(Reprodução/ Google Street View)
Cerca de 440 ex-alunos e pais de estudantes do Colégio Santo Agostinho (CSA) assinaram, até a noite desta terça-feira (27), uma nota publicada virtualmente nesta mesma data em apoio à instituição, após a polêmica da suposta "doutrinação" existente no local. A nota está aberta à assinatura de apoiadores que não fizeram ou façam parte da escola.
De acordo com a profissional de relações públicas e egressa do CSA, Nicole Stéffane, o texto foi escrito por formados na unidade de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas já conta com assinaturas de jovens de outras unidades do colégio.
Na nota, é exposto o repúdio dessa parcela de alunos contra a ação civil pública proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre o suposto ensino da "teoria de gênero" a alunos da 3ª à 6ª série do Ensino Fundamental da rede.
Segundo Stéffane, a nota é aberta à assinatura de apoiadores de "fora" da instituição. "Quisemos expor nossa visão como ex-alunos, ampliar a discussão e mostrar que há mais pessoas a favor do colégio do que contra, já que a carta de pais contrários foi composta por cerca de 80 pessoas", afirmou a jovem.
A reportagem entrou em contato com o Colégio Santo Agostinho e aguarda retorno.
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Leia a nota dos ex-alunos do CSA Nova Lima na íntegra:
“Na essência somos iguais, nas diferenças nos respeitamos.” Santo Agostinho
Nós, ex-alunos do Colégio Santo Agostinho, unidade Nova Lima (CSA-NL), subscrevemos a presente nota para abertamente repudiar a temerária ação civil pública proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre o suposto ensino da "Ideologia de Gênero" aos alunos da 3° à 6° série do ensino fundamental da rede.
Vivenciamos de perto a qualidade de ensino e os valores da escola. A excelência dos docentes e da equipe pedagógica da instituição foram responsáveis por resultados invejáveis nos principais vestibulares do Brasil. Apesar de a unidade em que estudamos ter sido fundada apenas em 2007, em pouco mais de uma década foram formados diversos engenheiros, advogados, médicos, professores, artistas, empresários e demais profissionais que, mesmo jovens, já ocupam posições de destaque no mercado de trabalho.
A educação que recebemos, porém, não se limitou apenas a garantir bons resultados nos vestibulares. A instituição nos ensinou a importância da educação cívica, com respeito à diversidade e aos direitos humanos. Nos ensinou que um excelente aluno não é aquele que simplesmente absorve o conteúdo programático exposto em sala de aula, mas aquele que atua sempre pelo bem da comunidade.
Aprendemos que o próximo deve ser respeitado independente de sua raça, credo ou orientação sexual, e que em uma sociedade cada vez mais complexa e plural, devemos sempre escutar e aprender com o diferente em vez de excluí-lo. Concluímos que não somos donos da razão e que é natural a sociedade estar em constante processo de aprendizado. Mas que, para tanto, é necessário um ambiente em que se propicie o debate e a discussão qualificados, sem que se recorram a teorias fantasiosas e inventivas, cujas consequências tendem a ser deletérias para o ensino.
Por tais motivos, repudiamos a ação civil pública proposta pelo MPMG, bem como as constantes ações abusivas por grupos de pais que, desde 2017, vêm tomando atitudes descabidas contra a instituição. Acreditamos que a educação precisa ser livre e despida de quaisquer discursos manipuladores que visam impedir a formação de um pensamento crítico ou que vá de encontro aos direitos humanos.
É importante lembrar que os direitos humanos estão intimamente relacionados com a garantia da dignidade da pessoa humana e com a construção da cidadania. Por consequência, a consolidação do cidadão enquanto membro da sociedade atuante nas transformações sociais se concretiza por meio da educação, sendo exatamente o cumprido pela instituição da qual fomos alunos.
As discordâncias em um ambiente de ensino são naturais. As diretrizes pedagógicas das escolas estão em constante mudança e aperfeiçoamento. Um embate de ideias é saudável em um ambiente democrático e indispensável ao crescimento e formação dos alunos, pais e professores que participam dessas discussões. Contudo, ações que visam impor uma visão de mundo, fundamentadas na desinformação e na falta de diálogo são nocivas por essência ao ambiente de ensino.
Durante a nossa trajetória como alunos do CSA-NL nunca nos foi dado qualquer material sobre a suposta “ideologia de gênero”. Como também, a instituição nunca negligenciou a importância da família para, em conjunto com a escola, promover o ensino sobre questões sexuais.
Por outro lado, foram esclarecidas dúvidas, e nos foi proporcionado um ambiente seguro, para discussões sobre questões primordiais, como: a importância de se prevenir contra DST´s; a importância de respeitarmos as diferentes orientações sexuais, reconhecendo direitos humanos para todos; a necessidade e eficiência dos diversos meios de prevenção à gravidez; o conhecimento do corpo masculino e feminino. Todos esses conteúdos foram proporcionados a nós de acordo com a nossa maturidade, com princípios pedagógicos claros e bem definidos.
Lembramos, também, que a banalização de assuntos como o presente, principalmente no tocante aos direitos humanos, é de se causar extrema preocupação. Por estes motivos, esperamos uma decisão veemente do poder judiciário, afastando qualquer tentativa de caracterizar a educação sexual como uma “suposta” ideologia de gênero.
Propomos aos pais, alunos e ex-alunos, que discordem de nosso posicionamento, o diálogo e a reflexão. Estamos dispostos a discutir nossas experiências na escola para refletirmos como esse modelo de ensino nos auxiliou em nossa formação. Estendemos nossas mãos em solidariedade aos nossos eternos educadores e todos os funcionários que integram o corpo técnico e diretivo do Colégio Santo Agostinho de Nova Lima. Vocês foram e continuam sendo parte da nossa história e não seríamos os mesmos sem vocês.
27 de novembro de 2018.