Árvore mineira está ameaçada de extinção

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
Publicado em 15/11/2014 às 08:11.Atualizado em 18/11/2021 às 05:01.
A atividade humana coloca não só animais em risco de extinção. Em Minas Gerais, uma árvore da mesma família do pau-brasil, endêmica da região Central, corre o risco de desaparecer para sempre. Atualmente, estão catalogados 246 faveiros-de-wilson – ou faveiro-da-mata –, em 16 municípios no entorno de Belo Horizonte.
 
A extração ilegal de mata nativa para a produção de carvão vegetal praticamente sepultou a espécie. A pecuária é outro empecilho à regeneração populacional do faveiro. As sementes dos frutos, um aperitivo para o gado, dificilmente chegam ao ponto de germinar. Assim, a árvore “mineira” entrou para a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. 
 
Mas ainda existe esperança. A espécie está prestes a ganhar um aliado na tentativa de salvá-la. Em dezembro, o Ministério do Meio Ambiente publicará o Plano de Ação Nacional (PAN) para pesquisa, conservação e manejo do faveiro-de-wilson.
 
O PAN foi elaborado em parceria com o Centro Nacional de Conservação da Flora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e outras instituições de pesquisa. Os objetivos, metas e produtos traçados no documento compreendem um horizonte de cinco anos, com vistas a preservar a variabilidade da espécie e aumentar a população dessas árvores na natureza.
 
As 30 ações previstas serão coordenadas por 12 instituições, entre elas o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Polícia Militar Ambiental e Sociedade de Amigos da Fundação Zoo-Botânica de BH.
 
Entre os trabalhos, destacam-se atividades de educação ambiental e coleta de sementes. Nos últimos quatro anos, o projeto teve o patrocínio da empresa Cimentos Liz. 
 
ATUAÇÃO LOCAL
 
Localmente, os estudos para a preservação do faveiro-de-wilson acontecem desde 2004, no Jardim Botânico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte. “Trata-se de uma espécie raríssima e criticamente em perigo de extinção”, ressalta o engenheiro florestal Fernando Moreira Fernandes, coordenador do projeto na fundação.
 
Pesquisadores acreditam na existência de mais exemplares na região Central, além dos 246 catalogados. Um dos objetivos do plano é localizar todas as árvores e registrá-las. “A preservação da espécie depende da educação ambiental nas escolas, da conversa no meio rural. Ela era desconhecida até por nós, pesquisadores”, diz Fernando. 
Encontrado no meio de pastagens, capoeiras e matas, tanto em baixadas quanto em encostas e topos de morro, o faveiro-de-wilson leva pelo menos 15 anos para atingir a maturidade e dar fruto pela primeira vez. O tempo de crescimento, considerado de médio a lento, é um dos fatores que prejudicam a recuperação.
 
Para reintroduzir a espécie ao hábitat, é feito o manejo de mudas. Até o momento, já foram plantadas 300. A meta é garantir outras mil. “O crescimento da planta é lento, leva pelo menos dois anos até o plantio em campo”, acrescenta Fernando, que antes trabalhou no projeto de preservação do mico-leão-dourado.
 
 
Proibição do corte foi estabelecida há dez anos
 
Por força de decreto estadual, o corte do faveiro-de-wilson é proibido no Estado desde 2004. A iniciativa, porém, não foi suficiente para garantir a retirada da espécie da lista de extinção. Entre as ações previstas no Plano de Ação Nacional, destacam-se o combate ao fogo e o controle do capim braquiária, que impede o desenvolvimento da muda. 
 
De acordo com Fernando Fernandes, engenheiro florestal da Fundação Zoo-Botânica, também é preciso ampliar as pesquisas sobre a espécie, estudar a dispersão das sementes e reforçar as análises genéticas da planta para orientar o manejo. “É necessário ainda pesquisar a biologia reprodutiva da árvore, promover eventos e cursos sobre a planta, revisar a lei de proteção e adotar a compensação ambiental para apoiar proprietários rurais que a preservam”. 
 
 
REFÚGIO
 
Trinta exemplares foram encontrados em três fazendas na Serra do Elefante, divisa de Juatuba, Mateus Leme e Florestal, na região Central. A Fazenda Coqueiros, em Juatuba, aderiu ao projeto de conservação do faveiro-de-wilson. Um dos exemplares tem cerca de 80 anos. “Temos interesse em preservar a área, cercar e plantar mais árvores”, conta o gerente da unidade, Claudiomar José Viegas.  Na região, o projeto ganhou também a adesão da brigada de incêndio da Associação dos Amigos da Serra do Elefante, formada por voluntários, em 2007.
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