(Dhiego Gusmão/Divulgação)
“Alalaô, ôôô, ôôô, mas que calor ôôô, ôôô...”. No Carnaval, difícil não soltar a voz ao ouvir uma marchinha. Difícil também escapar do calorão durante a folia. Pouca gente sabe, mas a combinação de clima quente e cantoria prolongada é danosa para a saúde vocal. Portanto, sobretudo aqueles que dependem da voz para trabalhar devem tomar alguns cuidados para não ficarem mudos quando tudo acabar, na quarta-feira de Cinzas.
A eliminação excessiva de água pelo corpo resseca as vias aéreas superiores e afeta as pregas vocais, causando, na melhor das hipóteses, rouquidão. Falar alto, muito, ou cantar sem parar, também. Não dar atenção a tosses e pigarros constantes é criar condições para o surgimento de problemas mais graves, como nódulos ou pólipos.
No primeiro caso, terapia resolve, segundo o fonoaudiólogo Dhiego Gusmão. No segundo, o paciente tem que enfrentar o risco da cirurgia, que pode resultar em dano permanente à voz.
Entre as dicas do especialista, proteger-se do calor forte e das variações bruscas de temperatura (do ar condicionado para o ambiente externo, por exemplo, por causa do excesso de dilatação e/ou retração das pregas vocais), beber muita água, dormir bem e evitar o cigarro.
Vassourinha
Tem mais: o consumo de bebidas cítricas ajuda a eliminar o muco da região, bem como o de maçã com casca. “Funciona como uma vassoura, limpando as pregas vocais”, diz Gusmão.
As técnicas são ensinadas em workshop para profissionais de diversas áreas, com direito à teatra-lização para diminuir a timidez e exercícios para destravar a língua. Quem pensou em algo do tipo “O peito do pé do Pedro é preto” está certíssimo.
Na próxima turma, um aluno ilustre, que já tomou consciência da necessidade de cuidar bem do novo instrumento de trabalho. Atualmente sem clube, o volante Gilberto Silva será comentarista esportivo durante a Copa do Mundo. Vai falar para o público britânico e não quer fazer feio.
“Gosto de estar bem preparado para qualquer desafio”, diz o craque, campeão do Mundo com a Seleção Brasileira em 2002. A preparação vocal servirá também para acalentar o sonho de se tornar cantor. O estúdio particular já está em construção. Até lá, cantoria só na roda de amigos. “A gente sempre junta, finge que canta e acaba se esforçando além do que pode. Quero evitar isso”.
Após susto e cirurgia, ator mineiro fica mais atento
Há 16 anos em cartaz com a peça “Acredite, um Espírito Baixou em Mim”, o ator Maurício Canguçu levou um susto no primeiro ano da temporada. “O sucesso foi grande, houve muitas apresentações e eu não estava preparado”, lembra. “Tive calo nas cordas vocais. Ou fazia seis meses de tratamento, sem poder trabalhar, ou apelava para a cirurgia. Fiz a cirurgia, fiquei só um mês parado e uma semana calado”, detalha.
Depois do susto, Canguçu passou a se cuidar: nada de ambientes enfumaçados. Intervalos para repousar a voz são rotina. “Vivo da minha voz. Não posso parar”.
O fonoaudiólogo Dhiego Gusmão dá uma dica importante para mulheres. Dar aulas ou palestras de salto alto não é bom. A força muscular necessária para ficar de pé deixa o diafragma rígido e exige mais força para soltar a voz.
Ponto a ponto
- Não respirar corretamente ao falar prejudica a saúde vocal.
- Forçar a voz em um grito também não é recomendado.
- Beber água é fundamental para hidratar as pregas vocais.
- Se a voz tornou-se rouca ou áspera, se há dor, irritação ou tensão ao falar, percebeu que é preciso se esforçar mais para ser ouvido ou pigarreia com frequência? Procure um médico.
- A voz e as alterações dela por vezes indicam que algo não está bem.
- Trava-línguas são ótimos exercícios para “desenrolar” a fala.
- Café quente não queima as pregas vocais. Isso é mito. O problema é a combinação da cafeína com o açúcar, que ajuda a reter muco na região, levando aos pigarros e à irritação.
- Informações sobre o workshop pelo telefone 3244-2398.