Crise financeira prejudica abrigos para crianças, adolescentes e idosos da capital

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
08/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:26
 (Fernanda Carvalho)

(Fernanda Carvalho)

A crise financeira que já dura três anos no país atinge diretamente casas de passagem e abrigos de Belo Horizonte. As instituições dependem, em grande parte, de doações para manter o atendimento aos mais carentes, especialmente crianças, adolescentes e idosos.

Com a carteira da população mais vazia, a redução nas contribuições chega a até 70% em alguns locais. Segundo os responsáveis pelos espaços, os principais argumentos recebidos para a queda ou suspensão das contribuições são o desemprego e a diminuição dos ganhos de quem prestava a solidariedade.

Sem novas internações

Dentre as situações mais delicadas está a do Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus, no bairro Floramar, região Norte da capital. Há um ano, a instituição não aceita novas internações. Essa foi uma das alternativas encontradas para não comprometer o atendimento atual.

Lá, cerca de 90% dos recursos são obtidos por meio de doações. Porém, desde 2014, houve queda nos valores recebidos. O orçamento mensal do Caminhos para Jesus é de R$ 1,6 milhão. Os acolhidos são crianças e adolescentes com sequelas de paralisia cerebral e deficiência mental, além de idosos em situação de vulnerabilidade.

No total, 600 pessoas são assistidas. Outros atendimentos à comunidade, como consultas odontológicas, também são oferecidos.

Segundo o diretor-geral da unidade, Arthur do Nascimento, a situação preocupa. “Estamos cortando despesas e reduzimos o pessoal em 15% (com exceção dos profissionais de atendimento direto aos internos). Tínhamos uma boa reserva e, aos poucos, ela está indo embora. Não só a doação em dinheiro diminuiu, mas também a de fraldas e de objetos que vendemos”, conta.

Problema comum

Espaços menores também enfrentam dificuldade, como a Casa Copacabana, na região da Pampulha, que integra a Associação Irmão Sol. A instituição atende atualmente dez crianças e adolescentes de 7 a 12 anos. A capacidade, em plenas condições financeiras, seria de 15 jovens.

Aproximadamente 70% do orçamento do local vem de doações. O restante é garantido por meio de convênio com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). No entanto, os recursos municipais não atendem outras demandas, como obras e pequenos reparos, produtos de higiene e de limpeza.

“O mais difícil é manter a estrutura física. Estamos precisando, há muito tempo, reformar o telhado e pintar a casa. Mas não conseguimos dinheiro. Agora, vamos fazer uma campanha para tentar levantar recursos. As doações são fundamentais”, conta a coordenadora da Casa Copacabana, a psicóloga Tatiane Ferreira Hubner dos Santos.

Conforme Tatiane dos Santos, diariamente são recebidos pedidos para novos acolhimentos. “Tenho percebido que nos últimos anos a demanda está aumentando, ao passo que as doações têm diminuído”. Ela reforça que o problema se deve ao atual momento econômico.

“Quando temos uma crise como essa, com desemprego, há um maior número de violações de direitos, e a procura por abrigos cresce”. Segundo ela, a maioria dos jovens atendidos é formada por casos de negligência por parte dos parentes ou responsáveis. Dos dez meninos que moram na casa, sete estão em busca de pais adotivos. Os outros três ainda podem voltar para a família, desde que haja aval da Justiça.

Setenta e cinco abrigos contam com auxílio da PBH. No primeiro trimestre deste ano, R$ 11,7 milhões foram repassados às unidades: R$ 5,3 milhões às que atendem crianças e adolescentes, R$ 3,8 milhões (idosos), R$ 2 milhões (adultos) e R$ 568 mil (pessoas com deficiência)

Para manter as contas em dia, voluntários também ajudam nas tarefas do dia a dia

Com o dinheiro escasso, alguns abrigos intensificam a procura por voluntários. No Lar Batista, na Pampulha, onde moram seis garotas, as doações caíram pela metade nos últimos anos.

Diante do aperto, o coordenador da casa, Hélio de Jesus Fernandes Júnior, dispensou uma funcionária de serviços gerais, e aciona com mais frequência a rede de amigos. Ele também não abre mão de negociar, e muito.

“Por exemplo, se preciso pintar uma parede, chamo o pintor e pergunto quanto custa. Vou negociando e pedindo que ele amplie o serviço, mas sem aumentar o preço. Tem também um ex-abrigado que sempre nos ajuda”, relata Hélio de Jesus.

Confira o telefone dos abrigos: Caminhos para Jesus (3408-3000); Casa Copacabana (3452-3823); Lar Batista (3879-0905); Casa Novella (3434-9390). Para colaborar com outras instituições, ligue no telefone 156 da PBH. A central direcionará a pessoa a uma das casas de passagem cadastradas

A estratégia de convocar voluntários também é adotada na Casa Novella, no Jardim Felicidade, região Norte da capital. O espaço recebe meninas de até 6 anos. A coordenadora Elma Garcia Lopes sempre elabora uma lista com os itens necessários e os mostra a voluntários. “Assim, eles trazem o que precisamos. Quando há a necessidade, por exemplo, de uma torneira, a pessoa já traz e instala”.

Antes da crise, o espaço recebia até R$ 2 mil por mês, mas, agora, as doações giram em torno de R$ 500. A casa utiliza um sistema de doações por meio de carnês. Além disso, a coordenadora tem buscado fundos de financiamentos para aliviar as contas. “Se não tentarmos recursos com outras fontes, não conseguimos fazer um trabalho de qualidade”, afirma Elma Lopes.

Além Disso

Conforme o Hoje em Dia mostrou recentemente, a Sociedade São Vicente de Paulo enfrenta grave situação financeira para manter os idosos que moram nos lares da capital e de mais nove cidades mineiras. Com um déficit nas contas, a instituição pede doações de fraldas geriátricas (tamanhos M, G e GG), colchões de solteiro tipo casca de ovo e/ou com capa de couro sintético (napa) e cadeiras de rodas e de banho.

Segundo o conselho metropolitano, cada idoso classificado como “grau 3” (acamado e totalmente dependente para os atos diários) custa, em média, R$ 3,1 mil por mês. Doações podem ser entregues na rua Pio XI, 696, no bairro Ipiranga, de segunda a sexta, de 8h às 17h. Informações pelo telefone (31) 3349-1700.Fernanda Carvalho / N/ARECREAÇÃO – Após o almoço, garoto brinca de desenhar na Casa Novella

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