As ferramentas tecnológi-cas podem se tornar novas aliadas na busca por desaparecidos na tragédia de Brumadinho, na Grande BH. Uma rede de voluntários com mais de 50 pesquisadores e 200 desenvolvedores da área de ciência da computação, geotecnia e engenharia mecânica trabalha na busca de soluções para auxiliar os bombeiros na árdua tarefa de encontrar os 141 corpos que ainda estão sob a lama.
O grupo, que interage de forma digital e reúne profissionais de todo o país, foi batizado de SOS Brumadinho. Juntos, pesquisadores tentam desenvolver modelos computacionais com bases na dinâmica do ocorrido. Ou seja, levando em consideração as coordenadas geográficas de onde as pessoas estavam no momento do rompimento da barragem e o ponto onde foram encontradas.
A partir das informações, os pesquisadores pretendem criar simulações da mancha de cadáveres na área do desastre e apontar, com mais precisão, onde outras vítimas podem estar.
Coordenadora do projeto, Vânia Neves, especialista em engenharia de softwares e professora-adjunta do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), explica que os trabalhos ainda estão no estágio inicial. “Esses modelos aprendem com o passado, isto é, precisam de dados para serem calibrados”, diz.
“Como não temos tantas informações precisas e nenhum evento das mesmas proporções, não há como garantir se vai dar certo. É mais uma tentativa do que uma certeza”, ressalta.
A Vale foi procurada pela reportagem, mas não se pronunciou até o fechamento desta edição. O Corpo de Bombeiros informou que o projeto ainda está em fase inicial e aguarda informações mais concretas sobre as ferramentas em desenvolvimento
Esperança
Diante da incerteza, a esperança de familiares das vítimas prevalece. É esse o combustível que leva o aposentado Wilson da Silva Caetano, de 64 anos, todos os dias a Brumadinho, à espera da localização do corpo do filho Luiz Paulo Caetano, de 32.
Morador de Pará de Minas, na região Central do Estado, ele passa a noite na casa onde o jovem morava com a esposa em Nova Lima, na Grande BH, e vai todas as manhãs às áreas atingidas pela lama. “Não tenho mais paz. Ele trabalhava em diversas barragens da Vale e deu azar de estar nesse inferno no dia em que estourou”, lamenta.
O desejo de enterrar o familiar também levou Wilson a se arriscar, adentrando na lama por algumas vezes. Em vão. “Não quero indenização. Quero o corpo do meu filho, que me deu toda felicidade que um pai pode ter. Nenhum dinheiro do mundo vai pagar a vida dele e muito menos arrancar a tristeza do meu coração”.
Apoio
A iniciativa SOS Brumadinho tem apoio de dezenas de colaboradores, mas ainda precisa de profissionais com formação em áreas específicas. Especialistas em gerenciamento de projetos e arquitetura de software são as maiores urgências.
No site sosbrumadinho.github.io é possível acessar o link para o grupo no aplicativo Telegram e receber as instruções sobre como contribuir. A coordenadora Vânia Neves destaca que qualquer pessoa com conhecimentos computacionais é bem-vinda.
“A iniciativa, por si só, já vale muito a pena porque reúne muitos bons pesquisadores”, diz. “Ainda que não funcione, teremos um banco de dados que pode ajudar em ações futuras”, conclui a professora.
*Colaborou Simon Nascimento
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