Julgamento

Chacina de Unaí foi um 'crime contra o Estado e a inspeção de trabalho', dizem auditores do trabalho

Gabriel Rezende
grezende@hojeemdia.com.br
Publicado em 25/05/2022 às 13:26.

(Valéria Marques/ Hoje em Dia)

Auditores fiscais de diversos estados brasileiros fazem vigília na porta da sede da Justiça Federal no bairro Santo Agostinho, região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde acontece o julgamento de Antério Mânica, acusado de ser o mandante da Chacina de Unaí. O crime, ocorrido em 2004, vitimou três auditores do trabalho e um motorista. 

Presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), Bob Machado, afirma que o crime foi um "um ataque ao Estado brasileiro e à inspeção de trabalho". Quando assassinados, os auditores fiscalizavam denúncias de trabalho escravo em fazendas da região de Unaí. 

"Foram servidores públicos no cumprimento das suas funções. E servidores honestos, que não se dobraram aos interesses econômicos. O Estado brasileiro foi chacinado e até hoje os mandantes não foram punidos", declarou. 

(Valéria Marques/ Hoje em Dia)

Na avaliação de Machado, a condenação dos mandantes do crime é necessária para dar resposta aos "maus-empregadores que praticam trabalho escravo". "É um péssimo exemplo não condenar ninguém por mando em um crime em que foram mortos quatro servidores do Estado", declarou. 

A auditora do trabalho aposentada, Nilza Maria, de 62 anos, diz viver há 18 anos o "luto" por ter perdido um colega de profissão. Na época, ela reconheceu o corpo do auditor Nelson José da Silva, uma das vítimas da chacina.

"É cruel para a gente reviver isso. Essa imagem não sai da minha cabeça. E saber que os mandantes ainda não foram punidos. É um auditor. É sangue nosso", desabafou.

Julgamento 

O julgamento entrou no segundo dia nesta quarta-feira (25). Às 12h30, já haviam prestado depoimento 12 testemunhas. Estão previstos os depoimentos de mais oito pessoas, sendo seis testemunhas da defesa de Antério. A previsão é que a sentença seja dada na sexta-feira (27). 

Relembre o crime

Em 28 de janeiro de 2004, os auditores João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram assassinados com tiros à queima-roupa, após uma emboscada na região rural de Unaí. 

À época, o trio investigava denúncias de trabalho escravo que estaria acontecendo em fazendas da região. O crime ficou conhecido como Chacina de Unaí.

As primeiras prisões envolvendo o caso só ocorreram em 2013, uma década após os assassinatos. Na ocasião, três pessoas — Rogério Alan, Erinaldo Silva e William Gomes — acusadas de serem “pistoleiros”, foram condenadas a penas que, juntas, somam 226 anos de prisão.

Os intermediários do crime, segundo a acusação, eram os empresários Hugo Alves Pimenta e José Alberto de Castro. Os dois confessaram o crime e foram condenados.

O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica e o irmão dele, Norberto, dois grandes produtores de feijão da região, foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como mandantes do crime. A sentença deles saiu em 2015, com cada um sentenciado a cumprir 100 anos de prisão. Apesar de o MPF pedir a prisão imediata dos réus, a Justiça permitiu que ambos recorressem em liberdade.

Em 2018, no entanto, uma reviravolta mudou os rumos do processo, quando o TRF-1 anulou a condenação de Antério Mânica. 

Em virtude da anulação, o ex-prefeito terá que ser submetido a novo julgamento, que deve acontecer nesta semana.
Na época da anulação, Norberto Mânica, que também recorre em liberdade, prestou depoimento e sustentou ser o único mandante do crime, inocentando o irmão.

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