Casos de zika potencializam boatos sobre microcefalia

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
06/02/2016 às 07:20.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:19

O avanço dos casos de microcefalia no Brasil fez crescer não só a preocupação da população com a doença, cuja associação ao zika vírus ainda vem sendo estudada, como aumentou a disseminação de boatos sobre a gravidade da infecção e as implicações, sobretudo na saúde dos bebês.

O principal deles vem sendo compartilhado pelo WhatsApp. Na mensagem, por áudio, um homem, que se diz ligado à área da saúde e a um grupo de pesquisadores que discutem a situação do zika no Brasil, alerta para cuidados com crianças de até sete anos. A falsa notícia dá conta de que meninos e meninas poderiam desenvolver alterações neurológicas mesmo depois de nascerem.

A neuropediatra Marli de Araújo Marra, presidente do Comitê Científico de Neurologia Infantil da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), tranquiliza a população, principalmente as grávidas e, assim como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já fez, desmente as notícias.

Segundo ela, não existe, até o momento, qualquer evidência científica que relacione o zika a outras infecções além da microcefalia, doença que só se apresenta durante a gestação.

“Não se tem notícias sobre complicações depois do nascimento. E não há evidências sobre o comprometimento em crianças de até sete anos. É importante que as pessoas se conscientizem da importância de não divulgar notícias sem comprovação”, afirma.

Moleira

A associação entre a diminuição do perímetro cefálico, característica da microcefalia, e uma possível má-formação da moleira do bebê também vem sendo comentada. Também não existe, no entanto, qualquer relação entre uma coisa e outra. “Independentemente do tamanho do perímetro cefálico, da cabeça, a criança pode ter a moleira normal e até nascer com ela aberta. Não existe relação”, enfatiza Marli Marra.

Boatos que associaram a doença gestacional a vacinas contra rubéola também foram prontamente desmentidos. O Ministério da Saúde informou que a associação é irresponsável e representa um desserviço à população. “Não há nenhuma evidência científica que comprove essa teoria e essas especulações em nada contribuem para o esclarecimento da população”, enfatizou o órgão. Vacinas contra rubéola e sarampo não são aplicadas em grávidas.
 
Perguntas e respostas sobre zika vírus e microcefalia:

Existem outras formas de transmissão do zika além do mosquito?

O principal mecanismo é Aedes aegypti, mas há relatos na literatura científica, não comprovados, sobre transmissão sexual, por transfusão de sangue, de mãe para filho e até em laboratório.

Qual o tratamento para o zika? Algum medicamento deve ser evitado?

Assim como no caso da dengue, não há tratamento específico. O paciente deve se manter hidratado e repousar. Para sintomas como febre e dor de cabeça deve-se tomar dipirona. E para coceira na pele, antialérgicos. A dengue costuma baixar o número de plaquetas, úteis para a coagulação do sangue. Por causa disso, não é recomendado o uso de anti-inflamatórios com ácido acetilsalicílico na composição. No zika, a diminuição de plaquetas é pouco comum mas, por precaução, recomenda-se evitar os mesmos remédios.

Como o zika pode afetar o desenvolvimento do feto?

O vírus passa pela placenta e acomete o tecido cerebral, desacelerando o crescimento dos neurônios e de outras células. É essa alteração no crescimento do cérebro que altera o crescimento do osso. A calcificação pode impedir que o cérebro continue a se desenvolver bem.

Toda mãe que teve zika terá um bebê com microcefalia?

Não. A taxa de transmissão para o feto não é de 100%. Por se tratar de um assunto novo, ainda não é possível afirmar qual a chance de o feto desenvolver a doença.

Existem casos em que a microcefalia só é descoberta depois do nascimento?

Sim. Dependendo de quando ocorreu a infecção e de quando será o parto, pode não ser possível detectar a má-formação no ultrassom, se o contato com o vírus acontecer depois de seis meses de gestação, por exemplo.

O zika causa comprometimento neurológico no bebê?

A síndrome de Guillain-Barré é um comprometimento neurológico, autoimune, do sistema nervoso periférico e não é uma doença nova. No entanto, pode ser que os casos recentes estejam relacionados a uma reação do organismo que entrou em contato com o zika.

A mulher que teve zika deve esperar quanto tempo para engravidar?

Ainda não é possível estabelecer um prazo seguro para que a mulher com zika possa engravidar sem risco de contaminar o bebê. A indicação é esperar, se for possível.

Uma criança pode desenvolver microcefalia depois de nascer?

Não. A microcefalia não é uma doença transmissível. A infecção está associada a uma deficiência no crescimento do cérebro, durante a gestação, ou seja, é uma doença que ocorre dentro da barriga da mãe.

Fonte: Fiocruz

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