Apesar de certas mazelas, muita gente curte morar no Centro

Raquel Ramos - Hoje em Dia
Publicado em 25/07/2014 às 07:42.Atualizado em 18/11/2021 às 03:31.

Há quase duas décadas, o consultor Sóter Carneiro de Abreu, de 52 anos, encontra na porta de casa problemas que qualquer pessoa gostaria de ter bem longe: sujeira, calçadas esburacadas e insegurança. Ainda assim, quem diria, não trocaria o apartamento onde vive na rua da Bahia, a um quarteirão da avenida Afonso Pena, por nenhum outro endereço de Belo Horizonte.

“É muito prático morar aqui. Eu e minha família estamos próximos a tudo. Posso resolver muitas coisas a pé. Até para pegar carona é mais fácil porque várias pessoas passam pelo Centro”, observou.

A vista do alto do 19º andar é outra vantagem. O cenário, na visão do consultor, é semelhante ao do Central Park, em Nova York. Trata-se do Parque Municipal Américo Renné Giannetti. De “brinde”, a paisagem é complementada pela Serra do Curral, principal cartão-postal de Belo Horizonte.

A preferência por morar no movimentado hipercentro da capital, apesar das diversas mazelas que afligem a região, não é tão rara. Regina Moura Pourri, de 80 anos, também fincou raízes no Centro. Metade da vida da aposentada foi vivida na rua da Bahia, no condomínio que leva o nome de seu avô paterno.

“A casa dele ficava neste lote. Passei a infância brincando aqui”, recordou. Na década de 60, o edifício foi derrubado para dar lugar a um prédio novo, onde Regina mora desde 1972, em um amplo apartamento com mais de cem metros quadrados.

“Nem passa pela minha cabeça sair daqui. Tenho tudo que preciso bem ao lado: farmácia, supermercado, açougue, hospital...”, enumera, admitindo que o saudosismo pesa na decisão de ficar no Centro. “Guardo muitas lembranças, mas era tudo bem diferente da sujeira e das calçadas cheias de buracos de agora. É uma covardia o que fizeram com essa área. Uma região histórica que se perdeu no meio de tanto estrago”.

Comodidades

Foi justamente o incômodo com a degradação de um bairro amado que motivou Victor Diniz, de 23 anos, a assumir a presidência da Associação de Moradores e Amigos da Região Central de BH. “Assim, consigo lutar por melhorias para a região”.

Desde que nasceu, Victor já morou em quatro endereços, mas nunca esteve a mais de dez minutos de caminhada da Praça 7. Conhecendo o Centro como poucos, cita as atrações culturais e a variedade de restaurantes e bares como os principais atrativos para jovens que escolhem morar na região. “As pessoas não sabem como é prazeroso sair de casa e, a poucos quarteirões, chegar no Mercado Central ou ao Palácio da Liberdade”.

A estudante Ana Carolina Vieira Dias, de 19 anos, concorda. Vizinha do Shopping Cidade e de dezenas de lojas, ela pode voltar dos encontros com amigos a pé, em ônibus que passam na porta de casa ou numa corrida barata de táxi. “É muita comodidade”, disse.

Não apenas moradores veem vantagens. Para Eduardo Moraes, o Centro é, há 17 anos, o lugar de onde tira o sustento. Sócio de uma loja de equipamentos fotográficos, ele não tem interesse em sair do ponto. “Já tivemos problemas com assaltos, furtos e sujeira na porta do comércio. Por outro lado, criamos laços com o local e com clientes que nos conheceram aqui”.

Saiba mais

Advogado especialista em direito imobiliário, Kênio de Souza Pereira, acredita que morar no Centro é atraente para estudantes e idosos porque a falta de garagem nos prédios não interfere no dia a dia deles. Muitos sequer têm carro próprio. “Já a sensação de insegurança afasta algumas pessoas da região”, acrescentou, referindo-se a outros tipos de perfis, como é o caso de casais com filhos.

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