Criança e adolescente à mercê da violência no interior de Minas

Fernando Zuba e Ernesto Braga - Do Hoje em Dia
31/10/2012 às 11:24.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:44

(Toninho Almada)

O assassinato de Camila Grazielle Santos Vitorino, de 5 anos, ainda aterroriza Bom Sucesso, no Centro-Oeste de Minas. Acostumados com a vida pacata do interior, os moradores da cidade, a 200 km de Belo Horizonte, sentem os efeitos do avanço da violência contra crianças e adolescentes. A situação é preocupante em outros municípios do Estado. Das 70 cidades brasileiras com maiores taxas de atendimento hospitalar a crianças e adolescentes vítimas de crimes, 11 são de Minas.
  Lavras, no Sul do Estado, apresenta a maior taxa: 434,3 atendimentos para cada 100 mil procedimentos. Depois, aparecem Poços de Caldas (423,6), na mesma região, e Manhuaçu (281,9), na Zona da Mata. Os dados são do “Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes no Brasil”.   Para fazer a pesquisa, especialistas do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), instituição com sede no Rio de Janeiro, usaram informações de atendimentos a crianças e adolescentes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no ano passado, em municípios com mais de 20 mil habitantes de 0 a 19 anos.
Foram incluídas vítimas de todos os crimes, como homicídios e estupro, além de acidentes de trânsito.
Interior   O Mapa da Violência também destaca que, dos 13.243 atendimentos a vítimas da violência em hospitais públicos de Minas, em 2011, 4.155, ou 31,4% dos casos, foram de pessoas com até 19 anos.
  Em números absolutos, o Estado fica atrás apenas de São Paulo (26.514 atendimentos). Em terceiro lugar aparece o Rio Grande do Sul (9.205), seguido do Rio de Janeiro (5.959) e Paraná (5.122).
  Doutor em sociologia e pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Luis Felipe Zilli afirma que o problema está relacionado ao crescimento das cidades. “Com o avanço da urbanização, a tendência é que a violência também aumente”, diz Zilli.

Assassinatos   Segundo o especialista, um dos fatores que colocam Minas entre os Estados com maior quantidade de atendimento médico a jovens é a taxa expressiva de vítimas de homicídios com 16 e 17 anos. “Os índices de assassinatos nessa faixa etária são muito maiores do que os de São Paulo”, afirma.
  Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ressalta o pesquisador, o SUS apontou cem homicídios por grupo de 100 mil habitantes de 15 a 24 anos, em 2010. “É a faixa etária mais atingida. Nas demais, incluindo as pessoas com menos de 15 anos, a taxa é de 25 homicídios (por 100 mil habitantes)”, diz Zilli.
  O especialista aponta a causa do número expressivo de assassinatos de jovens em Minas. “O direcionamento da política de segurança pública do Estado prioriza os crimes contra o patrimônio (como roubos), e não os contra a pessoa”, afirma.   Leia mais sobre o temor dos moradores de Bom Sucesso na Edição Digital

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