Água salgada serve até para matar a sede no Norte de Minas

Fernando Zuba - Do Hoje em Dia
27/09/2012 às 09:22.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:37

(Frederico Haikal)

MONTE AZUL – Sem planejamento e investimentos, a seca rigorosa e o longo período de estiagem que assolam municípios do Norte de Minas provocam resultados inaceitáveis. Na zona rural de Monte Azul, moradores são obrigados a beber a água salobra – com excesso de sais e imprópria para o consumo humano – retirada de poços artesianos. A situação é tão alarmante que a prefeitura estuda decretar estado de calamidade pública. Não chove na região há mais de cem dias.

Na manhã de quarta-feira (26), a reportagem do Hoje em Dia não precisou percorrer grandes distâncias para encontrar famílias em condições subumanas. Em um pequeno e humilde casebre, a dona de casa Elisângela Barbosa de Aranha, de 28 anos, se vira para cuidar dos quatro filhos, com idade entre 2 e 12 anos. “Dependemos dos caminhões-pipa para conseguir água potável. Do contrário, o jeito é beber água salgada”, lamenta a mulher enquanto dá banho na filha caçula com a água salobra.

Segundo ela, por orientação do Exército, a água em condições de consumo deve ser racionada. “Para lavar roupas, higiene pessoal e até mesmo cozinhar, devemos utilizar a água salgada”.

O gado sucumbe

Diante de um açude ressecado, o pequeno pecuarista Luiz Custódio Ramos, de 60 anos, tem dúvidas se vai continuar a manter a criação de gado de corte. Dono de 150 animais, ele conta que o rebanho era superior, mas parte sucumbiu à estiagem. “Já não faço mais conta das perdas, mas, com a falta de água, o pasto é cada vez mais raro e a situação tende a piorar”, afirma o criador, que pensa em se aposentar.

Enquanto o pequeno pecuarista define o futuro do rebanho, o agricultor Ariston Cerqueira, de 55 anos, não tem dúvida de que a criação de animais é um péssimo negócio. “Já fui criador, mas os prejuízos foram grandes. A escassez de água na região nos últimos cinco anos dizimou milhares de animais. Basta percorrer as estradas e verificar o verdadeiro cemitério de bois e vacas nas marginais”.

Agora, com pouca chuva e sem sistema de irrigação, Cerqueira tem prejuízos na lavoura de mamona. No ano retrasado, afirma, foram colhidas dez toneladas da oleaginosa. “Nesse ano, não consegui mais que mil quilos. Planto algodão para tentar minimizar os prejuízos”, conta Cerqueira, apelando a Deus por chuva.
 
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