Em julho, um ônibus do Move bateu na estação de embarque e desembarque da avenida Oiapoque, no Centro de Belo Horizonte; apesar do susto e destruição, ninguém ficou ferido (Fernando Michel / Hoje em Dia)
Imprudência, desatenção, sobrecarga de trabalho, frota antiga e manutenção falha ajudam a explicar a disparada de 25% nos acidentes envolvendo ônibus em Belo Horizonte. A análise é de especialistas em trânsito, medicina de tráfego e passageiros, que cobram mais segurança, principalmente em meio ao subsídio de meio bilhão de reais repassado às empresas do sistema municipal.
De janeiro a agosto foram 4.079 atropelamentos, capotagens e batidas, das mais leves às graves, deixando feridos em 500 sinistros. Treze pessoas morreram. Os números da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) consideram todos os ônibus que rodam pelas ruas da capital: linhas convencional e suplementar, transporte metropolitano, fretados, escolares e de turismo.
No entanto, as ocorrências envolvendo os coletivos do transporte municipal têm sido cada vez mais frequentes, conforme o Hoje em Dia tem mostrado. Na semana passada, houve um grave acidente envolvendo a linha 617 (Piratininga/Estação Pampulha). O veículo bateu em um carro e depois em um poste, em Venda Nova. Três pessoas ficaram feridas. A fiação ficou exposta e pegou fogo. Moradores de bairros próximos ficaram sem energia por horas.
Quem depende do sistema clama pela redução de acidentes como esse. “Chegamos ao limite. Se o ônibus quebra, temos o transtorno. Mas quando é um acidente, quando alguém se machuca ou morre... As autoridades precisam entender. Não dá mais, é preciso agir”, afirma o presidente da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo (AUTC) de BH, Francisco de Assis Maciel.
Segundo ele, o cenário é provocado por uma combinação de fatores. “Tem relação direta com a ausência de manutenção dos veículos, com o estresse dos motoristas, que cumprem duas funções, dirigir e cobrar o dinheiro, e com a negligência da fiscalização”.
Opinião idêntica tem o diretor científico da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra. Especialista no assunto, ele pede atenção especial para a saúde dos condutores. Para o médico, as condições de trabalho são precárias. “O que acontece nas vias urbanas hoje é o mesmo que acontece nas rodovias: cada vez mais ocorrências envolvendo veículos de grande porte porque, muitas vezes, o motorista está sobrecarregado”.
Por nota, a prefeitura reforçou que os dados de acidentes não se referem “apenas” aos veículos do transporte coletivo municipal. A PBH informou que 220 novos ônibus começaram a ser integrados ao serviço. São carros com ar-condicionado, suspensão a ar e acessibilidade rodando em cerca de 80 linhas. “Até o fim do ano serão 420 ônibus novos atendendo aos passageiros do sistema de transporte coletivo municipal”.
O Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) da PM informou que faz o patrulhamento ostensivo em toda a capital, "com o objetivo de prevenção de infrações e sinistros de trânsito". Segundo o órgão, as ações influenciam na segurança viária e fluidez do trânsito, contribuindo para a efetiva mudança de comportamento dos usuários.
"Nessas ações e operações policiais, a fiscalização, inclusive de transporte coletivo de passageiros, ocorre diuturnamente, quando são verificadas as condições dos veículos e condutores tendo por objetivo prioritário a proteção à vida e à incolumidade física da pessoa", informou por meio de nota.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) também foram procurados para falar sobre o assunto, mas não se pronunciaram.
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