Cardiologista é afastada por receitar remédios e consultas caseiras por falsa 'bactéria espanhola'

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br | @oBruninacio
Publicado em 09/01/2020 às 21:20.Atualizado em 27/10/2021 às 02:14.

Uma cardiologista foi afastada do quadro da Unimed-BH após uma família denunciá-la por um diagnóstico falso no qual uma paciente corria risco de morte. A profissional é acusada também de ter receitado remédios sem necessidade e orientar pacientes com diagnóstico parecido a fazer consultas particulares, na casa dela.

A conduta veio à tona nesta semana após a família de uma das vítimas publicar o caso em redes sociais. O irmão de uma mulher que consultou com a médica disse que a vítima chegou a desmarcar uma viagem porque a médica disse que ela poderia sofrer um ataque cardíaco a qualquer momento.

Segundo o estudante de direito Thiago Souza, que foi quem deu publicidade ao caso, durante exames de rotina que a irmã dele faz todo início de ano, a médica Denise Villani de Carvalho, que atende na unidade Pedro I da Unimed, solicitou uma bateria de exames. "A cardiologista pediu uma lista de exames que nenhum outro médico nunca pediu. Minha irmã achou estranho, mas decidiu fazê-los", contou.

Na última segunda-feira (6), quando a irmã de Souza retornou com os exames, a médica disse que a paciente estava com uma "bactéria espanhola", que poderia causar ataques cardíacos e morte a qualquer momento. "Disse, ainda, para ela chorar baixo, pois não estava autorizada pelo hospital a dar notícias assim para pacientes, correndo o risco de ser demitida", afirmou o estudante.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Na manhã de hoje, (06 de janeiro de 2020) minha irmã compareceu na @UnimedBh - Unidade Pedro I para consulta de rotina com um cardiologista. Anteriormente, ela realizou uma bateria de exames (holter 24hrs, eletrocardiograma, ecodoppler e sangue) e apresentou á médica. Para sua surpresa, após leitura dos exames, a doutora (DENISE VILLANI DE CARVALHO - CRM-MG 18203) lhe deu uma notícia devastadora. Comunicou de forma fria, que ela estava com uma "bactéria espanhola" no coração, e que poderia sofrer uma parada cardíaca a qualquer momento. Disse ainda para ela chorar baixo, pois não estava autorizada pelo hospital a dar notícias assim para pacientes, correndo o risco de ser demitida. Após isso, ela recomendou uma consulta particular para falar detalhadamente sobre a doença e tratamento que ela seria submetida. Ela tinha uma viagem marcada para o dia 7 de janeiro de 2020, e a "médica" disse que ela poderia infartar no caminho e que iria receitar um "remedinho" para que ela não sofresse uma parada cardíaca no percurso. Receitou ainda, fortes remédios para o coração e para a suposta bactéria da Espanha, sendo eles: 1 - Dexametasona AMP 10MG/2,5ML 2 - Cloreto de Sodio 9MG/ML (0,9%) FR 100ML 3 - Tenoxicam FR-AMP 20MG/2ML INJ 4 - Atenolol 25 ABLOK Após esse diagnóstico, minha irmã ficou sem chão, tentando assimilar essa notícia. Por vários momentos do dia tentei contato com ela, mas sem sucesso. Mal sabia o que estava acontecendo. Diante disso, ela foi imediatamente em outro médico, em busca de uma segunda opinião. Após consultar detalhadamente todos os exames, o médico disse que ela estava ABSOLUTAMENTE NORMAL e que não deveria se preocupar. Ao receber sua ligação aos prantos, relatando o ocorrido, fiquei extremamente revoltado e comentei com uma amiga minha, que por ironia do destino, disse que sua Tia teve um diagnóstico com uma Médica na Unimed da Pedro I, que ao averiguar exames, apontou uma bacteria em sua cabeça, e pediu para ela não fazer "alarde", pois poderia ser demitida. Após isso, disse para sua paciente que poderia atender e falar mais detalhadamente em particular, pois a unimed a proibia de dar esse tipo de diagnóstico (continua nos comentarios)

Uma publicação compartilhada por Thiago Souza (@fsouza.thiago) em

Para tratar da suposta doença, a profissional indicou o uso de remédios para alergia, doenças cardiovasculares e dores. Um outro profissional ouvido pela família descartou o diagnóstico ou a necessidade de uso de qualquer um destes remédios. "O médico conferiu todos os exames e disse que não tinha absolutamente nada acontecendo com a minha irmã", explicou. Um terceiro médico também desmentiu o primeiro laudo.

Consulta

Ao ser informada que a paciente viajaria no dia seguinte, a médica recomendou o cancelamento do passeio, segundo a família, e ainda orientou que fosse feita uma nova consulta, na casa dela e não mais no hospital da Unimed. "Ela é uma mulher extremamente fria que não se importa com o paciente. Eu não sei se ela visa o lucro, remetendo a uma consulta particular, ou se é loucura mesmo", comentou Souza.

A reportagem do Hoje em Dia ouviu outras duas pessoas que já teriam consultado com a mesma médica. Ambas disseram que já haviam recebido da profissional orientações para consultas em casa. "Eu estava sentido fortes dores no peito no ano passado. E ela me orientou a ir à casa dela, fez indicações de remédios. Sei que ela já falou com outras pessoas dessa bactéria espanhola", afirmou a secretária, de 46 anos, que pediu para não ser identificada.

Procurada, a médica disse que prefere esperar que o imbróglio seja resolvido para se posicionar. Disse, também, que está à disposição da Justiça. A Polícia Civil informou que ainda não recebeu denúncia sobre os casos. A família de Souza afirmou que vai procurar a Polícia Militar para denunciá-la.

Afastamento

A Unimed-BH afirmou que afastou a médica desde o dia que recebeu a denúncia até que as apurações do caso sejam finalizadas. Os procedimentos internos estão sendo feitos pela Comissão de Ética do Centro de Promoção à Saúde-Pedro I, onde ela foi atendida. "A cooperativa reforça que não mede esforços para apurar e repreender condutas que contrariem o cuidado, o respeito e a ética", diz nota enviada.

Já o Conselho Regional de Medicina disse que vai acompanhar as apurações, mas que o andamento dos procedimentos vai acontecer em sigilo, seguindo "protocolo estabelecido pelo Código de Processo Ético Profissional (CPEP). Os procedimentos correm sob sigilo. Obedecendo ao CPEP, somente as penalidades públicas impostas aos médicos poderão ser divulgadas."

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