Bom exemplo de sustentabilidade: utilização de água da chuva

Thaís Mota - Hoje em Dia
Publicado em 22/03/2013 às 10:38.Atualizado em 21/11/2021 às 02:09.

Diante da ameaça de que a água doce possa acabar no futuro, a economia deste bem essencial à vida passou a  ser uma das principais questões socioambientais do mundo atual. Por isso, além de atitudes individuais, como fechar a torneira enquanto escova os dentes ou reduzir o tempo debaixo do chuveiro, algumas empresas estão investindo em projetos sustentáveis que, além de economizar água, reduz o impacto sobre o meio ambiente.

Uma destas iniciativas está presente na construção do edifício inteligente que abrigará a nova sede da Fundação Forluminas de Seguridade Social (Forluz), fundo de pensão dos funcionários da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O prédio, localizado na avenida Barbacena, 1.219, no Santo Agostinho, região Centro-Sul de BH, está sendo construído com base em um conceito de sustentabilidade e terá um sistema de captação, tratamento e armazenamento de água da chuva. Além disso, o projeto prevê ainda o reaproveitamento da água cinza, ou seja, aquela água utilizada nas torneiras do edifício.
 
Segundo a arquiteta da Cemig, Marisa Lanna, que coordena a construção da nova sede da Forluz, todo o prédio foi pensado de maneira sustentável e o sistema de captação de água da chuva e reuso da água cinza, aliado ao uso de equipamentos mais eficientes nas descargas e torneiras dos banheiros, corresponderão a uma economia de até 40% do consumo de água potável. "Além de gerar uma economia de gastos, o sistema reduz também o consumo do recurso natural e economiza energia, já que o tratamento da água requer gasto de energia elétrica", destaca.
 
Além disso, a arquiteta chama atenção ainda para a redução da carga de água pluvial sobre o sistema de drenagem das ruas e avenidas da capital mineira. Marisa Lanna explica que o sistema, instalado na cobertura do edifício, coleta água da chuva que, em seguida, passa por um processo de filtragem, e depois fica armazenada em um reservatório com capacidade para 190 m³. Já a água cinza passa por um tratamento um pouco mais completo e, posteriormente, é destinada ao mesmo reservatório. Essa água armazenada será utilizada nas descargas dos banheiros e no sistema de irrigação de uma praça de aproximadamente 1800 m² na área do edifício. "O projeto prevê ainda que a limpeza do prédio também seja feita com esta água, por isso, haverá torneiras específicas com a sinalização de que a água é imprópria para uso próprio", completa.
 
Como o sistema é totalmente automatizado, em casos de muita chuva o reservatório libera o excesso de água para as galerias subterrâneas. Já em períodos de seca ou estiagem, o sistema é abastecido com a água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) que já é distribuída  às demais áreas do prédio.

Outro ponto importante a ser destacado é que a implantação de um sistema de captação de água da chuva não tem custo elevado. Segundo a arquiteta, que fez um levantamento com base nos na obra do prédio da Forluz, o sistema de captação de água da chuva e reaproveitamento da água cinza corresponde a 0,1% do custo total da construção, prevista para estar terminada em dezembro deste ano. Além disso, o sistema pode ser implementado em imóveis concluídos. "Infelizmente, a gente consegue vender a ideia mais nos edifícios comerciais porque o retorno vem no condomínio e dilui-se entre os condôminos. Em prédios residenciais, ainda é muito pouco comum no Brasil".
 
Legislação
 
Apesar de não haver uma regulamentação que trate da economia ou reaproveitamento de água no Brasil, um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal de Belo Horizonte condiciona a liberação de alvará para construções que atendam a algumas normas de captação, conservação e uso da água nos edifícios.

De autoria da ex-vereadora Neusinha Santos (PT), o projeto prevê que os sistemas hidráulicos-sanitários das novas construções sejam implantados com equipamentos que comprovadamente gerem uma maior economia de água. A norma determina ainda a instalação de chuveiros e lavatórios com volume fixo de água e torneiras com arejadores, além de definir diretrizes para a implantação de sistemas de captação de água da chuva e reuso de águas servidas, ou seja, já utilizadas. Em edifícios com condomínio, o projeto prevê ainda a instalação de hidrômetros individuais, o que induz o consumidor a economizar água,  uma vez que ele paga apenas pelo que consome.
 
Segundo a ex-vereadora Neusinha Santos, o projeto é de uma importância enorme e trata de uma questão fundamental para a capital mineira. "BH tem ficado muito atrás na questão das energias brancas e nessas medidas que protegem o nosso meio ambiente e, atualmente, estamos em um momento que a sustentabilidade do planeta está bastante crítica". A ex-parlamentar, que atualmente compõe o Conselho Nacional das Cidades, defende ainda que a captação de água da chuva seja condicionante para as novas construções.
 
Neusinha disse ainda que desde 1995 vem levantando esta questão na Câmara, mas o projeto nunca avança, talvez pelo desconhecimento dos parlamentares e prefeitos que passaram pela administração da capital da necessidade de se otimizar o uso da água. "Além de economia gerada pela utilização da água da chuva, poderíamos ainda minizar os impactos e estragos que as fortes chuvas trazem para Belo Horizonte já que ao armazenar a água estaríamos diminuindo o volume das enxurradas nas ruas e corredores da capital", concluiu.
 
O projeto de lei 14/2009 foi aprovado pela Câmara, mas vetado pelo prefeito Marcio Lacerda. A proposição estava na pauta deste mês de março, mas não houve tempo para ser apreciado pelos vereadores e a previsão é de que o veto seja discutido na Casa em abril.

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