Belo-horizontinos fogem do Mundial

Renato Fonseca - Hoje em Dia
10/06/2014 às 07:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:56
 (Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

Às 16h40 da próxima quinta-feira, milhares de torcedores estarão no estádio Itaquerão, em São Paulo, no aguardo para ver os jogadores de Brasil e Croácia subirem o túnel que liga os vestiários ao gramado. Enquanto nas arquibancadas a expectativa é para uma boa estreia da Seleção no jogo de abertura da Copa do Mundo, em Belo Horizonte, o administrador Luis Gustavo Camillo se volta para o vinho do Porto, bacalhau e pastel de Belém, iguarias de Portugal.   Ele estará de malas prontas para Lisboa e dará as costas para o torneio em solo nacional. É a fuga do Mundial. “Gosto de torcer pela Seleção, mas a desorganização e o receio de tumultos e transtornos generalizados me motivaram a fazer a viagem durante o evento”, conta o morador do bairro de Lourdes, zona Sul de BH, que fará o passeio ao lado da mulher e dos dois filhos. O sentimento avesso à realização da Copa não é exclusivo de Luis Gustavo.    Assim como ele, muitos mineiros não estão empolgados com a competição e pretendem deixar o país. A psiquiatra Adelina Vieira Torres, de 57 anos, embarca rumo à Sicília (Itália) daqui a dois dias. Ela vai passar um mês na Europa, bem longe da festa brasileira. “Estou unindo o útil ao agradável, pois o movimento no consultório será muito pequeno neste momento”, afirma.   Chefe do Departamento de Antropologia da UFMG, o professor Andrés Zarankin aponta que a empolgação limitada é evidente e motivada, principalmente, pelo descontentamento da população. “As pessoas estão insatisfeitas com a importância que o governo deu para o torneio de futebol em meio aos problemas sociais que persistem no país”, afirma Zarankin, que também citou o medo da onda de manifestações.   “O exemplo das concessionárias ao longo da avenida Antônio Carlos (na Pampulha) deixa isso muito claro. Em vez de lojas abertas, promoções chamando os clientes e decoração festiva com bandeiras em verde e amarelo, o que se vê são cercas elétricas e até contêineres”.   O outro lado   Se por um lado a empolgação deixa a desejar, muitos outros fazem valer a máxima de que futebol é tratado como “paixão nacional”. Torcedor fanático do Cruzeiro, o advogado Rafael Nogueira de Oliveira, de 36 anos, comprou ingressos para todas as partidas que serão disputadas no Mineirão, com exceção da semifinal, que não conseguiu os bilhetes.   Ele não vê a hora de curtir os jogos ao lado de amigos e familiares. “O fanatismo pelo futebol é influência do meu pai. Desde criança, sempre fui ao estádio e vamos vibrar muito com a disputa da Copa do Mundo”, diz.    Mesmo sentimento tem o mineiro Guilherme Barbosa da Silva, de 30 anos. Morando em São Paulo há um ano, ele pretende vir a BH para curtir o Mundial ao lado dos amigos. “Toda Copa fazemos uma camisa decorativa. Neste ano, escolhemos a branca retrô, de 1930, a primeira que o Brasil usou”. 

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