Uma força tarefa do governo do Estado vai fiscalizar quem retira água dos mananciais da Região Metropolitana de Belo Horizonte a partir da próxima semana. As patrulhas formadas por agentes e fiscais da Polícia Militar Ambiental, Instituto Estadual de Florestas, Copasa e Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) tentarão descobrir quem faz a captação ilegal a montante (acima) dos reservatórios que integram os sistemas Paraopeba e Velhas, responsáveis por abastecer os 34 municípios da região.
“Vamos disputar essa água, que é prioritariamente para o consumo humano”, explicou o diretor de Operação da Copasa na RMBH, Rômulo Tomás Perilli. “Minas não tem como centralizar o controle disso. Nenhum órgão sabe. Quem não tem outorga tira mais água ainda”. O anúncio da força-tarefa foi feito durante audiência pública na Câmara Municipal ontem.
Perilli citou que o volume do reservatório de Rio Manso era de 150 milhões de m3 em janeiro de 2013 (99% da capacidade) e passou a 72 milhões de m3 em janeiro deste ano, o que significa 45% da capacidade do reservatório. “Hoje é menos e continua caindo, embora a média de chuva no mês passado tenha sido de 3.141 mm na região. Da vazão regularizada de 8 mil litros por segundo, a Copasa só extrai 4.500 L/S e a água está acabando. Vamos iniciar as patrulhas para descobrir onde está essa água”, avaliou.
Em janeiro, o Hoje em Dia mostrou que a Copasa enfrenta problemas com a captação de água feita nos mananciais a montante dos sistemas Serra Azul e Rio Manso por produtores de hortifrutigranjeiros e plantas ornamentais no Cinturão Verde da RMBH, onde é raro encontrar cultivos irrigados por gotejamento, considerado o modelo mais econômico. Na maioria das propriedades, a irrigação das culturas é feita por aspersão ou por sulcos na terra, o que gera desperdício de água.
“O problema é a falta de planejamento e de gestão da água. A falta de chuvas é só um componente do problema de escassez hídrica”, disse o diretor da Copasa. Outra preocupação da empresa é com a mineração, assinala o vice-presidente da Copasa, Júnior Miranda. “A crise que vamos encarar nos próximos meses é derivada da forma de tratar o meio ambiente nos últimos 50 anos na RMBH, onde estão concentradas as maiores operações da mineração no país. Esse quadro crítico não vai ser mudado de uma hora para outra. Minas Gerais sem a mineração passa para a 13ª economia do país”.
Copasa perde 6 mil litros por segundo em desperdício
Entre a oferta de 15 mil litros de água por segundo e consumo de 9 mil l/s na RMBH, a Copasa tem perda média de 40% na água tratada. “São seis mil litros por segundo que a gente perde. Um número escandaloso”, disse o diretor da Copasa, Rômulo Perilli. A meta é reduzir a perda para 30% em quatro anos.
O problema, segundo ele, está nos erros da medição (25% das perdas), cuja solução é melhorar a qualidade dos micro e macro medidores; nas ligações clandestinas que chegam a 35%, com a dificuldade adicional de combater esses ‘gatos’; e nos vazamentos da rede pública que perfazem 40% das perdas e somam mais de 800 ocorrências por dia na RMBH.
“Nós hoje nos envergonhamos dessa perda. Vamos trabalhar para mudar esse quadro”. Segundo ele, há 15 mil quilômetros de rede de água na RMBH e a cada ano a empresa teria de trocar 2 dessa rede, o que representa 300 km de rede/ano. Temos rede de cem anos em Belo Horizonte, que nunca foi trocada”.
No balanço dos primeiros 45 dias na empresa, o novo diretor de Operações da RMBH mostrou preocupação com o levatamento da situação de abastecimento de água em Minas e na RMBH. A situação mais crítica, segundo ele, é do sistema Serra Azul, em Juatuba, onde o reservatório tem pouco mais de 5% do volume de água. No mesmo período de 2014, era de 80%. Perilli disse também que, por falta d’água, três municípios estão em colapso: Pará de Minas (Oeste), Campanário (Mucuri) e Urucânia (Zona da Mata). Outros 59 municípios estão em risco iminente de colapso, com severo comprometimento das fontes de produção de água e com risco de desabastecimento em curtíssimo prazo, ou seja, em menos de trinta dias.
Em Juiz de Fora, uma das maiores cidades mineiras, o rodízio foi adotado desde o começo do ano.
Multas
A captação irregular de água em Minas Gerais gerou mais de R$ 1 milhão em multas apenas no ano passado. Em cerca de 8 mil fiscalizações, foram notificadas e multadas empresas e pessoas físicas que estavam fazendo uso do recurso hídrico sem autorização.
Segundo dados do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema), o valor arrecadado em multas em 2014 foi maior do que nos anos anteriores. Em 2013, quando foram feitas cerca de 7.500 fiscalizações, o somatório de multas chegou à quantia de R$ 830 mil. Em 2012, foram arrecadados R$ 820 mil em pouco mais de 6 mil ações de fiscalização. As multas variam conforme o tamanho e as características da retirada da água sem autorização.
*Com informações de Alessandra Mendes
Atualizada às 19h11