Celular é tomado por criminosos em mais da metade dos roubos em BH

Renata Evangelista
11/12/2019 às 08:02.
Atualizado em 05/09/2021 às 23:00

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Mais da metade dos roubos tem o celular como alvo preferido dos bandidos. De janeiro a setembro, 13 mil assaltos foram registrados em BH, sendo que, em 8,1 mil, os ladrões tomaram os telefones das vítimas. A facilidade em revender os aparelhos no mercado paralelo e a punição considerada “branda” são desafios.

Além de reforçar o patrulhamento nas ruas, é preciso combater a receptação, alertam especialistas em segurança. Conscientizar a população para não adquirir produtos de origem duvidosa – sem nota fiscal –, o que fomenta o crime, também é essencial. 

Enquanto os criminosos encontram brechas, quem já foi lesado se vê obrigado a adotar novos comportamentos. Caso da universitária Natale Marinho, de 25 anos. Roubada duas vezes – na última o ladrão estava com um revólver –, ela diz que não mexe mais no smartphone na rua.

“Além disso, escondo no sutiã. Assim, se levarem minha bolsa, o celular fica”, conta. A estudante recorda, ainda assustada, que há menos de um ano trabalhava em um restaurante, no Horto, região Leste, invadido por bandidos. “A intenção deles era levar o dinheiro do caixa. Pegaram R$ 4 mil, meu telefone e de mais duas pessoas”.

A região central de BH é um dos locais onde o crime é mais frequente. Lá, o estilista André Luiz Muniz, de 47, também se tornou vítima. Em dois anos, foi roubado três vezes. “A última foi em março, no Centro. O suspeito me ameaçou e exigiu meu aparelho. É frustrante essa sensação de insegurança. Depois de tanto desgosto, comprei um celular tão antigo que nem WhatsApp tem, justamente para evitar ser alvo dos criminosos”.

Combate

Ex-secretário adjunto de Segurança Pública, Luiz Flávio Sapori destaca que os smartphones são objetos de grande valor comercial. “Além de ser um roubo mais simples, se comparado a outros, os bandidos têm a opção de revender ou desmanchar para repassar as peças. A conexão entre o assalto e a receptação faz com que o produto seja tão desejado pelos ladrões”.

Para ele, a fiscalização para coibir a receptação deve ser reforçada e a punição – atualmente de um a quatro anos de cadeia –, ampliada. Conforme a legislação, em caso de crime qualificado, a pena é dobrada.

“O celular se tornou um objeto cobiçado pelos criminosos devido ao valor que tem no mercado. Além da facilidade para se roubar e furtar, o aparelho volta fácil às ruas por meio da receptação, um crime difícil de ser reprimido. Hoje, existem muitas lojas que fazem a revenda desses aparelhos. Mas, não tem outro jeito. Só com a fiscalização intensa da prefeitura e da Receita Estadual será possível diminuir esses índices. Atacando a receptação se reduz o roubo e, consequentemente, a lucratividade desses produtos no mercado informal. Os comércios que revendem celulares roubados deveriam ser fechados”.Luiz Flávio SaporiSociólogo, ex-secretário adjunto de Segurança Pública do Estado

Além disso

A Polícia Militar garantiu que trabalha rotineiramente para inibir tanto o roubo quanto a receptação de celulares. Conforme o tenente-coronel Micael Henrique Silva, comandante do 1º Batalhão, a corporação faz operações diárias com foco na área central. “É lá que está o maior número de comércio informal. Além disso, no hipercentro, o fluxo de pessoas é muito grande, o que atrai os bandidos”.

Nesta semana, PM, Ministério Público, Receita Federal e Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) realizaram uma operação em um shopping popular, no Centro. Mais de 500 telefones com queixa de roubo, furto ou sem nota fiscal foram apreendidos. Nove pessoas foram presas. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Em nota, o Shopping Xavantes informou que não permite a comercialização de produtos irregulares e que está disponível para colaborar com a polícia. Os representantes dos órgãos envolvidos na ação informaram que novas batidas serão feitas em comércios da capital.

Chefe da Divisão de Combate aos Crimes de Contrabando e Descaminho da Receita Federal, Leonardo Martins explicou que todos os celulares recuperados são devolvidos aos donos. Quando não é possível identificar as vítimas, os telefones são doados a entidades beneficentes, destruídos ou leiloados.

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