Para alguns dos mais de 300 blocos do Carnaval de Belo Horizonte, a festa é muito mais que só diversão. Além de exibir estandartes, grupos levantam bandeiras em nome de uma causa, seja na luta contra o preconceito ou na defesa das áreas verdes.
Um exemplo é o bloco Todo Mundo Cabe no Mundo, criado pelo escritor e cadeirante Marcelo Xavier. O principal objetivo é ser absolutamente democrático e inclusivo. O bloco luta contra a discriminação que os portadores de deficiência sofrem.
“O Carnaval carrega a utopia de união de todas as classes, sexos, cores e religiões. A grande força dele é o tom democrático”, afirma Marcelo Xavier, que escreveu três marchinhas para o primeiro desfile do bloco, no ano passado, e outras duas para o cortejo deste ano, marcado para dia 26, no Santa Efigênia, região Leste da cidade.
Quem também levanta a bandeira do fim do preconceito é o Grito de Carnaval da Apae, que no dia 18 chega à 11ª edição. Dessa vez, com uma novidade: além do cortejo pelas ruas de Santa Tereza, também na região Leste, haverá show com artistas voluntários em um palco montado em frente à instituição, na rua Cristal.
"Nossa festa permite uma socialização entre instituições que trabalham com portadores de deficiência e a comunidade”, diz a educadora Sanderleia Rodrigues.
A própria bateria da Apae é uma mostra da capacidade dos portadores de deficiência mental. Todos os percussionistas, de 18 a45 anos, são atendidos pela instituição. “É muito divertido, a gente ganha muito aprendizado com a bateria”, conta Dalva do Carmo, de 45 anos, que participa do projeto desde 2009.
Contra o racismo
A luta contra a intolerância religiosa marca o Carnaval do Afoxé Bandarerê, um dos seis blocos afro que vão abrir a festa de BH, no dia 24, na praça da Estação, no Centro. “O melhor jeito de combater o preconceito é se mostrar e exigir direitos”, afirma Márcio Antunes, organizador do bloco que também desfila pelas ruas do bairro Concórdia, na região Nordeste. Segundo ele, no evento de abertura, além de levantar a bandeira contra o racismo, os blocos afro vão discursar contra a homofobia.
Natureza
Moradores do Jardim América se uniram, em 2011, em uma luta para que a única área verde do bairro da região Oeste não fosse transformada em prédios. Em 2015, viram que o Carnaval seria uma ótima forma de divulgar a causa e criaram o bloco Parque JA, que este ano sai da rua Gávea, no dia 18. “Nossa pauta é maior do que a luta pela criação de um parque. Também tratamos da derrubada indiscriminada de árvores em toda a cidade. Chamamos a atenção para a escassez de áreas verdes na região Oeste”, afirma Flávio Meireles, um dos membros do movimento.