Excluindo os aglomerados, Belo Horizonte tem hoje uma área de pelo menos 1 milhão de metros quadrados – o equivalente a mais de cem campos de futebol – de terrenos públicos invadidos. Os espaços, concentrados nas regiões do Barreiro e Norte, são a esperança da casa própria para milhares de pessoas.
Alguns terrenos se transformaram em verdadeiros bairros, como a Vila Corumbiara, originada de uma ocupação há 17 anos e, em 2009, regularizada pela prefeitura. Com esse mesmo propósito, mais um bairro está “nascendo”: a ocupação Eliana Silva, no Barreiro.
Sob a orientação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), o terreno foi tomado em 20 de agosto, na avenida Perimetral, na Vila Santa Rita. Segundo uma das coordenadoras do MLB, Poliana Souza, a área é devoluta. Pertenceu inicialmente ao Estado, foi doada para empresas privadas e depois vendida várias vezes para pessoas jurídicas e físicas. “Temos uma ordem judicial de sair, mas recorremos da decisão”, diz.
Improviso
Durante dois dias, o Hoje em Dia acompanhou a rotina de algumas das 285 famílias que se instalaram no local. São aproximadamente mil pessoas de baixa renda, a maioria com pouco estudo e de faixa etária variada.
De forma improvisada, as barracas de lona dos primeiros dias de ocupação deram espaço a 200 barracos de alvenaria, erguidos em menos de um mês. Com a ajuda de professores e alunos de Arquitetura da UFMG, o terreno, acidentado, foi organizado em cinco avenidas e 22 ruas, com lotes de 63 metros quadrados.
As famílias foram orientadas a construir para dificultar a remoção pelo poder público. A primeira edificação foi a creche. Mutirões também ajudaram a levantar as pequenas moradias, com material adquirido por meio de “vaquinhas” e economias dos novos residentes.
Ritmo frenético
O Eliana Silva é um grande canteiro de obras, mas ainda há quem continue em barracas de lona, como o aposentado Geraldo de Oliveira, de 67 anos, que se concentra em ajudar outras pessoas a construir casas. “Quando eu tiver um tempo, vou fazer a minha”.
Os barracos são de um cômodo, com apenas uma janela, e cobertura em telha de amianto. Não há laje, banheiro ou pia. “Elaboramos um plano de esgoto e reaproveitamento da água, mas ainda não implantamos”, explica Poliana Souza