Ao invés de cães, gatos

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
Publicado em 04/01/2015 às 08:04.Atualizado em 18/11/2021 às 05:33.
“Quem não tem cão caça com gato”. O antigo ditado pode ser adaptado aos dias atuais para ilustrar uma mudança no comportamento dos donos de animais de estimação. No lugar de cão, porém, lê-se “tempo” ou “espaço” e, em vez de “caça”, “adota”. Com a rotina cada vez mais acelerada e vivendo em ambientes verticalizados, os brasileiros estão dando preferência aos felinos.
 
De 2011 para 2012, o número de gatos de estimação cresceu 7,57%, quase o dobro do de cachorros (3,92%) – ainda os mais populares nos lares nacionais –, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
 
Essa mudança na escolha do pet é justificada, principalmente, pela independência dos gatos, que se adaptam a espaços pequenos – como apartamentos –, são mais econômicos e vivem bem nos lares em que os donos se ausentam durante todo o dia.
 
Comparação
“Sempre preferi gatos. Já tive cachorros também, mas eles têm cheiro forte e mesmo que a gente lave o local onde eles defecam, continua com um odor ruim. Além disso, se deixarmos a comida sempre ao alcance, eles comem tudo de uma vez. Os gatos, não. Eles têm disciplina”, justifica a professora de inglês Angela Gonçalves de Almeida Ferreira, dona de quatro felinos.
 
Segundo ela, o quarteto brinca e diverte-se com qualquer coisa, até uma bolinha de papel. E, ao contrário do que muitos pensam, não tem nada de traiçoeiro. “Dizem que os gatos são egoístas, mas a personalidade deles é assim mesmo. Aproximam-se do dono quando querem carinho, chegam ronronando”, defende a professora.
 
A estudante Nathália Araújo, de 22 anos, também rendeu-se à praticidade dos gatos, apesar de já ter um cachorro em casa. Há cerca de um ano, ela adotou Léia, atual companheira de todas as horas. “Queria um bicho que acompanhasse meu ritmo. Minha cadela é muito agitada, quer sempre correr e pular, e eu gosto mais de tranquilidade. Queria um animal mais companheiro, e a Léia me segue o dia inteiro, fica o tempo todo comigo”, conta.
 
Nathália concilia a faculdade de publicidade e propaganda com o estágio em uma agência de comunicação. Em meio à correria, a jovem percebeu facilidades na criação da gata. “Gosto da independência dos gatos, exatamente por eu ficar pouco tempo em casa. É um animal que ‘se vira’ muito bem sozinho e não faz tanta bagunça. Essa é a maior vantagem que eu vejo, é um bicho fácil demais de cuidar”, diz.
 
MERCADO
Para o presidente-executivo da Abinpet, José Edson Galvão de França, o salto no número de gatos e a possível superação da quantidade de cães já é tratado como uma realidade. “A verticalização dos grandes centros e a mudança no estilo de vida são fatores que fizeram com que as pessoas optassem por um animal de estimação mais independente e de fácil adaptação a espaços menores. Isso facilitou o aumento da população de gatos e, consequentemente, a presença deles nos lares e nas cidades”, avalia.
 
Para acompanhar as mudanças, a indústria pet precisou adaptar-se ao novo cenário investindo em uma variedade de produtos e serviços para gatos. “Já existem alimentos específicos para eles, com ingredientes especiais, serviços de catsitter (babá para gatos), acessórios etc.”, enumera França.
 
Cuidados essenciais não podem ser deixados de lado
 
A independência dos gatos, exaltada pela maioria dos donos, pode camuflar as necessidades do animal, que precisa, sim, de cuidados e atenção constantes, principalmente, nos primeiros anos de vida. A veterinária Tathiana Mourão é proprietária da clínica Mia Vida Medicina Felina, dedicada exclusivamente à espécie, e reforça a importância de acompanhar os bichanos de perto.
 
“Recomendamos que, pelo menos uma vez por ano, o animal passe por uma avaliação clínica para atestar a sanidade dele. Se houver perda de peso, por exemplo, sabemos que pode haver algo errado, mas ele também não pode ficar obeso”.
 
A primeira providência a ser tomada, independentemente de o animal ser comprado ou adotado, é levá-lo a uma clínica. Na primeira consulta, segundo Tathiana, geralmente são informados os cuidados com a alimentação, higiene e segurança.
 
DICAS
A especialista reforça que a alimentação dos gatos deve seguir a faixa etária deles e ficar disponível 24 horas por dia, porque os felinos fazem várias refeições ao longo desse período. O número de vasilhas – largas e rasas – deve ser equivalente ao número de animais na casa.
 
As bandejas sanitárias ou liteiras podem conter areia ou sílica, mas devem ser limpas diariamente. A quantidade sugerida pelos veterinários é de uma a mais do que o total de gatos.
 
No caso de apartamentos e casas com dois ou mais pavimentos, é recomendada a instalação de telas nas janelas, a fim de evitar quedas acidentais – que ocorre, geralmente, quando os gatos avistam outros bichos.
 
Outra medida importante é não permitir que o bichano vá para a rua, onde ele está sujeito a atropelamentos, maus-tratos, envenenamento e doenças, que também podem ser evitadas pela vacinação. A imunização é iniciada a partir dos três meses de vida.
 
ESCALADA
De acordo com a veterinária Tathiana Mourão, a inversão na preferência dos animais de estimação deverá fazer com que, em oito anos, os felinos sejam maioria no Brasil, passando à frente dos cachorros. 
 
“Isso já acontece no hemisfério Norte. Aqui, outros colegas de profissão já notam um movimento nesse sentido, porque atendem a muito mais gatos do que antigamente. Eles têm sentido, inclusive, a necessidade de estudar mais os felinos”, ponderou a profissional.
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