Nascida no Vale do Jequitinhonha, Veranilta Alves Costa cresceu entre canteiros de hortaliças e árvores frutíferas. Quando se mudou de Coronel Murta para Belo Horizonte, ela morou nos bairros Concórdia e da Graça, na região Nordeste. A transferência para a cidade grande não impediu que Vera, como a enfermeira de 59 anos é conhecida, continuasse cultivando verduras, legumes e frutas.
Mas foi no Ribeiro de Abreu, na região Norte, onde mora há 30 anos, que ela encontrou campo fértil para manter a tradição do interior de Minas na “selva de pedra” que a capital se transformou. “Meu pai trabalhava na lavoura e tomei gosto pela plantação com minha mãe. Hoje, divido meu tempo entre o trabalho de cuidadora de idosos e os afazeres no quintal”, afirma.
Ao lado da casa onde Vera mora com o marido e a filha, há uma grande variedade de culturas. As hortaliças, frutas e ervas medicinais são consumidas pela família, vendidas ou doadas na região. “Da própria horta, tiro o saião, planta que serve para combater as pragas. Da criação de galinhas, vem o esterco usado como adubo natural. Nada leva agrotóxico”, ressalta a enfermeira. Ela também tira dos canteiros matéria-prima para a fabricação de sabão e detergente.
Pesquisa
A importância dos quintais para a economia e agricultura de Minas, desde o período colonial (séculos 18 e 19), é pesquisada há três anos pelo professor José Newton Coelho Meneses, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG. Até o fim de 2014, ele deve lançar um livro sobre o estudo.
A pesquisa relaciona a produção dos quintais com a tradicional culinária mineira e a qualidade de vida, por causa da inexistência de agrotóxicos nos cultivos em pequena escala. “Quem se alimenta de produtos orgânicos tem a nítida impressão de consumir coisas saudáveis e, de fato, está. Também há uma valorização da autossustentabilidade”, destaca o especialista.
Terapia
A presidente do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais, Heloísa Magalhães de Oliveira, afirma que o contato com a natureza é outro benefício da preservação dos quintais. “É uma prática saudável, em que a pessoa tem o prazer de tocar na terra, uma atividade que alivia o estresse”, afirma.
Ao pesquisar os quintais das vilas mineiras no período colonial, o professor da UFMG faz uma abordagem sobre a valorização feminina na época. “A mulher tinha pouco espaço na sociedade e os quintais serviam inclusive para a educação dos filhos”, diz Meneses. Imagens, inventários, registros de viajantes e antigos documentos de câmaras municipais fazem parte do vasto material pesquisado por ele.