Casos da síndrome mão-pé-boca dobram em Minas; surto é considerado sazonal

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
21/09/2018 às 20:31.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:35

(Flávia Ivo/Divulgação)

Nos últimos três meses, o número de cidades mineiras que registraram casos da síndrome mão-pé-boca mais que dobrou em Minas: 50 municípios tiveram notificações da enfermidade, aponta levantamento mais recente da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), fechado quinta-feira. Em junho, eram 24.

A doença é viral e acomete principalmente crianças de 0 a 5 anos, causando bolhas e feridas nos pés, boca e mãos, além de mal-estar e febre alta. Os casos têm aumentado de forma significativa. Foram 1.479 registros entre julho e setembro, ante 636 dos três meses anteriores ao período. Os dados, contudo, podem não refletir o tamanho do surto, uma vez que a síndrome não é de notificação compulsória e pode ser confundida com outras complicações. Oficialmente, 2.289 mineiros foram vítimas do vírus.

A cidade que mais contribuiu para os altos índices de registro de mão-pé-boca foi Monte Santo de Minas, no Sul do Estado. Só lá, foram 1.295 pessoas com a síndrome – quase todas crianças –, o que representa 56% das ocorrências no Estado. 

“Isso não quer dizer que tivemos mais casos aqui. Na verdade, o que fizemos foi notificar corretamente os registros para diagnóstico e solução”, afirma Maria Sandra Del Bel Pamplona, coordenadora municipal de vigilância epidemi-ológica. Outros surtos aconteceram em Três Pontas, também no Sul, e Dores de Campo, na região Central.

A SES-MG afirmou que há um aumento nos casos da doença entre o final do outono e o início do inverno e que os registros são maiores pois os profissionais estão mais sensibilizados

Afastamento

Os sintomas do vírus Coxsackie, responsável por provocar a doença, costumam desaparecer após seis dias de infecção. A transmissão é feita normalmente por vias oral e fecal. “É normal que crianças de até 5 anos levem sempre as mãos à boca, troquem brinquedos com coleguinhas e, por isso, é bom pais e professores ficarem atentos. A doença normalmente não leva a complicações, mas cada organismo reage de um jeito”, explica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A pediatra ressalta que, mesmo após a infecção, o paciente pode transmitir o vírus por até quatro semanas. “Assim, é recomendado o afastamento da criança de outros menores”, diz. É o que é feito em BH, onde houve 30 casos neste ano. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), em todos eles, os pais foram notificados e as crianças afastadas das aulas.

Higiene

A melhor prevenção, conforme a pediatra Maria Tereza Tavares, da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), é a higiene. “Quem tem contato com as crianças deve sempre lavar as mãos, higienizar bem roupas e alimentos”. 

Em Monte Santo de Minas, as equipes de saúde fizeram palestras nas escolas, com profissionais e mães. “Nosso objetivo foi monitorar casos e manter as famílias vigilantes com as situações de higiene, para que não houvesse propagação. Para isso, usamos uma cartilha enviada pelo governo de Minas”, acrescenta Maria Sandra Del Bel Pamplona.

Depoimento

"Calafrios, febre alta e dores no corpo. Parecia um quadro de sintomas de uma gripe forte ou inflamação na garganta, mas nada disso aconteceu. Com dois dias da aparente virose, começou uma coceira irritativa e ininterrupta nas mãos e nos pés, com o surgimento de manchas vermelhas semelhantes a uma dermatite ou mesmo reação alérgica. 

No hospital, exames de sangue e urina investigaram dengue, hepatite e outras possíveis enfermidades. Enquanto isso, no ambulatório, doses altas de antialérgicos e anti-inflamatórios. Nenhuma doença detectada, diagnóstico feito por eliminação: mão-pé-boca em uma adulta de 36 anos, sem filhos, e que não tem contato frequente com crianças.

As horas e os dias que sucederam foram de enfrentamento a uma enfermidade que parece ser estranha a muitas pessoas. Para a coceira e as bolhas, a boa e velha pasta d’água experimentada na infância quando tive catapora e pomada antialérgica. De uso oral, além do anti-histamínico, corticóides.

Senti que, assim como eu e as pessoas próximas não possuíamos informações sobre a síndrome, os profissionais de saúde que me atenderam também tinham pouco expertise para tratá-la.

Com o passar dos dias, as feridas secaram, as pontas dos dedos perderam a sensibilidade e mãos e pés iniciaram o processo de descamar. O alento que ficou apesar de todo o aborrecimento: o mão-pé-boca só foi mão-pé. Felizmente, a explosão de aftas típica da doença passou longe!"

Flávia Ivo, editora-adjunta de HorizontesEditoria de Arte

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