Combate ao câncer: superação na luta contra a doença

Raquel Ramos e Izabela Ventura - Hoje em Dia
08/04/2014 às 07:29.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:00

(Álbum de família/Divulgação)

É inevitável. O diagnóstico de câncer amedronta qualquer um. Mas, nem por isso, a notícia da doença deve, necessariamente, vir acompanhada de uma sucessão de episódios tristes. Com o amor da família, carinho de amigos e muita força, é possível dar a volta por cima e enfrentar o período de tratamento com outro olhar.

Pelo menos é isso que acreditam Thallita, Marcella, Ana Flávia e Gilmária. Quatro mulheres que, recentemente, foram obrigadas a encarar o câncer. Com uma coragem que sequer imaginavam ter, todas conseguiram tirar uma lição de vida e saíram transformadas dessa experiência.

Para a estudante de direito Thallita Melo, a notícia de que estava com Linfoma MALT – uma espécie de câncer gástrico – chegou aos 22 anos, após uma série de sintomas que a fizeram pesar apenas 48 quilos.

No meio da longa batalha de consultas, remédios e quimioterapia, recebeu o convite de um amigo: fazer um ensaio fotográfico. “Era um presente para mim. Topei porque adoro ser fotografada, já trabalhei como modelo antes”. O fato de os fios da cabeleira longa terem caído mais depressa do que imaginava não a desanimou. Fez as fotos careca.
O despretensioso ensaio ganhou uma proporção que ela jamais podia imaginar. Virou exposição de um shopping em Brasília, cidade que mora desde criança. Agora, está em Belo Horizonte, no Centro de Compras ViaBrasil Pampulha.

“Fiz isso por mim. Mas a maior alegria foi descobrir que estava ajudando outras pessoas. Tive um retorno muito positivo, me senti amada e acredito, sim, que isso ajudou no meu tratamento”.

Marcella Lisa, de 26 anos, teve a certeza sobre a pessoa com quem gostaria de passar o resto da vida durante o tratamento contra o câncer de mama, descoberto em 2010, o ano em que planejava se casar com o namorado da faculdade.

Durante a quimioterapia, teve todos os efeitos colaterais possíveis: viu o cabelo cair e o rosto inchar pelo excesso de remédios. Nesse tempo, recebeu o cuidado de Henrique que, mesmo vendo-a debilitada, jurava de pé junto que ela era a mulher mais linda do mundo.

Hoje, casada e sem precisar de quimioterapia há dois anos, já se considera curada. “De certa forma, foi um momento especial. Sentir-se cercada de amor é imprescindível”, conta.

Se receber o diagnóstico de câncer é difícil para um adulto, muito mais para a mãe de uma criança de 11 anos. Foi essa a experiência da representante comercial Ana Flávia Tavares de Souza. A doença do garoto Gabriel só foi descoberta pela insistência dela que, sem acreditar que um caroço no pescoço do filho era inofensivo, procurou ajuda de vários especialistas.

Depois de muitas idas à médicos, ele foi diagnosticado com Linfoma de Burkitt. “O sentimento de descobrir a doença é terrível, um desespero sem explicação. Ao mesmo tempo, foram tantas manifestações de carinho e apoio que, de alguma forma, me senti forte”.

O tratamento, que consistiu em três sessões de quimioterapia, com intervalo de 21 dias, foi tirado de letra pelo menino que, raramente, reclamava de dor. A parte difícil foi ver o cabelo cair. “Ele estava bastante resistente. Mas os amigos da minha filha mais velha foram em nossa casa e, em um gesto de bondade inusitado, rasparam a cabeça na frente dele. Foi um dia muito divertido em nossa casa”, lembra Ana Flávia.

Mesmo com o filho curado, ela não deu a batalha como encerrada. Agora, tem como missão alertar as pessoas sobre a importância do diagnóstico precoce.

Desistir também nunca foi opção de Gilmária Nunes do Couto, de 37 anos. Ao contrário, foi enquanto enfrentava o tratamento contra um câncer de mama que decidiu realizar um sonho de infância: se formar em psicologia.

A história de superação começou em 2012. E na Casa de Apoio às Pessoas com Câncer recebeu ajuda financeira, fez amizades, aulas de dança e conseguiu ver a doença de forma diferente. Hoje, curada e no terceiro período da faculdade, ela tenta guardar apenas as boas lembranças do período de tratamento. “Não sou mais a mesma mulher. Vejo a vida de outra forma, sou grata ao meu marido, ao meu filho e amigos que não me deixaram desanimar nunca”, diz.

Atendimento pelo SUS ainda requer melhorias

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê a incidência de 576.580 novos casos de câncer, no Brasil, neste ano. Em Minas Gerais, essa estimativa é de 61.530. Cada número desse significa o enfrentamento de uma batalha árdua por parte de pacientes e famílias inteiras. A doença, por si só, é grave e exige força física e psicológica de quem luta contra ela. Mas a guerra é ainda maior para quem não pode pagar um tratamento particular.

Especialistas como André Márcio Murad, professor e chefe do serviço de oncologia do Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destacam problemas sérios na estrutura para tratamento de câncer disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Falta uma cobertura mais completa e rápida para exames de alta complexidade, como tomografia, ressonância, endoscopia. Medicamentos mais modernos e eficientes não são contemplados. E conseguir uma cirurgia oncológica também é demorado.

“A consulta de oncologia pelo SUS é rápida, mas o tratamento da doença ainda deixa muito a desejar. É preciso aumentar os recursos para combate ao câncer, readequar valores defasados e gastar mais com oncologia de forma geral”, cita Murad, que também é oncologista do Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenantron).

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que 33 instituições – entre públicas e privadas – realizam tratamento de câncer em Minas, sendo que 78% ocorre via SUS.

O Estado busca diagnosticar a doença cada vez mais cedo, sobretudo o câncer de mama, e aumentar a chance de cura sem sequelas, além de reduzir a mortalidade. No total, em Minas, foram realizadas 650 mil mamografias, entre janeiro de 2013 a dezembro de 2013.

Exposição a fatores de risco eleva incidência

As projeções de incidência de câncer em âmbitos nacional, estaduais e municipais costumam ser crescentes. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), isso acontece por causa do aumento da expectativa de vida da população e da exposição dela a fatores de risco.

Atualmente, conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e SES, o câncer é a segunda causa de mortes por doença, perdendo apenas para os males cardiovasculares. A principal causa disso são comportamentos que poderiam ser evitados. O oncologista André Murad classifica o “tripé” da prevenção o seguinte: dieta, tabagismo e combate à obesidade/sedentarismo – todos relacionados a hábitos de vida.

“Hoje em dia as pessoas se alimentam mal. Dão preferência a alimentos industrializados, ricos em gorduras e conservantes, e pobres nutricionalmente, em detrimento de frutas, legumes e grãos”, diz. O aumento do consumo de bebidas alcoólicas, especialmente por mulheres, está relacionado à escalada dos casos de câncer.

Outra causa da doença é o sedentarismo/obesidade. Conforme Murad, o tecido gorduroso libera substâncias que estimulam a proliferação de células, inclusive de forma anormal.

Por fim, o tabagismo é fator determinante para o risco de se desenvolver o problema de saúde. “O hábito de fumar provoca vários tipos de cânceres, não só no pulmão, mas na boca, faringe, laringe, traqueia, esôfago, rins, pâncreas”.

Avanços

Para Luiz Adelmo Lodi, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) e oncologista da Oncomed BH, a prevenção ainda é a maior arma contra o câncer, mas tratamentos novos e menos agressivos têm aumentado as chances de cura dos pacientes.

Murad lembra ainda que os médicos conseguem curar 50% dos casos nos grandes centros urbanos. “A tecnologia avançou bastante. Temos drogas mais eficientes que atuam especificamente nas células cancerosas e as cirurgias estão menos agressivas”, ressalta.
 

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