Atividade física na infância previne problemas na coluna no futuro

Renata Galdino
rgaldino@hojeemdia.com.br
05/06/2016 às 20:15.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:45

(Wesley Rodrigues)

As previsões não são animadoras. Por causa dos hábitos errados e do sedentarismo, 100% da população corre o risco de apresentar dor ou algum problema de coluna no futuro, alertam especialistas. A postura inadequada ao usar celulares e tablets, inclusive, terá grande parte de culpa nesse cenário.

Hoje, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva da Coluna, o ortopedista Wilson Dratcu, cerca de 80% dos adultos em todo o mundo sentem dores na coluna.

“Mas isso pode chegar logo, logo a 100% se continuarem descuidando da postura e não praticarem atividades físicas”, afirma o médico, que também é membro do Grupo de Cirurgia Minimamente Invasiva da Coluna do Hospital São José da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

E engana-se quem acredita que problema de coluna é apenas preocupação de adulto. Uma das formas de minimizar dores ou doenças futuras é começar a praticar esportes na infância. “Reduz as consequências, mas não é garantia de que os problemas não irão aparecer. A coluna, assim como todas as partes do nosso corpo, envelhece em um processo degenerativo natural. Mas a adoção de hábitos saudáveis pode amenizar os impactos”, frisa Wilson.

Desde cedo

Na infância, os exercícios combatem a obesidade – uma das causadoras de problemas nas costas – e fortalecem e alongam a musculatura. A probabilidade de os pequenos tomarem gosto pelo esporte e continuar ativos quando adultos também é grande. “O envelhecimento da coluna começa pelo disco intervertebral, que não tem artéria e recebe nutrientes por meio do movimento. Por isso, a atividade física mantém a saúde da coluna. O sedentarismo é nocivo para ela, aumenta as chances de doenças”, diz o ortopedista.

A indicação é seguida à risca pelo estudante Otávio Augusto de Assis Ferreira Monteiro, de 10 anos. Além dos exercícios na aula de educação física, no Colégio Magnum, ele é aluno da escolinha de futebol da instituição.

Há um ano, o garoto torceu o tendão da perna e o médico disse que a recuperação seria rápida. “Ele falou que eu estava bem de saúde porque eu faço bastante esporte. Não pretendo parar”, afirma.

Em estado de atenção

Reforçando a máxima da importância da atividade física para a boa saúde da coluna desde a infância, Marcos Antônio Ferreira Júnior, do Comitê de Especialidades de Ortopedia e Traumatologia da Unimed-BH, também orienta os pais a darem atenção imediata às queixas de dores nas costas pelos filhos menores.

O problema, segundo o especialista, é comum em adultos, mas raro em crianças. “Pode ser indicativo de problema na coluna. O médico deve avaliar e chegar ao diagnóstico do motivo da dor. Se não tratar, a piora é progressiva e pode se agravar ao longo do tempo. Nesses casos, o tratamento é mais agressivo. O melhor é tratar precocemente”, explica o ortopedista.

Também cabem aos pais, segundo Marcos Antônio, estimular os filhos a praticarem algum esporte e controlar a dieta das crianças e dos adolescentes. “Isso para evitar a obesidade e os problemas advindos dela, não somente para a coluna, mas para a saúde como um todo”.

Professor deve estar alerta para ajudar os pais a identificar problemas posturais

O educador físico na escola tem papel fundamental no estímulo à prática de esportes entre crianças e adolescentes, inclusive fora do ambiente escolar, afirma o ortopedista Marcos Antônio Ferreira Júnior, do Comitê de Especialidades da Unimed-BH. Levando em conta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que crianças e adolescentes pratiquem atividade física pelo menos cinco vezes por semana, o médico acredita que a quantidade de aulas da disciplina são insuficientes e realizadas dentro de um período curto.

O especialista também reforça que a função do professor de educação física vai além. “Ele pode identificar a má postura, por exemplo. Nesses casos, deve orientar os pais a levarem o filho a um médico para avaliação e tratamento, se for o caso”, observa.

Todo esse cuidado, o professor e coordenador de educação física do Colégio Magnum Buritis, em Belo Horizonte, Jonathan Nunes, garante ter com os alunos. “A disciplina vai muito além da recreação e do lazer”, afirma.

Prova disso é que as aulas de educação física na escola se dividem entre práticas e teóricas. Em cada série do 6º ano do ensino fundamental até o fim do ensino médio, Jonathan leva os alunos para a sala e aborda temas atuais e relacionados à saúde, mostrando a importância da prática de esportes. “Falamos sobre obesidade, por exemplo, o que é, os problemas que causa e como evitar, que é através de uma alimentação saudável e exercícios físicos”.

Sempre atento

O descuido com a postura também é observado por Jonathan no dia a dia na escola. Segundo ele, o educador físico deve estar atento aos detalhes. “Como o aluno senta, anda, descansa. Isso tudo é importante e pode ajudar a identificar problemas posturais. O professor deve corrigir uma corrida mal feita, mostrar a maneira correta de andar. Essa intervenção é muito importante na vida do aluno”, ressalta.

Que o diga a estudante Bianca Oliveira Freitas Ferreira, de 10 anos. Quando a garota se senta na posição errada, ela conta que sempre tem alguém para alertá-la sobre a postura inadequada – seja na escola ou em casa. “A minha mãe, todos na minha família falam quando eu sento errado. O professor de educação física também puxa a minha orelha. Mas eu sei que é para o meu bem, para a minha saúde”, diz.

“Os pais devem sempre chamar a atenção das crianças e dos adolescentes quando esses estiverem sentados em posição inadequada” (ortopedista Marcos Antônio Ferreira Júnior, do Comitê de Especialidades de Ortopedia e Traumatologia da Unimed-BH)

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