Minas está no topo da lista dos que mais abrem cinemas

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
19/12/2012 às 11:04.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:46

(Flávio Tavares)

Após enfrentar uma curva descendente nos últimos 30 anos, em que o fechamento de salas de exibição foi superior às inaugurações, Minas Gerais aparece como o segundo Estado que mais abriu cinemas em 2012, segundo pesquisa recente do site Filme B, especializado no mercado brasileiro.

Os 18 novos espaços, a maioria localizada em shoppings-centers, como Cinépolis (no Estação BH) e Ponteio (que iniciará seu funcionamento nos próximos dias), levaram à divisão do segundo posto no ranking com o Rio Grande do Sul.

A liderança é de São Paulo, com 52 (média de uma sala por semana). Rio de Janeiro e Santa Catarina aparecem em terceiro lugar, cada um com 14. Ao todo, 173 cinemas foram inaugurados no Brasil.

Cinéfilos e analistas mineiros comemoram o resultado, mas lamentam que a multiplicação de pontos de exibição ainda não reflita na diversidade da programação. Boa parte dos espaços abertos no Estado, bem como no restante do país, são filiais de grandes redes que apostam na produção mais comercial.

Subcultura

"Um aumento de salas ofertadas ao público já é, em si, algo para ser comemorado. Por outro lado, não é boa para a cultura cinematográfica", observa Pedro Olivotto, proprietário do Belas Artes, um dos bastiões do cinema de repertório em Belo Horizonte. "O que houve foi uma explosão de subcultura", critica.

Olivotto atrela a subida no ranking ao maior poder aquisitivo do brasileiro, agora estendido a cidades de médio porte. "A proliferação de salas no interior tem a ver com a industrialização dessas regiões, devido ao maior aporte público e privado, o que gera aumento de consumo", analisa.

Autor do livro "O Fim das Coisas", sobre a trajetória das salas exibidoras da cidade, o pesquisador Ataídes Braga sublinha que a abertura desses complexos resulta apenas em "inchaço", ampliando o circuito de filmes de vocação comercial. "O Hobbit", por exemplo, estreou sexta-feira em 35 salas da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Alternativos

"Entre ter e não ter mais cinemas, a primeira opção será sempre a melhor, mas não sou otimista em relação ao futuro dos cinemas alternativos, que ficarão ainda mais pressionados com esse aumento de salas. Filmes de arte mais comerciais serão destinados principalmente às grandes redes", lamenta Braga.

Uma das poucas salas com perfil alternativo que abriu suas portas em 2012 foi o CentoeQuatro, na região central da capital mineira. Braga aponta semelhanças entre esse espaço e os cinemas de bairro, fechados nas décadas de 80 e 90, devido ao seu lado mais rústico. "Mas como as sessões estão vazias, temo que a ideia não vingue por muito tempo".

Ele destaca que Belo Horizonte sofreu mais com o fechamento devido ao monopólio do mercado nas mãos da Companhia Cinemas e Teatros Minas Gerais, dona de espaços para grandes públicos, como Brasil, Metrópole, Palladium, Acaiaca e Jacques. "Quando resolveram fechar, foi em massa", recorda.

Cinco salas de arte estão previstas para 2013

A expansão do mercado exibidor em Minas Gerais terá prosseguimento em 2013 e 2014, mas o domínio das salas de shopping não será tão evidente como foi em 2012. Está prevista a inauguração de, pelo menos, cinco espaços alternativos, voltados para produções menos comerciais.

Além desse perfil, as novas salas retomam a característica dos cinemas de ruas, concentrados na região central de Belo Horizonte. Na Praça Sete, o Brasil será, finalmente, reaberto em setembro, agora sob administração da Fundação Sidertube, que adquiriu o prédio de 11 andares.

Cinema de rua

O Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, contará com duas salas de pequeno porte (de 40 e 70 lugares) que deverão seguir a linha de programação do CCBB de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Porém, só entrarão em funcionamento numa segunda etapa.

Após abrir as portas do Teatro Bradesco, na última semana, o Minas Tênis Clube já investe na construção de duas salas de cinema, cada uma com 60 lugares, em sua unidade de Lourdes. A programação privilegiará filmes fora do circuito comercial.

Fechado desde 1999, o octogenário Cine Brasil está passando por uma ampla reforma desde 2006. "Agora não é mais uma possibilidade (de ser inaugurado). É uma certeza", garante Alberto Camisassa, superintendente da Fundação.

A razão desse "certeza" é muito simples: o espaço, rebatizado V&M Brasil Centro de Cultura, já tem agenda definida, recebendo em setembro os dois painéis de "Guerra e Paz", de Cândido Portinari, que ficavam na sede da Organizações das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

"A inauguração do Centro de Cultura aconteceria em dezembro, mas como conseguimos, em parceria com o filho de Portinari, a vinda dessa exposição, adiantamos alucinadamente a obra. Afinal, o Brasil é o único palco possível para receber essas obras, devido à altura delas", explica Camisassa.

Como a exposição ocupará todo os espaços do prédio – além dos painéis, contará com cerca de 100 esboços do pintor – a programação do cinema envolverá justamente filmes que têm como tema a vida e a obra de Portinari. Somente em janeiro de 2014 terá uma grade independente.

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