Fazer valer o decreto que permite apenas o funcionamento dos serviços essenciais não será fácil para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Nessa segunda-feira (11), primeiro dia em que a norma entrou em vigor, alguns comerciantes da capital insistiram em ignorar o fechamento obrigatório das lojas. Com as portas dos estabelecimentos pela metade, garantiram o atendimento ao público e aumentaram o risco de contágio da Covid-19.
Também ontem, a taxa de ocupação dos leitos de UTI, destinados a pacientes com coronavírus, bateu recorde em BH. O índice está em 86,5%. Mais de 70 mil casos de Covid-19 já foram confirmados na metrópole. As mortes somam 1.956 – foram 18 óbitos desde sexta-feira.
1° dia do decreto
A segunda-feira foi marcada por movimentação intensa nas ruas do hipercentro. Pessoas autorizadas a trabalhar – como operadores do transporte público – garantiram que o vaivém de veículos e pedestres era praticamente o mesmo da semana passada, quando todas as atividades econômicas ainda estavam liberadas.
A maior parte do comércio amanheceu fechada no Centro. Mas a equipe de reportagem do Hoje em Dia flagrou pelo menos dez estabelecimentos com as portas entreabertas na avenida Afonso Pena e ruas São Paulo e Espírito Santo. Roupas, sapatos, bijuterias, cosméticos e artigos de papelaria eram alguns dos produtos oferecidos.
Os pontos comerciais não essenciais flagrados em funcionamento podem ter o alvará suspenso, além de receber multa. Porém, mais do que sentir no bolso a punição, a atitude coloca em risco da saúde da clientela e do próprio comerciante.
A porta pela metade ou apenas com uma “greta” pode levar à contaminação de mais pessoas. De acordo com o infectologista Leandro Cury, ambientes sem ventilação representam perigo maior de contágio pelo novo coronavírus.
Os aerossóis – partículas menores que as gotículas e que são eliminados durante uma conversa – podem flutuar no ar por horas. “Em local aberto, o ar consegue ter uma reciclagem maior, mas em áreas fechadas, não”, destaca.
Além disso, conforme o Hoje em Dia mostrou, alguns comerciantes insistem em ficar sem máscaras ou com a proteção no queixo, o que reforça o alerta.
“Se algum deles estiver contaminado, mesmo que coloque o equipamento individual quando chega algum cliente, as partículas podem infectar alguém, ou vice-versa”, acrescentou o médico, lembrando, ainda, sobre a necessidade de se manter a higienização do espaço. “Será que estão limpando adequadamente?”, questionou.
Reunião nesta terça
Órgãos que representam o comércio, como o Sindilojas e Abrasel, condenam qualquer tentativa de desrespeito ao decreto da PBH. Nessa terça-feira (12), a associação de bares e restaurantes participa de uma reunião com o secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, André Reis, e outras entidades ligadas ao comércio para tentar uma flexibilização das atividades.
Por nota, a prefeitura disse que seguirá monitorando os indicadores epidemiológicos e, assim, avaliar a possibilidade de mudanças no processo de reabertura. A administração municipal destacou que fechamento “não tem qualquer caráter punitivo ao comércio”. O objetivo, acrescenta, “é diminuir o volume de pessoas em circulação”.
Ainda segundo a PBH, para garantir o cumprimento do decreto, a Secretaria de Política Urbana seguirá com as ações planejadas em todas as nove regionais. “Os estabelecimentos que não cumprirem com as medidas de combate à Covid-19 estarão sujeitos à interdição e multa”.
* Com Renata Galdino