Acusado de participação em chacina alega que vingou ameaças à mãe

Carlos Calaes - Do Hoje em Dia
12/09/2012 às 19:03.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:13

  “Vivi com esta dor no peito durante um ano. O cara botou o revólver na boca da minha mãe e ameaçou meu filho pequeno. Depois de uma semana, ela teve um ataque do coração e morreu. Por isso, matei o Vitor e não tenho mais nada para falar”.    Esta foi a versão que Peter Gomes de Moura, de 23 anos, contou nesta quarta-feira (12) durante sua apresentação no Departamento de Investigações. Ele é um dos três suspeitos de participação da chacina que deixou quatro mortos e 14 pessoas feridas durante um tiroteio na noite de 26 de agosto passado numa casa de shows no bairro São Geraldo, região Leste de Belo Horizonte.   Para o delegado Emerson Morais, a versão não procede, uma vez que as supostas ameaças ocorreram em setembro do ano passado. “O cara esperou um ano para vingar um ato desse tipo?”, questionou o policial. Ele avaliou o crime como mais uma etapa de uma guerra de gangues. O alvo era Vitor Leonardo dos Santos, de 28 anos, que morreu no local. Peter se apresentou no último dia 6 acompanhado de seu advogado, prestou depoimento e foi preso.    Como a morte comanda a disputa de gangues    O inquérito policial 594/2012, o qual o Hoje em Dia teve acesso, relata toda a mecânica do crime. Segundo o documento, no dia 26 de agosto, por volta das 23h30, na casa de shows "Viola Encantada" na avenida Itaite, bairro São Geraldo, Leste de Belo Horizonte, Luciano Beiral de Oliveira, o "Tijolo", de 35 anos, Jean Paulo Santos da Fé, o "Jeanzinho", Peter Gomes de Moura, o "Piter", de 23, e Rodrigo Luiz Marques Cerqueira, o "Gão", de 25, invadiram, armados, a casa de shows. O alvo era Vítor Leonardo dos Santos Souza, o "Vitinho", de 27. Na confusão também foram alvejados César Augusto Santos de Brito, de 28, e Mara Lúcia da Silva, de 28, que não tinham nada a ver com a situação. Os três não resistiram e morreram. Outras 14 pessoas ficaram feridas.    Ainda segundo as investigações, a disputa entre as gangues que resultou na chacina teve início em 20 de fevereiro do ano passado quando Rudmar Aparecido Santos de Oliveira, de 27 anos, foi assassinado por Valdir Beiral de Oliveira, de 25 anos, por disputa de pontos de drogas.   Conforme o inquérito, "Vitinho" era amigo de infância e atuaria no tráfico juntamente com Rudmar. Dessa forma, "Vitinho" e seu comparsa Alanderson Camilo Gomes, de 20 anos, e um terceiro homem ainda não identificado pela polícia, vingaram a morte de Rudmar ao executarem Valdir Beiral.   Em seguida, Luciano Beiral, o "Tijolo", irmão de Valdir, juntamente com dois comparsas não identificados, executaram Alanderson e feriram gravemente Tayrone Souza da Silva. "Tijolo" chegou a ser preso em flagrante, mas conseguiu liberdade por força de um alvará de soltura expedido pela Justiça.   A investigação mostra que "Tijolo" escolheu a data para vingar a morte do irmão Valdir no dia 13 de setembro de 2011, aniversário da mãe. A execução de Alanderson, que matou Valdir, teria sido um presente para a mãe por parte de "Tijolo".   Insatisfetro pela morte de Alanderson, Vítor Leonardo dos Santos Souza, o "Vitinho", tentou executar Wallace Nascimento Beiral, primo de "Tijolo". A vítima recebeu um tiro na cabeça que foi atravessada de ouvido a ouvido. Ele sobreviveu, mas ficou tetraplégico e movimenta apenas os olhos.   Dessa forma, na "lista" de vingança do investigado "Tijolo" restava apenas "Vitinho". Investigadores de polícia da Delegacia Especializada de Homicídios investigam a informação de uma tentativa de homicídio contra "Vitinho" em julho passado, quando homens efetuaram diversos disparos de arma de fogo contra ele, que conseguiu escapar ileso.   Quanto ao crime da chacina, ficou apurado que Luciano Beiral de Oliveira, o "Tijolo", Jean Paulo Santos da Fé, o "Jeanzinho", Peter Gomes de Moura, o "Píter" e Rodrigo Luiz Marques Cerqueira, o "Gão", após terem conhecimento prévio de que a vítima Vítor Leonardo dos Santos Souza, o "Vitinho" estaria numa casa de shows onde ocorria um pagode, para lá se dirigiram em duas motocicletas e portando armas de fogo, entre elas uma submetralhadora calibre 9mm de fabricação espanhola.   Enquanto "Tijolo" e "Jeanzinho" faziam a guarda e vigilância para os demais comparsas na porta da casa de shows, os investigados "Piter" e "Gão", após renderem os porteiros da casa de shows, foram em direção ao alvo, o "Vitinho", momento que efetuaram diversos disparos de arma de fogo contra o mesmo, matando e ferindo pessoas inocentes.   Enquanto "Vitinho" corria entre os frequentadores da casa de shows para se defender dos disparos, "Piter" e "Gão" atiravam sem se importar com aquelas pessoas que nada tinha a ver com disputa.   Após matarem três e ferirem 14, "Píter" e "Gão" fugiram, quando foram surpreendidos por uma viatura do Grupo de Ações Táticas Especias (Gate) da Polícia Militar. Na troca com os militares, "Gão" foi baleado e morto. Com ele foi apreendida uma submetralhadora. "Tijolo", "Jeanzinho" e "Piter", que haviam conseguido fugir, já estão presos. "Quando saírem, a guerra recomeça", avalia um policial que pediu anonimato.          

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