O sol sequer tinha raiado e a fila de pessoas na Praça do Peixe, no bairro Lagoinha, região Noroeste de Belo Horizonte, já ultrapassava os 500 metros. O motivo já é conhecido pela maioria dos belo-horizontinos: há 23 anos, o gesto de solidariedade de um comerciante transformou o endereço em um ponto de distribuição gratuita de peixes na Sexta-Feira da Paixão.
Quem está à frente dos trabalhos é Afonso Teixeira que, por décadas, trabalhou no ramo da peixaria. Apesar de ter mudado de profissão, todos os anos continua a encomendar enorme quantidade do alimento para ser distribuído à população carente durante o feriado da Semana Santa.
Mas já é de praxe. A quantia exata de peixes distribuídos e o número de beneficiados ele não revela. “Se eu contar, fica parecendo propaganda”, justifica-se Afonso, que garante se sentir recompensado com a alegria das pessoas.
Nesta sexta-feira, as senhas começaram a ser distribuídas às 7 horas e, uma hora depois, os portões se abriram. Ao contrário dos anos anteriores, desta vez foi permitido que as crianças também levassem para casa uma sacola plástica, onde estavam 30 peixes chicharros. “Abri a exceção para não sobrar peixe. Parece até que teve uma multiplicação”, brincou.
Quem chegou mais cedo ganhou um brinde. Pelo sacrifício de ficar tanto tempo esperando, mereceram levara para casa o dobro do alimento.
A diarista Maria Auxiliadora Vieira da Silva, de 66 anos, fez parte do grupo. Ainda eram 3 horas da madrugada quando ela saiu de casa, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana, para garantir um lugar na fila. “Não como outro tipo de carne nesta data e, se não fosse essa ajuda que recebemos, ficaria sem peixe hoje porque o dinheiro não ia dar para comprar para a família toda”.
Quem também encarou a longa fila foi Denise Barbosa, moradora do bairro Pindorama, na região Noroeste. “Ouço falar dessa iniciativa desde criança, mas foi a primeira vez que participei. Achei tudo lindo, adorei esse clima de confraternização”, disse a artesã que convidou cinco filhos e Jesus para o almoço de sexta.
No bairro da Tijuca, em Contagem, outras 425 famílias também foram beneficiadas com a distribuição gratuita de peixes, feita pelo comerciante Agnaldo de Sá Filho