Bispo mineiro acusado de corrupção em Goiás é solto e se diz 'injustiçado'

Da Redação*
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Publicado em 23/04/2018 às 16:00.Atualizado em 03/11/2021 às 02:29.
 (Reprodução Facebook Jornal O Sul de Minas)
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Acusado de desvio de R$ 2 milhões de recursos das 33 paróquias da diocese de Formosa (GO), o bispo mineiro Dom José Ronaldo Ribeiro, de 61 anos, vai aguardar o julgamento em liberdade. Ele foi solto na última terça-feira (17), após um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), e falou pela primeira vez com a imprensa. "Fomos massacrados, acusados sem provas, com um método absurdo de condenar, prender e apurar", disse Dom Ronaldo em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo.

Ele afirmou ainda que as acusações são injustas e que, durante os 30 dias de prisão, passou por humilhações que considera impensáveis, como as duas vezes em que foi obrigado a ficar quase nu, só de cueca, para a revista aos presos. "Sou inocente, tenho certeza de que nada fiz de errado", afirmou. 

O bispo celebrou a liberdade com uma missa improvisada na capela da residência episcopal, um espaço de 15 m². Junto com ele estava outro acusado, o padre Thiago Wenceslau, juiz eclesiástico com doutorado na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, que chegou à cidade de Formosa em um domingo e foi preso na manhã seguinte, acusado de agir com o bispo. 

Durante a celebração, padre Thiago chorou e contou que fez cinco dias de jejum, em sinal de protesto contra a prisão. Ele foi o último do grupo a ser solto. Além dos dois, também ganharam a liberdade um monsenhor, dois padres e dois empresários, todos presos na Operação Caifás, sob acusação de falsidade ideológica e desvio de dinheiro das paróquias.

Entenda as denúncias

Na acusação do Ministério Público de Goiás, Dom Ronaldo é citado como chefe de um grupo que teria desviado mais de R$ 2 milhões do dízimo ofertado às paróquias, segundo denúncia assinada por 30 de seus diocesanos. O dinheiro teria comprado uma fazenda de criação de gado e uma lotérica.

Mas segundo o bispo, quem fez a compra foi padre Moacyr Santana, com recursos próprios, o que não caracterizaria crime. O bispo também acusa padres que, na sua avaliação, armaram as denúncias para se livrar dele. "É um grupo articulado que armou esse esquema há anos, desde minha passagem pela Diocese de Janaúba (MG), de onde fui transferido para Formosa em 2014". Ele contou que a armação começou quando levou para Janaúba ex-dependentes de drogas de quem cuidava no trabalho pastoral. 

Dom Ronaldo está proibido de sair de Formosa e foi obrigado a entregar o passaporte.

O bispo mineiro

Mineiro de Uberaba, onde nasceu em 1957, Dom Ronaldo exerceu várias funções na arquidiocese de Brasília. Foi vigário geral e membro do Conselho do Conselho Arquidiocesano para Assuntos Econômicos. Nomeado pelo papa Bento XVI em junho de 2007, foi ordenado bispo pelo então arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz, atualmente prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Após ganhar a liberdade, Dom José Ronaldo saiu direto do presídio para a residência episcopal, em vez de se hospedar na Casa do Clero, para padres doentes e idosos, conforme lhe aconselharam. "Vim para cá, porque esta é minha morada. Eu ainda sou o bispo de Formosa, embora afastado", afirmou. Mas quem decidirá onde ele deve ficar é o administrador apostólico, Dom Paulo Mendes Peixoto, arcebispo de Uberaba (MG), designado pelo papa Francisco para dirigir a diocese na ausência do titular. Ele deixou a Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP), para passar o fim de semana em Formosa.  

Dom Ronaldo permanecerá fora do cargo até a definição de sua situação na Justiça. Se for absolvido e o papa permitir,  pretende retomar suas funções, embora admita reavaliar a intenção. 

(*Com Estadão Conteúdo)

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