Aos 50 anos, Anel Rodoviário está obsoleto como nunca

Ernesto Braga - Hoje em Dia
18/03/2013 às 08:08.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:58

(Maurício de Souza)

Inaugurado em 1963, o Anel Rodoviário de Belo Horizonte foi construído para desviar do Centro da cidade o tráfego das BRs 381 e 040. Pelos 26,5 quilômetros de pista simples, passavam 1.500 carros por dia.

Cinquenta anos depois, o Anel se tornou o corredor de trânsito urbano mais movimentado de BH. Diariamente, trafegam por ele 154 mil veículos, sendo 23% deles caminhões (35 mil).

Sem estrutura adequada e com o traçado cheio de “armadilhas”, as mortes no asfalto passaram a fazer parte da história do Anel. O risco é agravado pela imprudência dos motoristas.

A cada tragédia, é anunciado mais rigor na fiscalização, entre outras medidas para aumentar a segurança. Mas, à medida que o tempo passa, volta a rotina de desrespeito às leis de trânsito, como carretas em alta velocidade trafegando fora da faixa da direita.

Duplicação

Em cinco décadas, o Anel passou por apenas uma grande reforma, concluída em 1980. “Ele foi duplicado e foram construídas as vias marginais. Depois disso, houve apenas recapeamento do asfalto e tapa-buracos”, diz José Antônio do Prado.

Técnico rodoviário aposentado do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Prado tem 81 anos e participou das obras de duplicação. Ele confirma que o Anel foi inaugurado em 1963, embora não saiba com exatidão em qual mês.

Comandante do policiamento no Anel Rodoviário há 12 anos, o tenente Geraldo Donizete, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), ressalta que as intervenções foram suficientes para o fluxo da década de 1980: 57 mil veículos por dia.

Mas, 33 anos depois, ele aponta a necessidade de uma grande reforma. “São três problemas graves: o estreitamento de pista nos pontos onde há trevos e viadutos, o crescimento do número de habitações às margens da rodovia e o aumento do fluxo, que praticamente triplicou”, diz Donizete.

Riscos

Enquanto a reforma não sai do papel, o caminhoneiro José Mauro Nemer Feres, de 34 anos, continuará convivendo com os riscos. “As três faixas de trânsito viram duas em muitos pontos, sem que haja área de escape. Em uma retenção, o caminhão em alta velocidade fatalmente vai causar um acidente e, infelizmente, vejo muita correria e desrespeito”, lamenta.

O resultado são estatísticas assustadoras. Em 2012, foram 3.306 acidentes – média de nove por dia –, com 1.139 feridos e 31 mortes. Neste ano, três pessoas morreram no Anel.

Nos últimos 50 anos, muitas famílias foram destruídas na rodovia. A secretária Adriana Kutras, de 43 anos, perdeu a sobrinha, Mariana Kutras, em 26 de abril de 2007.
 

Adriana Kutras mostra a foto da sobrinha Mariana, vítima de um acidente na rodovia em abril de 2007(Foto: Frederico Haikal)

Estudante de odontologia, Mariana completava 23 anos naquele dia e ia comemorar o aniversário quando o veículo dela foi atingido por uma betoneira desgovernada, que atravessou a divisória central. “Enquanto não morrer um parente de algum político importante não haverá mudanças no Anel”, desabafa.

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