Passageiro “dá o pulão” em ônibus no Centro de BH; assessoria do sindicato dos trabalhadores do transporte coletivo diz que problemas não estão restritos à região Centro-sul da capital (Fernando Michel/Hoje em Dia)
Avenida dos Andradas, região central de Belo Horizonte, “hora do rush”. Linha 9412, Conjunto Taquaril/Padre Eustáquio. O ônibus para no ponto em frente à Estação Santa Tereza do metrô e passageiros embarcam. No entanto, vários não seguem o ritual de pagar a passagem: pulam a roleta ou entram pelas portas traseiras, destinadas à saída.
Este é apenas um dos problemas enfrentados por motoristas do transporte coletivo na capital. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTRBH), são registradas por dia, em média, de cinco a sete agressões, verbais ou físicas, aos profissionais da categoria. E mesmo quem nunca sofreu violência teme se tornar mais uma vítima, devido às constantes ameaças dos passageiros clandestinos ao serem repreendidos.
Na semana passada, o Hoje em Dia flagrou diversas vezes homens e mulheres usando o transporte coletivo sem desembolsar um tostão por isso. Na última quinta-feira (22), na linha 9412, foram várias ocorrências. Em um único ponto, seis pessoas de uma vez subiram no coletivo sem pagar.
Veja vídeo com o flagrante de passageiros embarcando pela porta do meio em um ponto de ônibus da rua dos Tupinambás, no Centro de BH:
“Das seis viagens que faço, em todos os horários pulam a roleta ou entram pela porta que não pode. Paro em todos os pontos, e quem já está dentro do ônibus dá sinal para abrir a porta do meio. Aí as pessoas que estão do lado de fora aproveitam e entram”, conta um motorista, que não será identificado por questões de segurança.
Segundo o condutor, o problema se repete no ponto final, quando o veículo está prestes a iniciar nova viagem: ninguém paga passagem no sentido Centro. Cartão da BHTrans no visor ou dinheiro na mão do motorista, só quando o ônibus começa a se aproximar da região central, onde outros passageiros embarcam.
Sem retaguarda
O profissional afirma se sentir tão intimidado com a postura desses usuários que teria chegado a procurar a empresa onde trabalha pedindo ajuda. Mesmo relatando as ameaças que teria recebido após repreender passageiros, nada foi feito.
“Uma vez, me recusei a abrir a porta do meio e um homem gritou do lado de fora: ‘o que é isso, motô, aqui quem manda é nós’, e quebrou o retrovisor”.
Com medo de represálias, o motorista diz que não queria registrar ocorrência policial, mas teve que fazê-lo ou seria obrigado a arcar com o prejuízo. “A preocupação deles parece ser mais a de alguém ficar preso na porta e dar um problema para a empresa do que com quem não paga”.
O STTRBH diz orientar os trabalhadores a coibir as evasões dentro dos limites do “equilíbrio e da segurança”. Afirma, ainda, que ameaças sofridas pelos motoristas durante a jornada de trabalho, por diferentes motivos, levam vários a buscar atendimento psicológico.
Procurado pelo Hoje em Dia, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra-BH) informou que os motoristas são orientados a chamar as forças de segurança para agir nas situações apresentadas. Caso o episódio ocorra em um local sem apoio policial, a recomendação é solicitar ajuda e não confrontar o passageiro em questão.
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