O agente penitenciário Marcos Antônio Oliveira Nogueira, de 38 anos, confessou que arquitetou o roubo de 45 armas na Central de Escoltas, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para quitar dívidas com agiota. Ele relatou que pegou empréstimo de R$ 10 mil, mas que o valor saltou para R$ 30 mil.
Aos policiais que investigam o caso, o agente confessou ainda que usou o remédio Rivotril para dopar os colegas que trabalhavam com ele no dia em que o crime foi cometido. Durante apresentação à imprensa, na manhã desta quarta-feira (23), o homem pediu desculpas à sociedade e aos colegas de profissão. No fim do encontro com os jornalistas, o agente desmaiou e teve que ser socorrido por policiais civis.
Agente penitenciário desmaio no fim da coletiva de imprensa (Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia)
Para roubar as armas da Central de Escoltas, Marcos Antônio contou com a ajuda do irmão, o frentista Arthur Rodrigues Nogueira, de 23 anos. Os dois planejaram o crime três dias antes do assalto. Além da dupla, foram presos também Washington Luiz Soares, de 48 anos, e Wanderley Metvker, de 45 anos. O primeiro é acusado de intermediar a venda das armas roubadas enquanto o segundo foi um dos receptadores do arsenal.
Crime
A Polícia Civil informou que no dia do crime o agente Marcos Antônio preparou salada de fruta para os colegas comerem após o almoço. Para não levantar suspeitas, a sobremesa não estava contaminada. À noite, durante o jantar, ele voltou a fazer a salada, que foi "batizada", juntamente com o suco que foi servido para todos os oito plantonistas.
Aos poucos, de acordo com os investigadores, os agentes começaram a se queixar de dores na barriga e foram dormindo um por um. Quando percebeu que o plano havia dado certo, Marcos Antônio acionou o irmão, que foi até a Central de Escoltas. Juntos, os dois teriam carregado todas as armas em sacos de linhaça. Eles fizeram, no total, cinco viagem para transportar o armamento. A ação durou cerca de 40 minutos.
Depois o frentista foi embora com o arsenal e o irmão alterou a cena do crime. Conforme a investigação, ele tomou do remédio para simular que havia sido contaminado junto com os colegas. Marcos Antônio trabalhava como agente penitenciário há 11 anos e já respondeu por crime de abuso de menor, mas foi absolvido pela Justiça de Teófilo Otoni.
Investigação
No local do crime, peritos da Polícia Civil apreenderam para realização de exames água, o suco e o resto da sala de frutas. A sobremesa encontrada, no entanto, não estava contaminada com o Rivotril. O laudo pericial feito no local do crime e o laudo do material recolhido já foram concluídos. Restam ficar prontos os exames de urina e sangue feitos nos agentes dopados e também o laudo das armas apreendidas.
Além dos quatro presos, a polícia investiga a participação de uma quinta pessoa, identificada como Sandro. Na casa do suspeito, em Neves, foram encontrados parte do arsenal roubado. O homem não é considerado foragido pois não há contra ele mandado de prisão em aberto.
Autuações
Todos os envolvidos no crime foram autuados por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Pelo crime, eles podem pegar até seis anos de cadeia. Os irmãos Marcos Antônio e Arthur foram autuados também por roubo com utilização de violência imprópria.
Os detidos que estavam reclusos no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) Gameleira foram transferidos para a Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH. O agente penitenciário foi o único que foi levado para um presídio em São Joaquim de Bicas.
Entenda o caso
As 45 armas foram furtadas da Central de Escoltas, que fica atrás da Penitenciária Dutra Ladeira, na madrugada de 25 de março. Bandidos teriam dopado os agentes penitenciários que faziam a guarda da Central de Escoltas. Com os seguranças desacordados, os suspeitos tiveram cerca de seis horas para agir. A investigação levantava a possibilidade de que o golpe tivesse contado com a ajuda de agentes.
Na madrugada do último sábado (19), uma pistola .40, apreendida pela PM, no bairro Florença, em Ribeirão das Neves, foi apontada como pertencente ao arsenal furtado. A arma, da marca Imbel, tinha um brasão da República, mesmo tipo das pistolas levadas no mês passado. Segundo o delegado Wanderson Gomes, a Polícia Civil ainda vai investigar a origem da arma, mas ele não descarta que seja do arsenal roubado no mês passado.