Ambulantes driblam lei e faturam R$ 600 ao dia em ônibus e metrô

Gabriela Sales - Hoje em Dia
11/10/2014 às 08:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:34

(Carlos Rhienck)

Mesmo sendo ilegal, o comércio de guloseimas é cena comum no transporte público da capital. Para ter acesso aos passageiros, os ambulantes pagam a passagem em um dos terminais de transferência do Move e passam o dia vendendo doces entre uma estação e outra, assim como nos vagões do metrô.   Em Belo Horizonte, desde 2008 o Decreto Municipal 13.384 proibiu essa prática nos ônibus da capital. Se ambulantes forem flagrados nos veículos, os consórcios podem ter que arcar com multa de até R$ 92,33, mas as mercadorias não são apreendidas.   No metrô, a assessoria de imprensa da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que regulamento da empresa também proíbe a prática dentro dos vagões. As mercadorias podem ser apreendidas e encaminhadas para depósitos das prefeituras de Belo Horizonte e de Contagem.   Para burlar a fiscalização, muitos ambulantes entram no metrô e nos ônibus do Move com os produtos dentro de bolsas ou sacolas.   Nas avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado, os ambulantes oferecem balas, chicletes, chocolates e paçocas dentro das estações do Move. “Vendemos de tudo um pouco. Os doces são a distração das viagens”, disse o vendedor Lucas, de 30 anos.   Armazenados em isopores ou vasilhas de plástico bem coloridas, os vendedores percorrem os ônibus oferecendo produtos que vão de R$ 0,50 a R$ 5 a unidade. O faturamento chega a R$ 600 por dia. Eles contam que cerca de 50% desse montante é revertido para a reposição das mercadorias.   “Nossas guloseimas são de qualidade, e isso custa caro. Se não investir não temos clientela. Além disso, temos cuidado com prazo de validade e a higiene das vasilhas”, disse a vendedora Beatriz de Oliveira, de 23 anos.   Incômodo   O lucro expressivo já ajudou muitos vendedores a realizar alguns sonhos. “Com esse dinheiro eu consegui fazer um financiamento imobiliário e, atualmente, estou próxima de quitar a minha casa”, disse uma vendedora ambulante que pediu para não ser identificada.   Porém, a prática não agrada a todos os usuários do transporte público. Para a enfermeira Ângela de Assis, de 34 anos, o comércio nos coletivos incomoda muito os passageiros “Eles (vendedores) nos perturbam o tempo todo. Se você estiver lendo ou cochilando chegam a acordar a gente só para oferecer os doces. Isso é muito chato”, disse.   “Não me importo com a venda. Confesso que, às vezes, eu também compro algumas balas, não gosto é da gritaria dentro do ônibus. Isso incomoda”, disse o universitário Eduardo Mendes.   Outros passageiros não se opõem à venda de doces dentro dos trens e ônibus. “É um trabalho como outro qualquer. Não me sinto incomodado”, disse o auxiliar administrativo Anísio da Cunha, de 33 anos.   Além dos ambulantes, há também músicos e religiosos que buscam a atenção e recompensa financeira dos passageiros. “Esses são os piores, além de lamuriar na nossa cabeça, passam o chapéu pedindo dinheiro”, disse a garçonete Estael Marceline Estrela, de 32 anos.   Assim como nos ônibus, os trens também são utilizado como “palco” para novos artistas. “Alguns são tão caras-de-pau que vêm com os instrumentos. Também não gosto quando pessoas tentam impor sua religião”, disse a aposentada Helena de Souza Cruz, de 66 anos.   A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que agentes fiscalizam ônibus para evitar a venda de produtos no local. Caso a prática seja flagrada nos veículos, o consórcio é notificado e multado.   A reportagem entrou em contato com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) para se pronunciar sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição não havia recebido o retorno.

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