(Maurício Vieira)
Os pais que ainda não fizeram orçamento da lista de material escolar devem preparar o bolso. E o coração. A previsão é a de que o reajuste dos itens utilizados pelos alunos seja de 9% na comparação com o ano passado. O índice, estimado pela Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (ABFIAE), assusta e pode ser ainda maior.
Embora a economia dê sinais de melhora, o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar, afirma que grande parte dos varejistas e atacadistas do setor estão receosos e, por isso, não investiram em grandes estoques. Pelo contrário. “Eu mesmo comprei muito ano passado e tive dificuldades com os materiais. Este ano, não investi tanto”, afirma.
Como reflexo de um possível desabastecimento, os preços podem subir novamente no começo do ano, caso as vendas sejam mais altas do que o esperado. Se os valores não subirem, promoções que estiverem em curso podem ser revogadas. “Em 2018, o ano letivo das escolas estaduais começou em 20 de fevereiro. Depois, teve greve. Os pais desses alunos demoraram a comprar o material. E, mesmo assim, não compraram tudo de uma vez. O impacto foi grande nos negócios. Não podemos arriscar novamente”, observa.
Devido ao aumento de preços, o proprietário da papelaria Divino, Rooziveth Nominato, deixou a compra das mochilas para a última hora. “Ainda não comprei as mochilas, vou comprá-las agora”, afirma.
Gatilho
Conforme o diretor de relações institucionais da ABFIAE, Ricardo Carrijo, o aumento de 9% foi puxado especialmente pela alta do dólar, que ultrapassou os R$ 4 no segundo semestre de 2018. E é justamente nessa época que as encomendas são realizadas. Entre os importados estão as mochilas, os estojos e a maioria das marcas de lápis de cor.
Outro ponto citado pelo executivo como responsável pela alta é a escalada do preço da celulose, matéria prima do papel. O insumo, que também é cotado em dólar, sofreu reajustes para cima repetidas vezes no decorrer do ano.
“Os dissídios coletivos, que chegaram a 5% dependendo da categoria, também influenciaram no custo das empresas”, comenta Carrijo.
Programação
Muitas listas de material costumam ser entregues a partir de outubro. A maioria, no entanto, é liberada pela escola no fim de novembro. Ou seja, dá tempo para se programar, conforme afirma o economista da Federação da Câmara dos Dirigentes Lojistas (FCDL), Vinícius Silva.
“O consumidor pode tentar fugir dos reajustes pesquisando promoções. Para isso, ele pode usar os aplicativos de celular, os sites e a sola de sapato, rodando as lojas. Pesquisando, dá pra economizar bastante”, garante.
E os preços realmente variam muito de um lugar para o outro. No último levantamento feito pelo site do site Mercado Mineiro, no meio do ano, era possível encontrar o mesmo produto com preço até 300% mais alto na concorrência. Nova pesquisa está sendo programada, conforme o coordenador do site, Feliciano Abreu.
Preço de berçários tem variação de até 513% na capital
As mensalidades das escolinhas maternais e dos berçários irão às alturas em 2019, conforme pesquisa do site Mercado Mineiro divulgada ontem. Na modalidade meio período, o valor médio saltou 9,88%, passando de R$ 967,54 para R$ 1.063,14. No integral, a elevação foi de 9,99%, com mensalidade média passando de R$ 1.422,48 para R$ 1.564,57.
E a diferença entre as mensalidades das escolinhas chama a atenção. De acordo com o levantamento, o preço para os berçários de meio período, que costumam cobrar por cinco ou seis horas de permanência, vão de R$ 300 a R$ 1.840, diferença de513%. No valor, estão incluídos atividades pedagógicas, alimentação e banho.
Quando são analisados estabelecimentos que oferecem a modalidade de período integral, de 12 horas, o valor varia de R$ 500 a R$ 2.510, diferença de 402%. No período integral, as crianças têm direito a almoço, banho, atividades pedagógicas e dois professores em sala.
De acordo com o coordenador do site responsável pela pesquisa, Feliciano Abreu, a infraestrutura e a localização são os principais fatores que influenciam na diferença entre os valores das mensalidades. “Mesmo assim, fiquei surpreso com o resultado. De 2017 para 2018 houve estabilidade de preços”, afirma.
Conforme o presidente da Federação dos estabelecimentos de ensino do Estado de Minas Gerais e vice-presidente da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino particulares, Emiro Barbini, as escolas colocam na ponta do lápis todos os custos antes de definir o aumento.
“Pelo menos 70% das mensalidades são destinadas ao pagamento dos professores e funcionários das escolas. Elas têm, ainda, que contabilizar aluguel, terceirizados, material de limpeza e as novas tecnologias pedagógicas, que aumentam muito o custo. E ainda tem a inadimplência”, justifica.
Conforme adiantou o Hoje em Dia o “calote” chega a 35% no ensino superior e a 26% no básico no começo dos meses. Ao longo do período, a inadimplência das instituições de ensino básico cai entre 15% e 18%. A média na educação superior fica entre 19% e 20%. O índice é altíssimo. A título de comparação, no ano passado a média era de 12%.