A agonia da espera por notícias de desaparecidos

Aline Louise - Hoje em Dia
Publicado em 12/11/2015 às 15:39.Atualizado em 17/11/2021 às 02:27.

MARIANA - "A cada dia uma luta, a cada dia uma dor, uma esperança"! Assim resume a dona de casa Aline Ferreira Ribeiro o período de agonia, à espera de notícias do marido, Samuel Vieira Abino, funcionário de uma empresa terceirizada da Samarco, que desapareceu na avalanche de lama que devastou Bento Rodrigues, na última quinta-feira (5).

A mesma agonia assola outras 19 famílias, que esperam notícias dos parentes desaparecidos na tragédia. Samuel era sondador, no momento que a barragem de Fundão se rompeu, ele fazia um estudo do solo nas proximidades, para o projeto de expansão da estrutura. "Ao meio-dia, como de costume, ainda conversei com meu marido. Ele sempre repetia que no terreno ali só havia barro", conta.

A filha de dois anos do casal ainda espera o pai voltar para casa. "Ele sempre trazia bombom pra ela, mas dessa vez não voltou, o que vou dizer para ela?", questiona aos prantos.

A família mora em Belo Horizonte. Samuel, que tem ainda outros três filhos adolescentes, do primeiro casamento, ia e voltava toda semana de Mariana. "Nenhuma das crianças tem a real dimensão do que aconteceu, estou evitando que eles vejam a internet. Acreditam que eu vim a Mariana pra buscar o pai".

Aline conta que Samuel, ao ver o "tsunami" de lama, ainda tentou fugir. "Segundo os amigos que conseguiram se salvar, ele correu pra caminhonete. Ai primeiro veio a água e jogou ela pra cima, depois veio a onda de lama e ele desapareceu".

Apesar de saber que é quase impossível, Aline guarda esperança de encontrar o marido vivo. "99% de mim sabe que não tem mais jeito, mas 1% acredita num milagre. Ele era um homem bom, divertido, querido por todos. Nunca brigamos, em sete anos de casamento. Ele era mais que meu marido, era meu amigo", diz, sem conter as lágrimas.

A falta de informação, a demora em se localizar o marido, revoltam Aline. "Tenho medo que parem as buscas e ele vire só mais um número. Quero encontrá-lo, quero justiça. Não foi acidente, foi um crime".

O mesmo receio assombra o professor Wanderley Lucas Filho, que espera por notícias da mãe Maria Eliza Lucas, de 60 anos. Ela, moradora de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, passava uns dias de descanso no sítio de parentes em Bento Rodrigues.

"Ela adorava pescar, na hora que a barragem rompeu ela estava na beira da lagoa. Escutaram o barulho, meus tios conseguiram correr para o pasto, que é mais alto, mas ela não. Minha tia olhou pra trás e ainda viu o momento que ela foi engolida pela lama", conta, com o olhar perdido e cheio de sofrimento.

Wanderley tem ido a Bento Rodrigues diariamente, passou o local onde a mãe foi vista pela última vez para os bombeiros, mas está descrente nos trabalhos de busca. "Disseram que iam fazer uma varredura lá, mas até agora nada. O contingente de bombeiros é insuficiente", avalia.

Ainda assim, ele e o pai não vão arredar pé de Mariana, até ter notícias concretas de Maria. "Não vamos sair daqui. Perdi o que eu tinha de mais precioso. Só espero que a Samarco seja punida e outras pessoas não estejam no meu lugar no futuro, por causa de uma tragédia que poderia ser evitada".

Buscas

Segundo o capitão Thiago Miranda, do Corpo de Bombeiros, não há previsão para o fim das buscas aos desaparecidos. Ele destacou que o contingente de agentes no local recebeu reforço de 65 homens nesta quinta-feira, que além do trabalho em Bento, fazem varredura no leito do Rio Doce.

"A área é muito grande, isso dificulta o trabalho. Com o passar do tempo, a lama vai secando, isso facilita para os cães farejadores detectarem algo. Mas se tivermos corpos muito no fundo, fica mais difícil", detalha.

Segundo ele, além dos homens e dos cães farejadores, estão sendo usados tratores para remover a lama.

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