A cegueira completa ou a baixa acuidade visual e o amor pela música unem, há dois anos, 17 pessoas de BH e região na dedicação a um coral que leva informação sobre essa deficiência, além de canções do Clube da Esquina, a escolas mineiras. O projeto, oportunidade ímpar para o desenvolvimento da pessoa cega, está em busca de novos participantes.

Por iniciativa da Sociedade de Amigos dos Deficientes Visuais de Minas Gerais (Sadevi), o projeto cultural surgiu em 2017. A associação sem fins lucrativos é presidida pelo ex-diretor do Instituto São Rafael, Juarês Gomes Martins, de 65 anos - totalmente cego desde a adolescência. 

Juarês dá palestras que apresentam as potencialidades da pessoa com deficiência. A base da conversa vem do livro "A cegueira às claras", escrito e publicado por ele.  “Muita gente tem um parente com essa situação. A cegueira limita o indivíduo, mas não o incapacita. Nosso papel é expor os mitos, mostrar que há um caminho a percorrer e que somos capazes de fazê-lo”, disse.Arquivo pessoal/ Sadevi

Livro traz relatos de Juarês sobre a realidade da cegueira

Após a fala, vem a música: as belas vozes apresentam interpretações de Milton Nascimento, Beto Guedes e Lô Borges. "A cultura é um veículo que promove a inclusão da pessoa cega. Usamos a música como pretexto para também levar esclarecimento social", contou. Os eventos, que já passaram pela maioria dos centros culturais de Belo Horizonte, além de escolas de Contagem, Ibirité e Rio Acima, na Grande BH, e João Monlevade, na região Central, também são apresentados em empresas privadas e públicas, como Copasa e Cemig.Arquivo pessoal

Doris de Paula perdeu a visão em 2006

Integração

Participante desde a criação do coral, Doris de Paula, de 55 anos, encontrou na atividade uma forma de se integrar às outras pessoas. Em 1998, a então jornalista descobriu que tinha retinose pigmentar, doença que causa a perda progressiva da visão. Ela se aposentou do trabalho e, em 2006, ficou totalmente cega. 

Para ela, o coral trouxe à tona uma paixão antiga: a música. "No coral me apresentei e hoje tenho um canal no YouTube, onde divulgo meu trabalho como cantora", contou. "Às vezes até esqueço que sou cega. Esse projeto me ajudou muito e gosto de mostrar aos outros que ficar cega não é o fim do mundo", relatou. 

Inscrições 

Pessoas cegas ou com baixa visão, de todas as idades, podem se inscrever em aulas de canto, flauta, piano, violão, percussão e canto. O projeto é totalmente gratuito e mantido a partir de leis municipais, estaduais e federais de incentivo à cultura. 

Para este ano, estão programadas apresentações em 10 cidades do Estado, como Tiradentes, na região Central, e Passos, no Sul. Há, também, um convite em negociação para apresentação na Itália. 

A Associação Sadevi está localizada à rua Uberaba, nº 292, no Barro Preto, em BH. O telefone para contato é (31) 2516-1011. Na equipe, participam o professor de violão Luciano Dias, a professora de música da UFMG Cacá Campara, além do monitor e produtor artístico Sérgio Oliveira.

"Tudo é ensaiado com profissionais da área, baseado nas técnicas profissionais", pontuou Juarês. No entanto, não é necessário ter experiência em canto ou em instrumentação. As oficinas são gratuitas.

Programação de cursos

Todas as quintas
Aula de canto individualizada. Das 11h às 12h

Todas as sextas
Aula de violão. Das 9h às 10h
Ensaio do coral. Das 10h às 12h

Conheça o trabalho

No dia 5 de julho, sexta-feira, às 10h, o coral Sadevi se apresentará no Colégio São Luiz Gonzaga (rua General Carneiro, nº 397 - Sagrada Familia). O evento tem o patrocínio da Cemig, o incentivo da Secretaria Estadual de Cultura (SEC) e apoio cultural do Hoje em Dia. 

A apresentação será aberta a alunos e comunidade escolar. Quem quiser assistir, porém, pode fazer contato na secretaria da escola e se cadastrar. O telefone é (31) 3055-3508. 

Compartilhar