As buscas pelo corpo de um operário que foi soterrado após o rompimento de barragem em uma mina da Herculano Mineração Ltda, em Itabirito, Região Central do Estado, foram retomadas no início da manhã desta quinta-feira (11). O rompimento da área de descarte de rejeitos da produção, equivalente a 100 mil metros quadrados (ou dez campos de futebol), causou a morte de dois operários e deixou 300 residências sem água e energia elétrica. Além disso, outros três trabalhadores ficaram feridos.
Conforme o Corpo de Bombeiros, militares de Itabirito, Belo Horizonte e Ouro Preto trabalham na localização do operador de retroescavadeira Adilson Aparecido Batista, de 44 anos, que segue desaparecido. O helicóptero da corporação e dois cães farejadores auxiliam nas buscas. A Polícia Civil já abriu um inquérito para apurar o que provocou o deslizamento.
Na mina haviam quatro barragens, sendo duas de água e duas de rejeitos. A barragem “B3”, de rejeitos, se rompeu, provocando o deslizamento de terra. Adilson estava operando uma retroescavadeira na hora do acidente. Como somente a máquina foi encontrada, os bombeiros suspeitam que ele percebeu que a barreira tinha se rompido e tentou sair do local.
Na quarta-feira (10), data da tragédia, os bombeiros retiraram o corpo de Reinaldo da Costa Melo, de 68 anos, topógrafo, que, no momento, estava fazendo uma medição embaixo da barragem “B3”. A morte de Cristiano Fernandes Silva, de 32 anos, motorista de caminhão, também foi confirmada.
Investigação
As causas do acidente ainda não foram esclarecidas. A delegada Mellina Isabel Silva, da Delegacia de Itabirito, instaurou inquérito para investigar o que levou uma das barragens de rejeito a se romper. Ela sobrevoou o local e tirou diversas fotos.
A delegada já ouviu o gerente administrativo da empresa, mas não revelou o conteúdo da conversa. Hoje serão intimados familiares das vítimas, funcionários e donos da mineradora. “Vamos aguardar o laudo técnico”, disse, sem emitir opinião sobre a denúncia da existência de rachaduras na barragem.
Conforme informações do Corpo de Bombeiros, existem relatórios que atestam a estabilidade da barragem. Esses relatórios são de 2013 e valem por um ano. Além disso, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) esteve na mina em 21 de agosto e também avaliou que estava tudo dentro dos conformes.
Interdição
No início da tarde de quarta, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) divulgou comunicado informando que a mineradora tem licença ambiental e que, atualmente, está em processo de revalidação da licença de operação. Porém, no início da noite, a Herculano foi interditada, por tempo indeterminado, pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Departamento Nacional de Produtos Mineral (SNPM) e pela própria (Semad).
O motivo, de acordo com os órgãos, é o fato de a estrutura ainda trazer risco de novos acidentes. A empresa terá um prazo de dez dias para apresentar a defesa e apontar soluções e o cronograma de reparo dos danos.
Mineradora lamenta a tragédia
Em nota, a Herculano Mineração lamentou o acidente. “A empresa informa que ainda estão sendo apuradas as causas do acidente, tanto por seu corpo técnico quanto pelas autoridades locais (Corpo de Bombeiros, Polícias Militar e Civil, Defesa Civil e órgãos ambientais). De acordo com essas autoridades, infelizmente foram confirmadas duas vítimas fatais e um)funcionário ainda não foi localizado. A empresa está prestando todo suporte às famílias dos envolvidos. Todas as medidas estão sendo tomadas no sentido de garantir a integridade de seus funcionários e minimizar os prejuízos à comunidade local e ao meio ambiente”, diz.
Histórico
Nos últimos 13 anos, pelo menos quatro grandes deslizamentos de terra foram registrados em decorrência da atividade minerária. O maior deles aconteceu em 2001, no distrito de Macacos, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Um dos problemas está na fiscalização, como reconhece o diretor de Gestão de Resíduos da Feam, Renato Brandão. Segundo ele, o Estado tem 11 agentes disponíveis para vistoriar 744 barragens, ativas e inativas. “Mas não é só a fiscalização que garante a estabilidade das barragens, pois elas estão constantemente sendo movimentadas”, diz Brandão. A última auditoria na bacia de resíduos da Herculano Mineração aconteceu em 27 de setembro do ano passado. Na ocasião, a estabilidade da estrutura foi garantida.
Em 2012, comissão especial da Assembleia solicitou o aumento de servidores para fiscalização das barragens. Na época, havia apenas um.