Assinatura de repasse para reforma da igrejinha da Pampulha será no aniversário de BH

Renato Fonseca e Iêva Tatiana - Hoje em Dia
26/11/2014 às 08:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:10
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

No lugar das infiltrações e marcas de mofo, novos forros e camadas de tinta. Para os danificados mosaicos de pastilhas azuis e azulejos do pintor Cândido Portinari, um restauro completo. Já as fiações expostas de som e iluminação cederão espaço a um moderno sistema elétrico. Ainda que tardia, finalmente a reforma do principal cartão-postal de Belo Horizonte, a igreja São Francisco de Assis, sairá do papel.

Em 12 de dezembro, dia do aniversário de Belo Horizonte, será assinado um convênio entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a prefeitura da capital para o repasse de verba federal destinada às intervenções necessárias na igrejinha da Pampulha. Orçada em R$ 1,4 milhão, a obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas.

Na mesma data, também deverá ser firmada parceria entre o Iphan e a administração municipal para a reforma do Museu de Arte da Pampulha (MAP). O espaço receberá uma série de serviços de manutenção e melhorias na estrutura durante cerca de um ano. O investimento será de R$ 1,5 milhão.

 

PAMPULHA

Considerada obra-prima do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), a igrejinha da Pampulha demandará pelo menos oito meses de reparos. A previsão é a de que as intervenções sejam iniciadas em fevereiro, após contratação de empresa por meio de licitação. Ainda não há confirmação oficial, mas é provável que o templo fique fechado neste período. “Como a obra será feita no interior da edifica-ção, será complicado liberar o acesso ao público”, destaca a superintendente do Iphan em Minas, Michele Arroyo.

Segundo Michele, as juntas de dilatação da estrutura, em forma de abóbada, serão impermeabilizadas com um produto próprio, que evitará novas infiltrações. Em seguida, será feita a troca do forro de madeira e o imóvel receberá nova pintura, polimento do piso de mármore e limpeza das fachadas.

Já os jardins idealizados pelo paisagista Burle Marx (1909–1994), que estão degradados, não fazem parte da obra. A recuperação da área verde será feita somente após a reforma da igreja. A intenção é firmar outro convênio, mas com uma empresa da cidade, por meio do programa municipal Adote o Verde, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.


DESCASO

A falta de zelo com a igreja São Francisco de Assis já dura quase uma década. A última reforma ocorreu em 2005. Porém, dois anos depois, já era possível perceber as marcas da infiltração no teto côncavo revestido de madeira, de acordo com relatos dos próprios funcionários do local.

Em dezembro de 2013, o Hoje em Dia mostrou as várias infiltrações, mofo, manchas, painéis danificados e o precário sistema elétrico do templo. Porém, só em maio deste ano o edital para a reforma foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM).

 

Persistentes problemas de infiltração na igreja

Onze anos após a inauguração, em 1954, a igreja São Francisco de Assis passou pela primeira das cinco reformas já realizadas nela. Outras três intervenções foram feitas em 1957, em 1980 e no período de 1989 a 1992.

Segundo a Fundação Municipal de Cultura (FMC), cinco meses após a reinauguração da igreja – depois de um hiato de três anos –, uma fissura no revestimento externo, que se arrastou ao longo de décadas, voltou a aparecer. Por causa disso, um novo planejamento de restauração começou a ser elaborado na tentativa de solucionar, definitivamente, o problema.

Em fevereiro de 2003, foi apresentado ao Conselho de Patrimônio um relatório histórico do prédio, considerando os problemas estruturais e apontando as soluções para eles.

No mesmo ano, teve início a última reforma da igreja, que se estendeu até 2005. De acordo com a FMC, a obra visava à recuperação do revestimento externo da nave, comprometido por fissuras desde a construção, em função da ausência de juntas de dilatação, suprimidas do projeto estrutural.

Por conta disso, até hoje, a Igrejinha da Pampulha tem problemas de infiltração, considerados no projeto de recuperação elaborado no início deste ano. Outro problema apontado pela FMC é a deterioração do forro, que será substituído por outro “de mesma madeira e dimensões”, conforme a Fundação.

 

Prefeitura entregará dossiê ao Iphan

Candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade, o complexo arquitetônico da Lagoa da Pampulha contará com um dossiê com todos os atrativos que credenciam o espaço a receber o título. O documento será entregue pela Prefeitura de Belo Horizonte ao Iphan, também em 12 de dezembro. Depois, o material será levado para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Atualmente, o conjunto tem tombamento em três esferas: municipal, estadual e federal. O dossiê trará, com detalhes, as atribuições da prefeitura, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e do Iphan para a preservação do espaço. Um conselho de gestão será formado para deliberar possíveis ações no local.

 

RECONHECIMENTO

O título de Patrimônio Cultural da Humanidade é concedido pela Unesco a monumentos, edifícios, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. Além de catalogar esses bens, o reconhecimento ajuda na proteção e preservação do patrimônio.

 

Funcionamento da igrejinha

Embora muitos turistas e até belo-horizontinos desconheçam, a igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, funciona diariamente, com exceção das segundas-feiras.

De terça-feira a sábado, das 9h às 17h, e, aos domingos, das 9h às 14h, ela é aberta para visitações.

Duas vezes por semana, ainda são celebradas missas no local: terças-feiras, às 20h, e, domingos, às 9h30.

 

ALÉM DISSO

Igrejinha foi feita pelas “mãos” de artistas renomados

A igreja São Francisco de Assis, também conhecida como “igrejinha da Pampulha”, foi construída em 1943 e logo considerada um marco na história da arquitetura brasileira – e o primeiro trabalho expressivo de Oscar Niemeyer, convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek.

A singularidade do projeto está na sucessão de abóbadas (tetos arredondados): duas cobrindo a nave e o santuário e outras três envolvendo a sacristia e os anexos. O formato é uma alusão às montanhas de Minas e uma maneira que o arquiteto encontrou de manifestar-se contra o padrão arquitetônico retilíneo da época, conforme ele mesmo declarou, anos após a conclusão das obras.

A convite de Niemeyer, outros artistas renomados participaram da construção da igrejinha. Cândido Portinari é autor do painel externo de azulejos azuis e brancos, que retratam cenas da vida de São Francisco. São dele, também, os 14 painéis que ilustram a Via Sacra, no altar.

Alfredo Ceschiatti, cujos trabalhos sempre acompanharam as obras do arquiteto, esculpiu os painéis em bronze que mostram a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Burle Marx assina o trabalho paisagístico dos jardins da igreja, enquanto Paulo Werneck produziu os mosaicos em pastilhas das laterais da abóbada na nave. 

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