, novos animais foram sendo criados e adaptados às condições brasileiras.   A raça tem como função principal a marcha, andamento que transporta o cavaleiro de maneira cômoda, sem os impactos do trote. Durante a marcha, o animal descreve no ar um semicírculo com os membros anteriores e usa os posteriores como uma alavanca para ter impulso.   A ABCCMM conta com 10.400 associados distribuídos por todas as regiões. Com sede em Belo Horizonte, a associação foi criada em 1949 e ostenta o título de maior entidade de criadores de equinos da mesma raça da América Latina. No exterior, existem núcleos oficiais do mangalarga marchador nos Estados Unidos, Alemanha, Itália e Argentina.   Ponto a Ponto   Características do Mangalarga Marchador   • Temperamento ativo e dócil, o que permite que seja montado por pessoas de qualquer faixa etária e nível de equitação; • Leve, mas forte e musculoso; Resistente, com grande capacidade para percorrer longas distâncias e enfrentar desafios naturais; • Inteligente, o que torna seu adestramento fácil e rápido em relação a outras raças de sela; • Rusticidade, que confere a opção de ser criado somente em regime de pasto, diminuindo seu custo de produção e manutenção, facilitando seu manejo; • Facilidade de adaptação a quaisquer terrenos e climas como o tropical, temperado ou frio.   É um documento específico. Não é uma liberação pelo governo norte-americano para odas as transações. Mas não deixa de ser uma conquista - Renan Reis de Oliveira - Veterinário do Criohorse   Não tenho a intenção de entrar agora com embriões no exterior. Há muito mais liquidez no mercado interno - Ronaldo Tavares - Proprietário do Haras Três Corações

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