Concreto vira tela para os artistas urbanos; Confira vídeo

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
Publicado em 01/06/2014 às 07:39.Atualizado em 18/11/2021 às 02:49.
 (Frederico Haikal)
(Frederico Haikal)
Eles querem colorir o mundo e transformar muros, portas, paredes e até ruínas em murais para obras. São os artistas urbanos, que espalham cores e traços personalizados em nome de um desejo comum: vencer o tédio da cidade grande. 
 
Cada vez mais elaborados e originais, os trabalhos desafiam o limite da criatividade e, quase sempre, vão além do simples prazer de fazer arte. Agora, se transformaram em um ofício. 
 
Em cada canto de Belo Horizonte, um grafite ou pintura para encantar até os olhares mais despretensiosos. “Acho muito bacana. É um trabalho que faz a gente parar por pelo menos uns segundos para apreciar a arte”, diz a administradora Fernanda de Mello Teixeira, ao contemplar um dos murais de Ataíde Miranda, na rua Professor Morais, zona Sul de BH.
 
O artista, de 43 anos, há três se rendeu aos encantos dos pincéis e colore, profissionalmente, muros e paredes da cidade com painéis que chegam a ter 12 metros de largura. 
 
Um dos mais bonitos, segundo o próprio muralista, como se define, foi feito sob encomenda pelo dono de um posto de gasolina na rua Rio Grande do Norte, na região da Savassi. 
 
100% autoral
 
O trabalho, apesar de receber influência de artistas como Escher e Gustav Klimt, é 100% autoral. “Uso muita decoração e acessórios, mas não tenho uma marca registrada. São desenhos muito diferenciados. Procuro me distanciar um pouco da obra dos outros para não perder minha identidade”, explica. 
 
Ataíde tem murais nas avenidas Cristóvão Colombo, na Savassi (Sul), Pedro II, no Caiçara (Noroeste) e na rua Mármore, em Santa Tereza (Leste). Todos feitos sob encomenda. 
 
“Fui músico durante 20 anos, mas resolvi virar alguém na vida porque viver de heavy metal é muito complicado. Estudei design e hoje me considero iluminado. As pessoas chegam até mim e não tem faltado trabalho”, comenta. 
 
Quer identificar os trabalhos dele em BH? Fique atento a desenhos gigantes, todos feitos a pincel, que misturam natureza, formas femininas e olhos, muitos pares deles. Apesar de nunca começar sabendo onde vai chegar, a harmonia do resultado final é, sem dúvida, o ponto forte da arte de Ataíde.
 
"Vou fazendo uma amarração das coisas e quando vejo que está esteticamente perfeito parto para as cores.Gosto muito da combinação de preto, branco e vermelho e de roxo e verde-limão. Mas o que me marca mesmo são os espaços totalmente preenchidos. Espaço em branco me incomoda”, revela.
 
Desenhos direcionam os holofotes para espaços abandonados
 
Espaços deteriorados tam[/LEAD]bém atraem os olhares apaixonados dos grafiteiros – como, via de regra, acabam sendo denominados por estarem nas ruas. Davi de Melo Santos, de 32 anos, ou simplesmente DMS, como assina, vive desde 2009 na Itália, mas em 1998 começou a deixar a marca nas paredes e muros, sobretudo os abandonados, de Belo Horizonte. 
 
“Procuro sempre locais degradados ou abandonados e abatidos com o descaso das autoridades, na maioria no contexto urbano. É uma forma de chamar a atenção para isso”, diz o artista, que elegeu os peixes como marca registrada. 
 
Para a arquiteta Dorinha Alvarenga, vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a arte urbana é sempre bem-vinda, sobretudo em locais pouco observados. 
 
“Essas áreas que precisam ser revitalizadas, quando recebem esse tipo de arte, acabam se tornando um ponto em potencial de qualificação”, explica.
 
O artista plástico Binho Barreto, de 39 anos, formado pela Escola Guignard, na capital, partilha da mesma ideia. Quase sempre grafita personagens criados por ele mesmo e escolhe a dedo os espaços onde vai assinar.
 
A liberdade de fazer o que, quase sempre, vai contra as regras é o que o move. “A cidade trata muito mal as pessoas, traz poucas possibilidades de entretenimento. O grafite é uma conversa de um ser humano diretamente para o outro, sem que haja uma instituição ou corporação por trás daquilo”, diz. A delicadeza e as cores são o que definem o trabalho do artista. 
 
Bolinhos que dão água na boca e enchem os olhos
 
Elaborar doces e confeitar bolos já não é novidade para ninguém, mas e pintar bolinhos? Quem nunca se deparou com um cupcake desenhado em algum muro de BH não conheceu o trabalho de Maria Raquel Bolinho, de 28 anos.
 
A mineira, que estudou Letras e chegou a dar aulas de português e inglês, há cinco anos espalha pela cidade a paixão por doces e a habilidade com os sprays de tinta.
 
Os doces, que ganharam até um mapa (veja no site www.querobolinho.com.br), colorem os quatro cantos da cidade. E, como se não bastasse, os desenhos têm até identidade. Bolinho Batman, Bolinho Pescador e Bolinho Chiclete são alguns dos nomes.
 
Ao longo da carreira, já que hoje Raquel tem recebido mais encomendas do que pintado por conta própria, foram mais de 400 grafitados pela cidade. Restaram poucos. “Mas o grafite é isso mesmo. A gente deixa na rua e já não é mais nossa propriedade. Meu desejo é transformar o espaço urbano em um local das pessoas”, diz. 

Confira o vídeo:
 
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