Cresce apelo virtual por inibidores de apetite

Raquel Ramos - Hoje em Dia
03/09/2014 às 07:31.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:03

(STOCKPHOTO)

Ganha força na internet um movimento pela volta dos inibidores de apetite às prateleiras. Em grupos fechados, milhares de pessoas se mantêm atualizadas sobre o tema e organizam campanhas para cobrar agilidade dos parlamentares na votação do projeto que neutraliza o veto da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) à comercialização de medicamentos como femproporex, mazindol e anfepramona, usados para emagrecer. Apenas um dos grupos já tem 4 mil integrantes.

A venda desses remédios foi proibida pela Anvisa em outubro de 2011. Agora, está nas mãos dos senadores a decisão de aprovar ou rejeitar um projeto de decreto legislativo (PDC) que anularia a regra.

Muitos internautas defensores da venda dos inibidores de apetite enviam e-mails ou twittam apelos aos senadores. “Vidas em suas mãos, obesos vindo a óbito por falta de medicamentos”, dizia uma mensagem enviada segunda-feira (1º) ao Twitter do senador Renan Calheiros.

Outro recado, direcionado à senadora Gleisi Hoffmann: “Obesos lutam para ter mais anos de vida e com qualidade”. Os tweets podem ser vistos ao digitar a hashtag #PDS52-14.

Polêmica

A possibilidade de liberação da comercialização de medicamentos derivados das anfetaminas – substâncias sintéticas que estimulam o sistema nervoso central e reduzem a compulsão por alimentos – é polêmica até mesmo entre a classe médica.

Enquanto alguns se preocupam com os fortes efeitos colaterais provocados pelas drogas, outros especialistas argumentam ser um erro privar de tratamentos pacientes que reagiam bem a essas substâncias.

A Anvisa, o órgão regulador vinculado ao Ministério da Saúde, afirma faltar estudos clínicos que comprovem a eficácia dos medicamentos. A tese está sustentada por uma nota técnica de mais de 70 páginas.

Especialista

“Da mesma forma que remédios são recomendados para diabéticos e hipertensos, é preciso recorrer a eles em alguns casos de obesidade”, compara a endocrinologista Maria Edna de Melo.

Mesmo com o uso dos anorexígenos, o principal caminho para o emagrecimento continua sendo a alimentação correta aliada a exercícios, lembra a especialista. Mas com as drogas, ressalta, as possibilidades de sucesso no tratamento são maiores, até mesmo porque algumas pessoas não conseguem regular o apetite quando precisam perder muito peso.

A carência de pesquisas também não é vista pela médica como um impedimento. “São produtos muito antigos. Ao longo dos anos, já pudemos perceber as reações que provocam e, de certa forma, isso nos dá o respaldo de que precisamos”, diz Maria Edna, também diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Pedido

Nesta terça-feira (2), a associação enviou uma carta aos senadores, solicitando apoio à aprovação do projeto que trata da liberação dos medicamentos inibidores do apetite. Pesquisa realizada pela Vigilância deFatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) em 2013 indica que 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal e que, destes, 17,5% são obesos.

A pesquisa mostrou que o índice de obesidade está estabilizado no país, embora o alerta continue, uma vez que metade da população está com sobrepeso.

Médico recomenda aumento no controle

Há ressalvas à possibilidade de os medicamentos femproporex, mazindol e anfepramona voltarem às prateleiras das farmácias. Coordenador da disciplina de endocrinologia da Faculdade Ciências Médicas, José Côdo aponta o uso indiscriminado como um dos principais problemas. “Muita gente usava sem levar em conta os efeitos colaterais”, disse, ao se referir ao aumento da pressão arterial, alteração do batimento cardíaco e ao risco de morte, em caso de superdosagem.

Se a comercialização for retomada, sugere Côdo, será necessário um maior controle sobre as vendas. Ele ressalta, porém, que já viu bons resultados entre pacientes tratados com os remédios atualmente proibidos. A. P., de 35 anos, é um exemplo. Após testar vários tipos de dietas, a paciente procurou ajuda de um especialista, que lhe receitou femproporex. “Deu muito certo porque controlava minha impulsividade na hora de comer”.

Desde que os remédios foram banidos do mercado, ela viu os ponteiros da balança voltarem a subir e o esforço de meses de restrições irem embora. “Hoje, tenho dificuldade de me alimentar bem porque sinto muita fome”, conta a mulher, que, desde 2011, recuperou 12 quilos.

Tratamento alternativo

O projeto de decreto legislativo nº 52/2014 suspende a resolução nº 52, de 6 de outubro de 2011, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que dispõe sobre a proibição do uso das substâncias anfepramona, femproporex e mazindol, seus sais e isômeros.

A regra também estipulou mais controle sobre a venda da sibutramina, que nesta quarta-feira (03) é um tratamento alternativo aos medicamentos banidos do mercado.

O problema, segundo os médicos, é que a eficácia da substância não é observada em muitos pacientes que tentam combater o excesso de peso.

O uso da sibutramina também está condicionado a indicação médica, pois causa efeitos colaterais como dor de cabeça, palpitações, insônia e hipertensão.

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