(Leonardo Morais/Hoje em Dia)
GOVERNADOR VALADARES - Cinco presos já foram jogados do telhado do presídio de Governador Valadares, no Leste de Minas Gerais, onde ocorre uma rebelião. Esses presos ficam nas celas destinadas a estupradores e filhos de policiais. Outro detento, que também seria jogado, conseguiu escapar, e pulou em um aparelho de ar condicionado. Em seguida, foi salvo pelo Corpo de Bombeiros. Ele desceu por uma escada, colocada pelos soldados. Todos receberam atendimento médico.
O motim começou no início da manhã deste sábado (6), durante a visita de parentes. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a unidade tem capacidade para acautelar 290 presos, mas abriga 800. Os presos jogados do telhado foram recolhidos pela polícia e encaminhados a hospitais da cidade em ambulâncias do Samu. Até o início da noite, não havia informações sobre o estado de saúde deles.
Policiais militares e membros do Grupo de Intervenção Rápida (GIR) cercavam o presídio. Unidades do Gate e do Cope, de Belo Horizonte, chegaram na cidade no início da noite deste sábado (6). A PM não confirma se irá invadir o presídio.
De acordo com a Seds, a direção do presídio conseguiu retirar todas as armas existentes na unidade e, aparentemente, não há funcionários no local.
O motim teria começado no início do horário de visitas nos blocos B e D e se espalhado por outros dois pavilhões. No local havia grávidas, crianças e idosos que, aos poucos, foram liberados. Grades de celas foram quebradas, colchões queimados no telhado e telhas arremessadas no pátio.
A policia trabalha com a possibilidade de que há 40 reféns dentro do presídio. A maioria seria mulheres. Ninguém confirma a presenca de crianças, mas considerando que fazem parte do grupo que entra primeiro para as visitas, pode haver. O juiz criminal Tiago Cabral sobrevoou o presidio no helicóptero Pégasus 09 da PM, no final da tarde do sábado (6).
Invasão
Os presos eram jogados do telhado quando os rebelados suspeitavam que a polícia invadiria o presídio. Alguns foram jogados algemados. Antes de serem empurrados, eles eram golpeados com facas e agredidos com telhas. Um preso foi ameaçado de ser degolado com uma tesoura de jardim. Na última tentativa de negociação, por volta das 16h, os presos pediram um ônibus para serem transferidos para outra cidade, todos de uma vez.
Segundo o presidente da 43ª subseção da OAB em Valadares, Elias Souto, não havia consenso entre os próprios presos e as negociações não avançaram. A polícia tentou diversas vezes impedir que os presos fossem jogados do telhado com disparos de bala de borracha.
O juiz que coordena as negociações, Thiago Cabral, defendia junto à polícia a não invasão. Também participavam do grupo de negociação a promotora Ingrid Veloso e representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB e do Conselho Municipal da Promoção e Defesa dos Direitos Humanos.
Por causa da fumaça, uma presa passou mal e precisou ser socorrida do lado de fora da unidade prisional. Um detento caiu ao tentar pular de uma laje para outra e foi levado a um hospital.
Familiares dos acautelados atearam fogo na moto de um agente penitenciário, que teve que sair correndo para não ser agredido.
Parentes dos presos, que estavam no local no início da rebelião, disseram que o motim começou depois que um dos detentos foi agredido por agentes. Os funcionários do presídio alegam que foram recebidos com violência durante o horário de visitas.
Elias Souto, da OAB, disse que os presos denunciam maus-tratos e condições subumanas.
A dona de casa Conceição Lourenço, de 74 anos, foi surpreendida com o motim quando visitava o filho, preso há três meses. “Quando a fumaça começou, estava dentro da cela. Meu menino me cobriu com a coberta e me deu água. Fiquei apavorada, mas falei para ele não se envolver com o tumulto, não reagir. Disse a ele que é preciso respeitar a lei. Eles (presos) estão errados, porque jogaram pedras nos agentes, e os agentes são a lei aqui”, comentou a idosa.
Atualizada às 19h40