Aliar uso de tecnologia ao ensino desafia universidades

Renato Fonseca - Hoje em Dia
03/08/2014 às 08:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:38
 (Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

(Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

RIO DE JANEIRO – “O futuro já chegou, só não está distribuído igualmente”. A frase do escritor canadense William Ford Gibson – autor contemporâneo de obras de ficção científica – tem sido dita com frequência para ilustrar a realidade das universidades brasileiras. De um lado, alunos digitais, antenados à velocidade imposta pela internet. Do outro, muitos professores ainda analógicos, em busca da inovação.   Se antes o conteúdo repassado pelo docente bastava para formar novos profissionais, agora as tecnologias disponíveis levam para as instituições estudantes mais críticos e familiarizados com as ferramentas digitais. O choque tem obrigado mudanças profundas no aprendizado.   “A mudança coloca o dedo na ferida da vida acadêmica. As universidades estão atrasadas. É preciso rever como as instituições se comportam em relação a esses alunos, que dentro de cinco a dez anos vão estar à frente da sociedade”, afirma o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Antonio Zago.   Segundo ele, os alunos estão “em busca do descobrimento e da compreensão do mundo, e não só do conhecimento acumulado oferecido pelos professores conservadores”. Zago participou do 3º Encontro Internacional de Reitores Universia, na última semana, no Rio de Janeiro.   A inserção de novas tecnologias no ensino acadêmico foi um dos principais temas debatidos no encontro, que reuniu mais de 1.200 profissionais de todo o mundo. O reitor da principal universidade mineira, Jaime Arturo Ramírez, também esteve presente e reforça a necessidade de mudanças, que, apesar de urgentes, ainda levarão tempo para ocorrer.   Conforme Ramírez, a UFMG irá associar o uso da tecnologia de educação à distancia nos cursos presenciais. A medida visa oferecer mais conteúdo ao aluno mesmo no tempo livre. “Esse é o primeiro passo. Aliado a isso, nossos professores estão passando por importantes capacitações. Muito trabalho precisa ser feito. Daqui a quatro anos pretendemos estar em outro patamar”, afirma o reitor mineiro.   NOVOS ALUNOS   Em pouco mais de uma década, a demanda por ensino superior irá aumentar em pelo menos 80 milhões de pessoas, segundo cálculos recentes feitos pela Unesco.    “Daí a importância da tecnologia. É um desafio para as universidades incorporar as ferramentas digitais como instrumento de trabalho. Mas, somente assim, por meio do uso consciente e utilizando cursos de educação à distância, teremos um alcance muito maior”, destaca o reitor da Universidade Nacional Autônoma do México, José Narro.     Instituições carecem de aparelhamento   Enquanto as principais universidades do país, e do mundo, discutem as melhores formas de inserção da tecnologia no aprendizado, algumas instituições caminham a passos lentos rumo à inovação. Equipamentos simples, como o projetor de imagem datashow, ainda não fazem parte, de forma plena, do cotidiano de algumas faculdades.   “Datashows fixos em todas as salas de aula não são realidade para algumas instituições, por exemplo. Nós estamos passando, ainda, pelo aparelhamento das universidades. Discutir o uso das tecnologias é fundamental, mas é preciso, antes, ter os aparelhos necessários”, diz o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), Walmir Amado.    A necessidade de aparelhamento recebe atenção especial em uma das instituições mineiras mais bem conceituadas nas avaliações de qualidade de ensino do Ministério da Educação (MEC). A Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, tem um programa de empréstimo de netbooks para a comunidade acadêmica.    Além dos livros disponíveis na biblioteca, é possível que os estudantes levem para casa computadores portáteis para fins acadêmicos. O uso da tecnologia auxilia os alunos a participar de outro projeto digital, o Estúdio do Centro de Educação a Distância (Cead/UFLA), no qual professores recebem orientação para produção de material educacional para videoaulas.   “A inserção da tecnologia é uma preocupação constante”, aponta o reitor José Roberto Scolforo. Segundo ele, pelo menos 20 cursos de capacitação, de curta duração, são oferecidos ao corpo docente durante todo o ano.    “Existem professores ainda muito conservadores e temos alguma dificuldade. Mas a grande maioria é comprometida com a causa do ensino e temos conseguido êxito. Temos obtido mais de 90% de adesão. Não obrigamos eles a participar, mas temos um trabalho específico para tentar atraí-los”. A Ufla dispõe de acesso à internet sem fio e gratuita em todo o campus.     Estudantes buscam novas possibilidades   Para ampliar as possibilidades de comunicação e de aprendizagem, é preciso conhecer os anseios dos novos estudantes. “Antes, as mudanças eram lentas. Hoje, a transformação é constante. E não são só as tecnologias como tabletes e outros equipamentos. As redes sociais também fazem parte do cotidiano dos estudantes e não podem ser ignoradas”, afirma o reitor mexicano José Narro.   As palavras dele vão de encontro ao pensamento da estudante Marina Bueno, de 23 anos. Estudante de Administração da PUC, ela sempre concilia o uso do notebook e do celular com os cadernos e os livros. “Antes, usar esses aparelhos na sala de aula era um desrespeito. Hoje, é um acréscimo nas possibilidades de conhecimento e os professores sabem disso”, destaca.   Focado em atrair a atenção dos alunos e melhorar a forma de ensino, o professor Rui Otoniel Rodrigues, do Instituto Tecnológico do Centro Universitário Una (Unatec), acaba de lançar, pioneiramente no Brasil, um game estatístico aplicado ao ensino superior.    Segundo ele, Estatística lidera a lista das matérias que mais reprovam no país, com uma média negativa que gira em torno de 60%. Incomodado com o sofrimento daqueles que precisam aprender a disciplina, ele investiu cerca de R$ 100 mil em um projeto para a criação de um jogo. Foram mais de oito meses de estudo.   De forma divertida, didática, lúdica e trazendo uma linguagem acessível e baseada nos conceitos dos games, Rui é categórico: “é possível mudar e, assim, melhorar o ensino com o uso de tecnologia. Porém, os professores precisam estar preparados para isso”. (R.F.) l   O repórter viajou a convite da organização da Universia 

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