A ArcelorMittal, uma das gigantes do setor no mundo, prepara um investimento de R$ 1,5 bilhão em João Monlevade, no Leste mineiro. Mas esse investimento passará por uma revisão. O CEO da Companhia, Jefferson de Paula, defenderá, perante uma plateia de outros 10 executivos da empresa, de unidades situadas em outros países, que o dinheiro permaneça no Brasil.
O que preocupa o CEO são os argumentos, que teme não ter para o convencimento. A siderurgia que opera no país foi impactada em R$ 3,5 bilhões com a greve dos caminhoneiros, a tabela do frete e o Reintegra (um ressarcimento de impostos pagos para exportadores). Se antes os exportadores negociavam uma alíquota de ressarcimento de 5%, agora será de 0,1%. Como convencer uma multinacional de que temos mares calmos, tranquilos, com segurança jurídica e previsibilidade para se investir? “Todo dia é uma mudança de regra”, resumiu o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe. Assim como a Arcelor, várias outras companhias analisam o efetivo risco-Brasil.
“Como um país sai de uma crise?”, questiona Jefferson. Certamente, quem estudou economia sabe que a resposta está em investimentos privados e públicos.
Se a Arcelor decidir pelo investimento em Monlevade, pode gerar emprego, renda e impostos. Só para termos um exemplo, antes do caos dos últimos dias que submergiu o Brasil, a Usiminas, outra grande do setor siderúrgico, contratou 400 trabalhadores apenas para obras de reforma do alto-forno 1.
Durante a greve dos caminhoneiros, 16 alto-fornos foram abafados. Não bastasse isso, a política de restrição à entrada de aço pelos Estados Unidos baqueou a siderurgia. Minas detém 30% de toda a produção nacional de aço. Sem a alíquota de 5% do Reintegra, perderá R$ 352 milhões.
Nesse cenário catastrófico, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) deu voz à insatisfação do setor e lançou o manifesto: “Minas tem voz: somos feitos de aço!”. A Federação pretende levar o pleito à Justiça, se a equipe econômica do governo federal não se sensibilizar. E ainda promete ser esse um movimento inicial, um preâmbulo do que está por vir, quando medidas errôneas afetarem outras cadeias produtivas como impactou a siderurgia, que já vinha de um cenário desalentador.
Ontem, ao lançar o movimento, Roscoe estava ao lado de Marco Polo de Mello, presidente do Instituto Aço Brasil, e de Jefferson de Paula, da ArcelorMittal. Uma demonstração de que a indústria mineira não está para brincadeira.
Marco Polo contou que o governo federal já foi comunicado sobre a decisão de ir à Justiça. Mas parece não ligar. “O governo desistiu da indústria”, desabafou.
O que o governo quer é fazer caixa. Fazer caixa para pagar a conta da greve dos caminhoneiros e para cobrir o rombo fiscal. “Estamos almoçando o nosso futuro”, comentou Roscoe. Para quem pensa a curto prazo, ano que vem, o problema será de outro governo. Porém, enquanto vai governo, vem governo, o brasileiro paga a conta. Se a indústria deixar de investir, postos de trabalho deixarão de ser abertos, famílias deixarão de consumir e a roda da economia continuará travada. “Se as empresas não investirem, não vão empregar. É uma demanda do povo brasileiro. O impacto é em cascata”, apelou Roscoe. “Parece piada”, finalizou ao comentar as medidas econômicas. Parece mesmo. #sóquenão