OURO PRETO – Decorar ruas com um tapete de quase quatro quilômetros de comprimento em um frio de 14°C é um grande sacrifício. Mas moradores, estudantes e turistas de todo o país encararam o cheiro forte da serragem e a temperatura baixa em Ouro Preto para criar e honrar a tradição de quase 300 anos na cidade, durante o feriado de Corpus Christi. A preparação começou na madrugada desta sexta-feira (30). A prefeitura colocou sacos de serragem colorida nas esquinas e o restante ficou por conta dos moradores. “O cheiro forte é porque deve ter serragem de madeira Paraju. A gente faz porta e janela com ela”, explica o ex-ajudante de marceneiro Geraldo Carneiro, de 63 anos, enquanto olhava os desenhos da rua São José. Nas ladeiras de Ouro Preto todos têm voz. Basta pegar um punhado de serragem e deixar fluir o traço. Em um dos pontos, um turista escreveu o nome da cidade dele: “Palmas – TO”. Em outro lugar, o símbolo hippie da liberdade. Para tentar esquentar o clima, a trilha sonora tinha jazz, que sai do aparelho de som no ateliê do escultor Antônio Inácio, no bairro Antônio Dias. O local é conhecido como o “Bairro dos Artistas”. Dois dias antes do feriado, o artista plástico Eduardo Marques dos Reis já começa a trabalhar. “Faço o rascunho em papel e depois amplio no chão. É como montar a árvore de Natal. Tenho que fazer um tapete novo todo ano”, disse. Dessa vez, ele desenhou um pastor de ovelhas. Para garantir a nitidez do rosto do personagem, ele peneirou a serragem para ficar mais fina e a despejou em um molde. Sem medo do frio, a turista carioca Kátia Rios, juntamente com duas amigas, estendeu a permanência na cidade por mais um dia só para participar da montagem dos tapetes. “O pessoal da república estava fazendo. Nos apresentamos e começamos a ajudar”. “Até quem não é católico participa. As pessoas gostam de interagir por meio de uma tradição que é da cidade”, diz a diretora da Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade, da Fundação de Arte de Ouro Preto, Gabriela Rangel.