(Ricardo bastos)
Pagar meia-entrada no show do artista dos seus sonhos não é difícil. Basta fazer uma carteirinha de estudante. Precisa ser estudante? Não. No centro de Belo Horizonte é possível conseguir o documento com uma foto 3x4, o nome completo e a informação, livre de qualquer comprovação, da instituição onde supostamente estuda o interessado.
O documento da União dos Estudantes Colegiais e Universitários (UE Brasil) é aceito em cinemas e casas de espetáculos da capital. Trata-se de uma fraude, ao alcance de qualquer um na rua Mato Grosso, 539, sala 1.504, ao custo de R$ 10.
A entidade informa, no site www.portalestudantil.com.br, uma série de convênios com descontos que vão de hospitais a advogados, motéis, além de uma limpeza dentária grátis.
Na carteira aparece também a logomarca da União dos Estudantes Colegiais de Minas Gerais, que em 2008 foi acusada de assinar e distribuir material de campanha irregular em Contagem, contendo acusações contra o então candidato a prefeito Ademir Lucas (PSDB).
Há ainda uma logomarca da UNE, mas diferente daquela usada pela União Nacional dos Estudantes, acima dos dizeres “Colegiais e Universitários”.
Máfia
A União Nacional dos Estudantes (UNE) considera que a emissão irregular de carteirinhas, como a de Belo Horizonte, alimenta uma “máfia”. “São entidades e empresas que se formam só para emitir o documento e ganhar dinheiro”, afirma o presidente da entidade, Daniel Iliescu.
Como não é difícil conseguir o documento que dá direito à meia-entrada e não há limites para a concessão do benefício, analistas avaliam que casas de espetáculo inflacionam os preços para não perder dinheiro.
Uma tentativa de moralizar esse quadro é a nova lei complementar que será votada pelo Congresso Nacional no próximo ano e limita em 40% os ingressos vendidos pela metade do valor para estudantes e idosos.
Mal menor
O produtor cultural Aluizer Malab, que em 9 de março de 2013 trará a Belo Horizonte o show de Elton John, no Mineirão, classifica como um “mal menor” a lei que vai limitar em 40% os ingressos para a meia-entrada. “Sou contra a imposição do benefício, afinal, os espetáculos são da iniciativa privada. Mas, dos males, o menor”.
Para Malab, a meia-entrada veio como medida eleitoreira e não soluciona a falta de incentivo à cultura no Brasil. “Por que não criam o desconto para estudantes na compra do carro?”.
Outro produtor cultural, Davi Souza, do espetáculo infantil “Pedro e o Lobo”, avalia que as carteirinhas ilegais “minam o artista. Não há controle, e quem sai perdendo é o artista e o produtor”. Se o projeto de lei moralizar o direito à meia-entrada, será um avanço, avalia.